Livro disseca tabus da infertilidade masculina
ISABEL GARDENAL
O tratamento da infertilidade masculina era praticamente ignorado pelos homens. Este assunto nunca teve destaque por causa de um preconceito fundamentado na tese de que quem engravida é a mulher e que, portanto, se a gravidez não ocorre, nada mais comum que atribuir a ela esta responsabilidade. Certo? Errado. No livro Infertilidade Masculina, dos urologistas Paulo Augusto Neves e Nelson Rodrigues Netto Júnior, lançado recentemente no HC da Unicamp, este tema é discutido em detalhes. Inédito na América Latina, ele mostra os avanços no combate à infertilidade.
Define-se infertilidade como dificuldade ou impossibilidade de um casal que mantém relações sexuais regulares, em períodos corretos, depois de um ano, não conseguir ter filhos. “Estima-se que 40% dos casos de infertilidade sejam por causa masculina, 40% feminina e 20% resultem da associação das duas”, diz o urologista Nelson Rodrigues Netto Júnior, professor titular da disciplina de Urologia da Unicamp.
“Por questões culturais, em geral é a mulher quem busca investigar a infertilidade, sendo que, pela facilidade e pelo custo, justificaria iniciar a análise pelo homem, com o espermograma”, recomenda Rodrigues Netto.
Tratamentos viáveis Uma alternativa de tratamento atual é a reprodução assistida, um conjunto de técnicas que envolvem procedimentos que ajudam casais a obter uma gravidez diante da falha dos métodos mais simples, como prescrição de hormônios e antibióticos. Esta modalidade defende que o índice de sucesso depende basicamente da idade da mulher: quanto mais jovem, maior a taxa de gravidez do casal.
A injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI), padrão-ouro, é aplicada dentro do óvulo. Com um único espermatozóide, é possível começar o processo de fecundação, com divisões celulares que culminam com a formação do embrião. É comum casais não conceberem devido a hábitos inadequados (relações fora de época, freqüência alterada ou ejaculação fora da vagina).
Quanto aos aspectos psicológicos, teoricamente não afetam a fertilidade, embora estudos revelem que o estresse prejudica a taxa de implantação na mulher. Profissões masculinas que representem alto risco de vida, também interferem na produção de espermatozóides.
O ambulatório de Infertilidade Masculina da Unicamp recebe uma média de 20 casos novos por semana. “Os pacientes que temos superam a demanda prevista, com agendamento suficiente para os próximos cinco anos”, conta o urologista da Unicamp Paulo Augusto Neves, responsável pelo ambulatório na área de Urologia.
Obra reúne especialistas
Além de discussões sobre anatomia, fisiologia, epidemiologia, diagnósticos e tratamento da infertilidade masculina, a obra inclui dados sobre os métodos de reprodução assistida, psicologia, ética, criopreservação de espermatozóides e genética da infertilidade masculina.
Infertilidade Masculina tem artigos assinados pelos principais especialistas brasileiros e capítulos escritos por pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido. Este tema começou a ser mais estudado em 1980, mas a grande revolução ocorreu a partir de 1992, com a invenção da ICSI.
As principais causas conhecidas de infertilidade masculina são a varicocele varizes nos testículos; a infecção do sêmen; o uso de álcool, drogas e medicamentos; alterações hormonais e genéticas.
|