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Cortando caminho
para o controle da hiperatividade
Pesquisadora reduz etapas e custos para a produção de medicamento
MANUEL ALVES FILHO
A química Anna Maria Alves de Piloto Fernandes desenvolveu uma nova rota para sintetizar o metilfenidato, substância utilizada no tratamento do “Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade”, ou simplesmente hiperatividade, doença que acomete entre 3% e 5% das crianças em idade escolar, segundo as estatísticas mundiais. Em sua tese de doutorado, intitulada “Estudos visando a síntese de alguns compostos neuroativos”, apresentada em março no Instituto de Química da Unicamp, a pesquisadora conseguiu reduzir de seis para apenas três etapas o processo de obtenção da droga, com maior rendimento e sem perda de qualidade. O trabalho abre perspectiva para que a produção do metilfenidato em escala industrial seja simplificada, o que proporcionaria redução de custos.
De acordo com Anna Maria, o metilfenidato foi sintetizado pela primeira vez há cerca de 50 anos. No final da década de 50, a droga passou a ser utilizada no tratamento da hiperatividade. Na época em que iniciou seu doutoramento, a metodologia sintética não havia sofrido praticamente nenhuma mudança, segundo dados registrados na literatura.
O trabalho desenvolvido pela pesquisadora, porém, estabeleceu um novo caminho para se chegar à substância. Utilizando reações químicas já conhecidas, ela conseguiu reduzir pela metade o número de etapas usadas no processo convencional. Mais: o rendimento global (resultado entre a quantidade de material de partida e o produto final) atingiu o índice de 44%, contra os 10% alcançados anteriormente. Tudo isso sem perda de qualidade. “As metodologias de purificação são praticamente as mesmas”, assegura.
Anna Maria conta que a Unicamp já protocolou o pedido de patente do novo método. A sua utilização em escala industrial dependerá do interesse das indústrias farmacêuticas. Ela acredita, porém, que a iniciativa privada não deverá desconsiderar um processo que proporciona queda nos custos de produção. A química explica que começou a trabalhar com a síntese do metilfenidato em 97. Entre fevereiro e setembro de 98, ela chegou ao resultado descrito na tese. “De lá para cá, porém, outras pessoas se dedicaram a essa área de estudo e conseguiram chegar a metodologias até mais simples do que a minha, mas que surgiram depois”, diz.
‘Criança-problema’ O metilfeni-dato, que recebe o nome comercial de Ritalina, é um estimulante que age diretamente no sistema nervoso central, de uma forma bastante parecida com a da cocaína. A propriedade estimulante está situada entre a cafeína e a anfetamina. Entretanto, não é uma substância que cause dependência química e nem efeito eufórico nas crianças sob tratamento. Empregado nas doses certas e com orientação médica, a droga combate os sintomas da hiperatividade, tais como desatenção e impulsividade. Devido às características do metilfenidato, estudos ainda em andamento propõem o seu uso no tratamento de usuários de cocaína.
As vítimas da hiperatividade normalmente têm a auto-estima baixa, por serem consideradas “crianças-problema”. Por causa de seu compor-tamento, elas normalmente são criticadas por colegas e professores. Isso causa um estresse familiar, pois os pais normalmente sofrem pelo desconforto criado por seus filhos em reuniões sociais. “Além disso, estudos internacionais demonstram que as crianças que não se tratam correm maior risco de desenvolver dependência de drogas como o álcool, a maconha e a cocaína na adolescência e idade adulta”, esclarece Anna Maria, cuja tese de doutorado contou com bolsa do CNPQ e financiamento da Fapesp. O orientador foi o professor Luiz Carlos Dias.
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