Jornal da Unicamp 185 - 12 a 18 de agosto de 2002
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Livrando a criança de um estigma

Pesquisa de mestrado sobre epilepsia ajuda a derrubar a falsa imagem incapacitante em torno do paciente

ISABEL GARDENAL

A epilepsia, apesar de ser o distúrbio de maior incidência no cérebro, ainda hoje carrega muitos estigmas e preconceitos. Não se trata de uma única doença ou síndrome, mas de um grupo de males que têm como conseqüência comum crises epilépticas recorrentes, sem um fator externo desencadeante, acometendo tanto a população adulta quanto a infantil. No caso de crianças, a epilepsia implica muitas limitações na vida. Contudo, o melhor conhecimento de suas causas vem dando força a uma visão atualizada que colabora para derrubar falsos conceitos que reforçam a imagem incapacitante da criança.

Na opinião da psicóloga Catarina Abraão Guimarães, o tratamento farmacológico, um alternativa provável, não beneficia parte da população pediátrica. "Uma parte é favorecida pelo tratamento cirúrgico, que vem controlando as crises epilépticas com menor seqüela neurológica. Certos tipos de cirurgia para epilepsia na infância obtêm resultados positivos em torno de 70% a 100% dos casos", afirma.

Avaliar, em curto prazo, os efeitos da cirurgia para epilepsia quanto aos aspectos neuropsicológicos e de qualidade de vida foi a finalidade central da dissertação de mestrado "Avaliação neuropsicológica e de qualidade de vida em crianças submetidas à cirurgia para epilepsia", recentemente apresentada por Catarina Abraão Guimarães junto à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

A implantação do Serviço de Cirurgia para Epilepsia na Infância do HC da Unicamp em 1998, lembra a pesquisadora, fez surgir a necessidade de estudar estes dois aspectos – neuropsicológicos e de qualidade de vida, cuja soma auxilia na decisão se a cirurgia é a melhor indicação. Catarina salienta que, anteriormente, as pessoas se preocupavam apenas em controlar as crises epilépticas, sem levar em conta as questões psicológicas e sociais.

Prioridade – Passado algum tempo, tal ordem foi alterada. Atualmente, a melhora da qualidade de vida é tida como prioridade, avaliando-se a influência da epilepsia no cotidiano da criança e da sua família: atenção, linguagem, inteligência e memória. Esta avaliação apóia as conclusões médicas na localização e lateralização da lesão (se está localizada no hemisfério direito ou esquerdo do cérebro). Além do déficit funcional, verifica-se seu efeito no desenvolvimento, para posterior comparação com os resultados pós-cirúrgicos.

Resultados – Nove crianças foram estudadas, entre sete e 30 dias antes da cirurgia e seis meses após o procedimento. Não se observaram mudanças no QI após a cirurgia e ocorreram avanços no nível da qualidade de vida quanto aos aspectos sociais, ambientais, efeitos colaterais de medicação e percepção do controle de crise. "Se os medicamentos não resolverem, a cirurgia precoce, com diagnóstico correto, trará maiores chances de recuperação psicológica e social da criança", sugere Catarina.