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Pesquisa revela violência doméstica
contra homens com mais de 60 anos

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A antropóloga Amanda de Oliveira, autora do estudo: "As vítimas apresentam elevado grau de independência" (Foto: Antoninho Perri)Estudo desenvolvido no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), que teve como objeto as ocorrências registradas em duas delegacias de uma cidade do interior paulista, detectou uma forma de violência doméstica pouco conhecida: homens com 60 anos ou mais que sofreram algum tipo de agressão física ou ameaça. Em geral, explica a autora do trabalho, Amanda Marques de Oliveira, os estudos costumam afirmar que os casos mais comuns concentram-se na violência contra mulheres e crianças. “O que se percebe, no entanto, é que há uma complexidade maior nos casos de violência doméstica contra o idoso, nos quais não somente a mulher pode ser pensada como a vítima”, explica.

Estudo foi feito em delegacias de polícia

Orientada pela professora Guita Grin Debert, a antropóloga Amanda de Oliveira contou com o financiamento da Fapesp e centrou seu trabalho de mestrado nos depoimentos de policiais e nas ocorrências registradas na Delegacia da Mulher e em um Distrito Policial, nos anos de 2006 e 2004, respectivamente. Pelos registros, na Delegacia da Mulher, 4% das denúncias foram feitas por mulheres com 60 anos ou mais, enquanto no Distrito Policial, a porcentagem de ocorrências contra homens idosos foi de 3%. “Isto significa que o foco no idoso abre para o desafio de se investigar outras formas de violência, inclusive dentro da família”, esclarece.

O que também chama atenção no estudo é que em todos os casos de agressão física, tanto com vítimas homens como mulheres, o principal acusado é um familiar do idoso. Na Delegacia da Mulher a maioria dos indiciados é formada pelos companheiros das vítimas e no Distrito Policial os registros apontam para os filhos como principais agressores.

Ao contrário do que se imagina, nas duas delegacias investigadas, a maioria dos idosos que registraram a queixa estão na faixa etária entre 60 e 69 anos e se declararam aposentados. Por isso, eles possuem renda própria e, em alguns casos, são proprietários de bens imóveis. “As vítimas apresentam elevado grau de independência e são investidos em relações familiares, comunitárias e de trabalho que impedem que os consideremos indivíduos dependentes e frágeis”, pondera Amanda.

Outra vertente das análises feitas pela antropóloga é a representação que os policiais das duas delegacias estudadas faziam da violência contra o idoso. “Existe uma invisibilidade e uma feminização no imaginário dos policiais do que seja a violência doméstica. O velho passivo e sem vigor físico, presente nas falas das autoridades, não é aquele que registra a ocorrência”, explica Amanda.

Os dados mostraram que os homens com 60 anos ou mais utilizam o Distrito Policial para fazer suas queixas. Segundo a autora do trabalho, os agentes não concebiam os velhos registrando ocorrências, pois sempre se referiam às denúncias contra idosos registradas, apenas, na Delegacia da Mulher. Além disso, os policiais evocavam em suas declarações uma velhice sempre marcada pela dependência e pela fragilidade física, uma vez afirmarem que os idosos eram preferencialmente vítimas do crime de maus-tratos. Não foi esse, no entanto, o perfil de crime e de idoso e encontrado pela pesquisadora nos boletins de ocorrência registrados, estes especialmente referentes a lesões corporais e ameaças denunciadas por idosos autônomos e independentes. “Há uma desconexão entre a maneira como esses agentes vêem a violência contra os idosos e aquilo que os boletins de ocorrência mostram”, analisa.

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