Jornal da Unicamp 185 - 12 a 18 de agosto de 2002
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Maria Cândida, professora de matemática: "99% dos softwares educacionais são descartáveis"Matemática
com software
em lugar da lousa

RAQUEL DO CARMO SANTOS

Desde os anos 90, quando surgiu como ferramenta pedagógica em sala de aula, o software educacional luta por maior espaço maior frente o giz e o quadro negro. Até que ponto, no entanto, os produtos desenvolvidos estão cumprindo esse papel pedagógico? E, enquanto "recomendáveis" tecnicamente, como o usuário avaliaria o seu desempenho na relação ensino-aprendizagem? Em busca das respostas, a professora de matemática Maria Cândida Muller valeu-se de sua experiência em uma escola da rede pública estadual para elaborar a tese de doutorado "Análise do processo pedagógico de uso de um software", defendida na Faculdade de Educação (FE).

Durante algumas semanas, 38 alunos de terceiro ano do ensino médio freqüentaram o Laboratório de Educação e Informática Aplicada (LEIA) da FE, desenvolvendo exercícios de números complexos com o software Designer’s Workbench (DWB). "Embora tenha sido criado para elaboração de desenhos de precisão matemática e não para utilização como ferramenta pedagógica, o software possibilitou resultados extremamente positivos", explica Maria Cândida.

Com base na Teoria da Atividade criada pelo teórico russo Leontiev, a professora acabou propondo uma dinâmica de avaliação do processo de uso de softwares educacionais. Ela relata que o DWB foi descoberto por sua orientadora, a professora da FE Afira Ripper, em contado com o idealizador do software Cláudio Mamana, professor do Instituto de Física da USP.

Maria Candida iniciou sua pesquisa em outubro de 2000. "Foi importante procurarmos um software que estivesse de acordo com os princípios preconizados pelo Laboratório", ressalta, por entender que 99% dos softwares educacionais existentes no mercado são perfeitamente descartáveis. A pesquisadora informa que tais programas são baseados em perguntas e respostas e não dão oportunidade ao aluno de "construir o conhecimento" em geral recorrem ao aprendizado por repetição.

O LEIA, de acordo com a professora, trabalha com softwares que possibilitam ao professor atuar como mediador dentro da sala de aula. "São poucos, mas os mais adequados, pois o professor dá a dinâmica e propõe as atividades que devem ser desenvolvidas. Este fator traz para o aluno um ambiente propício para usar a criatividade. São detalhes importantes na hora de escolher o software", observa Maria Cândida. Para ela, o processo de escolha é tão importante como a adoção do livro didático. "É necessário olhar, analisar e ter o máximo de cuidado", compara.

Avaliação - Entre outras observações, a pesquisadora percebeu que os alunos de ensino médio que passaram pela experiência aprovaram a adoção de recursos que iam além dos tradicionais. "Eles se sentiram motivados a aprender", afirma. Quando indagados sobre a adaptação ao novo sistema de aprendizagem, a única dificuldade apresentada foi com relação ao conteúdo matemático propriamente dito e não quanto ao software utilizado.

Um aspecto interessante observado pela professora foi o ambiente de cooperação entre os grupos. O nível de concentração em torno das atividades também constituiu um aspecto positivo. "O software conseguiu prender a atenção dos estudantes", diz Maria Cândida, acrescentando o fato de que os computadores em uso possuíam acesso à Internet e que nem assim os alunos se interessaram em trocar os exercícios matemáticos pela navegação na Web.

A avaliação do software se deu por meio de depoimentos dos alunos. Maria Cândida ressalta que, provavelmente, esta foi uma das primeiras experiências em que o próprio usuário – no caso, os alunos – apresentou elementos para a avaliação do produto.