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A nova abordagem clínica
para distúrbios da apnéia
Pesquisadora apresenta estudo que contribui para diminuir controvérsias no diagnóstico e tratamento da doença
RAQUEL DO CARMO SANTOS
A primeira manifestação é um barulho incômodo para quem está dormindo ao lado. Além do ronco, surgem outros sintomas que podem evoluir até uma parada da respiração que dura segundos; depois são duas, dez, podendo chegar a mais de 30 paradas por hora de sono. É um quadro característico da Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono, mal presente em aproximadamente 40% da população. Os sintomas mais freqüentes são: ronco, sono não repousante, sonolência diurna excessiva, diminuição da memória e dificuldades de concentração.
Tanto o diagnóstico como o tratamento adequado da apnéia têm gerado muitas controvérsias entre os especialistas. Certas alternativas de tratamento não apresentam resposta satisfatória e em alguns casos a doença pode agravar-se. Ana Célia Faria, cirurgiã bucomaxilofacial, valeu-se de sua experiência de 12 anos na área para oferecer sua contribuição no planejamento do tratamento, aplicando o estudo cefalométrico como complementação dos exames para detecção.
A médica explica que vários fatores que podem levar à obstrução das vias aéreas superiores, como peso, altura, idade, sexo, anatomia esquelética e dos tecidos moles. Daí, muitas vezes, a dificuldade na indicação da melhor terapia. "Nos casos considerados mais leves, algumas mudanças comportamentais bastam para minimizar o problema. Em outros, porém, é necessária a intervenção cirúrgica", afirma.
Ana Célia realizou uma pesquisa com 46 pacientes do sexo masculino, colhendo os subsídios para sua dissertação de mestrado "Estudo cefalométrico em pacientes com distúrbios ventilatórios obstrutivos do sono", apresentada em fevereiro junto à Faculdade de Ciências Médicas e orientada pelo médico otorrinolaringologista Jorge Rizzato Paschoal.
A cefalometria consiste em uma telerradiografia de perfil, com a sobreposição de uma folha de papel acetato em que se copiam as estruturas anatômicas e traça-se um desenho anatomo-radiográfico com pontos, linhas, planos, ângulos e medidas cefalométricas. Esse tipo de estudo já é tradicionalmente utilizado na odontologia para planejar a colocação de aparelhos ortodônticos. Por ser um método simples, permite estudar o posicionamento das partes ósseas (maxila, mandíbula e osso hióide) e de tecidos moles (palato mole, raiz lingual e parede posterior da faringe) que possam estar contribuindo para a obstrução das vias aéreas superiores. "Considerando tais medidas em conjunto com os outros exames obrigatórios, como a polissonografia e a nasofibroscopia, é possível planejar um tratamento efetivo", destaca.
Depressão Segundo a pesquisadora, os pacientes acometidos pela apnéia obstrutiva mostram acentuada queda em sua qualidade de vida. "Elas apresentam deficiências na atenção, motivação e memória, que podem evoluir para depressão". As repercussões sistêmicas das apnéias favorecem também os riscos de hipertensão arterial, arritmia cardíaca, hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais.
A cirurgiã, em sua pesquisa, reforça a importância de se realizar uma abordagem multidisciplinar do paciente. Ela informa que a Unicamp já vem desenvolvendo esta experiência, reunindo especialistas das áreas de otorrinolaringologia, neurologia, fonoaudiologia e odontologia. "O grupo realiza reuniões periódicas para se traçar o diagnóstico e o tratamento adequado aos pacientes que procuram o ambulatório", explica.
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