Jornal da Unicamp 184 - 5 a 11 de agosto de 2002
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Livro disseca tabus da infertilidade masculina

Os urologistas Nelson Rodrigues Netto Júnior e Paulo Augusto Neves: avanços no combate à infertilidadeISABEL GARDENAL

O tratamento da infertilidade masculina era praticamente ignorado pelos homens. Este assunto nunca teve destaque por causa de um preconceito fundamentado na tese de que quem engravida é a mulher e que, portanto, se a gravidez não ocorre, nada mais comum que atribuir a ela esta responsabilidade. Certo? Errado. No livro Infertilidade Masculina, dos urologistas Paulo Augusto Neves e Nelson Rodrigues Netto Júnior, lançado recentemente no HC da Unicamp, este tema é discutido em detalhes. Inédito na América Latina, ele mostra os avanços no combate à infertilidade.

Define-se infertilidade como dificuldade ou impossibilidade de um casal que mantém relações sexuais regulares, em períodos corretos, depois de um ano, não conseguir ter filhos. “Estima-se que 40% dos casos de infertilidade sejam por causa masculina, 40% – feminina e 20% – resultem da associação das duas”, diz o urologista Nelson Rodrigues Netto Júnior, professor titular da disciplina de Urologia da Unicamp.

“Por questões culturais, em geral é a mulher quem busca investigar a infertilidade, sendo que, pela facilidade e pelo custo, justificaria iniciar a análise pelo homem, com o espermograma”, recomenda Rodrigues Netto.

Tratamentos viáveis – Uma alternativa de tratamento atual é a reprodução assistida, um conjunto de técnicas que envolvem procedimentos que ajudam casais a obter uma gravidez diante da falha dos métodos mais simples, como prescrição de hormônios e antibióticos. Esta modalidade defende que o índice de sucesso depende basicamente da idade da mulher: quanto mais jovem, maior a taxa de gravidez do casal.

A injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI), padrão-ouro, é aplicada dentro do óvulo. Com um único espermatozóide, é possível começar o processo de fecundação, com divisões celulares que culminam com a formação do embrião. É comum casais não conceberem devido a hábitos inadequados (relações fora de época, freqüência alterada ou ejaculação fora da vagina).

Quanto aos aspectos psicológicos, teoricamente não afetam a fertilidade, embora estudos revelem que o estresse prejudica a taxa de implantação na mulher. Profissões masculinas que representem alto risco de vida, também interferem na produção de espermatozóides.

O ambulatório de Infertilidade Masculina da Unicamp recebe uma média de 20 casos novos por semana. “Os pacientes que temos superam a demanda prevista, com agendamento suficiente para os próximos cinco anos”, conta o urologista da Unicamp Paulo Augusto Neves, responsável pelo ambulatório na área de Urologia.

Obra reúne especialistas

Além de discussões sobre anatomia, fisiologia, epidemiologia, diagnósticos e tratamento da infertilidade masculina, a obra inclui dados sobre os métodos de reprodução assistida, psicologia, ética, criopreservação de espermatozóides e genética da infertilidade masculina.

Infertilidade Masculina tem artigos assinados pelos principais especialistas brasileiros e capítulos escritos por pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido. Este tema começou a ser mais estudado em 1980, mas a grande revolução ocorreu a partir de 1992, com a invenção da ICSI.

As principais causas conhecidas de infertilidade masculina são a varicocele – varizes nos testículos; a infecção do sêmen; o uso de álcool, drogas e medicamentos; alterações hormonais e genéticas.