Jornal da Unicamp 185 - 12 a 18 de agosto de 2002
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O professor Daniel Wisnivesky mostra os equipamentos do LIITS: investimento de R$ 2,3 milhões
Novo laboratório
cria tecnologia
de ponta
em tratamento
de metais


Projeto no Instituto de Física pode revolucionar processo de fabricação em segmento automotivo

LUIZ SUGIMOTO

O estudo e a aplicação de novas tecnologias para melhorar o desempenho e as características das superfícies dos metais – durabilidade, menor atrito, resistência a corrosão, resistência a impactos – são universalmente utilizados. O Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp acaba de inaugurar, neste no dia 9 de agosto, o Laboratório de Implantação Iônica e Tratamento de Superfícies (LIITS), onde se desenvolve uma tecnologia de ponta e com equipamentos no estado da arte, construídos inteiramente pela indústria nacional.

“A primeira fase do projeto, já cumprida e em operação, era a construção de uma planta de implantação iônica por plasma. Nesta segunda fase estamos aplicando a tecnologia para estudo de desempenho dos componentes de caixas de transmissão para veículos”, informa o professor Daniel Wisnivesky, que coordena os trabalhos juntamente com Fernando Alvarez, também professor do IFGW.

O projeto conta com financiamento de aproximadamente R$ 1 milhão da Fapesp, e com mais R$ 1,3 milhão investidos pela empresa Eaton, fornecedora de componentes de caixas de transmissão para grandes montadoras do país. “O interesse da fábrica está em verificar se essa tecnologia é aplicável em seus componentes, visto que apresenta vantagens muito interessantes para o processo de fabricação: é um método limpo, não contaminante, econômico, moderno (totalmente controlado por computador) e perfeitamente reproduzível”, explica Wisnivesky.

Uma menor deformação das peças – evitando que sejam refeitas, diminuindo o número de operações – estará entre outros resultados positivos do processo, em caso de utilização pela Eaton. O professor do IFGW ressalta, contudo, que a tecnologia se aplica a qualquer metal cuja superfície necessite ser adequada, como ferramentas de corte, facas, bisturis, estampas, engrenagens, matrizes etc.

A técnica – Daniel Wisnivesky procura ser didático ao descrever a planta construída no laboratório, a começar por um forno sob vácuo e uma campana superior constituídos de material refratário capaz de suportar temperaturas de até 700 graus centígrados. Em seu interior são dispostas as peças de metal, sobre uma superfície isolada eletricamente. No interior do forno se admite uma mistura de diversos gases com vazão controlada. Uma fonte de 60 kW de potência e até 1000 V gera pulsos breves que bombardeiam a superfície dos metais com íons de nitrogênio. Os íons implantados e difundidos termicamente são incorporados à estrutura dos metais, alterando diversas das suas propriedades, tais como dureza, resistência ao impacto, atrito e corrosão, em função dos diversos parâmetros controlados do processo: composição e pressão dos gases, duração e freqüência dos pulsos, intensidade de corrente, etc.

“Existem equipamentos similares no mundo, mas a aplicação que estamos pesquisando é absolutamente inédita. Se esta tecnologia se mostrar viável será uma revolução no processo de fabricação desses componentes, pois vamos introduzir uma metodologia muito mais adequada, econômica e bem menos complexa”, afirma o pesquisador.

Wisnivesky lembra que, embora o projeto financiado pela Fapesp seja levado em parceria com a Eaton, o Laboratório de Implantação Iônica e Tratamento de Superfícies está aberto para qualquer outro laboratório da Unicamp, bem como para a formação de alunos, doutorados, mestrados e inclusive para outras indústrias.