Dois anos após assumir a administração do Hospital Municipal e Maternidade Governador Mário Covas, em Hortolândia, a Unicamp encerrou seu trabalho no dia 31 de março deixando saldo positivo em todos os indicadores hospitalares, tanto quantitativos como qualitativos. A taxa de óbitos entre os pacientes internados diminuiu 50% em relação à gestão anterior, apesar do aumento de 33% nas internações e de 55% no pronto-socorro, enquanto que o nível de resolutividade dos casos de pronto-atendimento chegou a 99%, mesmo com significativo aumento na demanda.
Com capacidade para 65 leitos, o hospital registrou em 2007 ocupação média de 92%, embora a meta fixada fosse de 80%. “Estruturamos o hospital para que fosse capaz de atender em média 17 mil consultas mensais, além de realizar 406 internações e 300 cirurgias por mês no ano de 2007”, relata o professor da Faculdade de Ciências Médica (FCM), Edison Bueno, que administrou a unidade durante a gestão da Unicamp. Em 2005, antes de a Unicamp assumir a administração, eram feitas 9.500 consultas por mês e aproximadamente 300 internações. A taxa de infecção hospitalar, cuja meta estabelecida era um patamar de menos de 5% (como na maioria dos hospitais da região), se reduziu a 0,1%.
Um dos dados mais significativos refere-se às cirurgias agendadas. A fila de espera, que em dezembro de 2005 chegava a 400 pacientes, foi zerada já em 2006. Com isso, Hortolândia tornou-se o primeiro município, entre os 42 da Divisão Regional de Saúde (DRS-7), a alcançar esta marca. “A atuação da Unicamp no Hospital Mário Covas e a expansão de sua taxa de ocupação facilitaram em larga medida a estruturação do atendimento hospitalar na região metropolitana de Campinas, o que pode ser verificado nos dados da Central de Regulação de Vagas na região da DRS-7”, diz Bueno.
“Até mesmo o tempo de espera para atendimento no Pronto Socorro chegou a ser bastante reduzido, fruto do redimensionamento e da capacitação das equipes médica e de enfermagem, além da seleção de pessoal qualificado com remuneração adequada”, destaca Bueno. “Isso representou também uma forma eficiente de enfrentar o problema da falta de médicos para atuar nas unidades de urgência na região”.
A estruturação da assistência hospitalar neonatal e de urgência promovida pela Unicamp também contribuiu de modo expressivo para a queda da mortalidade infantil registrada no município em 2006, ano em que a Universidade assumiu a direção do hospital. Naquele período, segundo estudo a ser apresentado por Bueno no Congresso Mundial de Epidemiologia, houve diminuição de 43% com relação ao ano anterior, chegando a 6,6 óbitos por mil nascidos vivos, contra a marca 13,3 por mil registrada em todo o estado de São Paulo no mesmo período. De acordo com o médico, esse resultado foi determinado principalmente pelo componente neonatal, este com decréscimo de 62% (de 9,37 para 3,50 por mil nascidos vivos).
A mortalidade neonatal reflete as condições de gravidez, parto e assistência perinatal, além de doenças congênitas e genéticas, apresentando queda mais lenta e difícil, mesmo nos países desenvolvidos. Sua diminuição depende não só da assistência básica à gestante como também da estruturação da atenção médico hospitalar com vários níveis de complexidade, o que a torna mais onerosa e exigente. Ao analisar os serviços de saúde do município e seus indicadores de qualidade, o estudo mostra que em 2006 houve melhoria discreta desses indicadores no que se refere à atenção básica, mas melhora expressiva no único hospital do município, desde janeiro de 2006 sob gestão da Unicamp. “Um exemplo disso é a taxa de cesáreas, que se reduziu a 28%, menor que média da região”, destaca.
A prefeitura de Hortolândia repassava à Unicamp R$ 1,3 milhão por mês, valor considerado insuficiente para manter o atendimento com a qualidade demonstrada nos indicadores alcançados. Segundo Bueno, para fazer face à demanda assistencial do município, uma série de medidas foram implementadas pela universidade, permitindo aumento no número de atendimentos. “Isso levou a uma elevação nos custos e à necessidade de repactuação do convênio com a prefeitura de Hortolândia”, explica.
De acordo com Bueno, como a prefeitura não aceitou a proposta de repactuação, não restou outra alternativa à Unicamp que não fosse a denúncia do convênio, o que ocorreu em outubro de 2006. A partir daí a Universidade deveria permanecer até 28 de março de 2007 à frente do hospital, conforme previsto no convênio. “Entretanto, em respeito ao interesse público e atendendo a apelos da comunidade de Hortolândia, a Unicamp estendeu sua gestão por mais alguns meses”, conclui Bueno.