Estudo vai ser apresentado no Congresso
Pré-Olímpico que vai ser realizado em cidade grega
Teste avalia atletas com necessidades especiais
MANUEL ALVES FILHO
Estudo desenvolvido por Leonardo Maturana, aluno de doutorado da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, será apresentado no Congresso Pré-Olímpico, que ocorre entre os dias 2 e 12 de agosto na cidade de Thesaloniki, na Grécia. Maturana, que é treinador da Seleção Brasileira Paraolímpica de Judô, desenvolveu um teste para avaliar a potência anaeróbica e a capacidade cardiorrespiratória de atletas com necessidades especiais. No caso, os judocas paraolímpicos apresentam cegueira ou visão subnormal. De acordo com o orientador do doutorando, professor José Júlio Gavião de Almeida, trata-se do único trabalho no gênero inscrito no evento, que reunirá cerca de 1,5 mil pesquisas de todo o mundo.
Batizado de “Special Judô Fitness Test”, o teste concebido por Maturana é o resultado da adaptação de um outro, desenvolvido em 1998 por um pesquisador polonês de sobrenome Stercowicz. Ele consiste em colocar dois judocas (ukes) de massa corporal e estatura similares às do executante a seis metros de distância um do outro. O executante, por sua vez, posiciona-se entre ambos. A partir de um comando sonoro, o executante corre em direção ao primeiro uke e, valendo-se de um golpe denominado ippon-seoi-nage, projeta-o ao chão. Em seguida, corre em direção ao segundo uke e aplica o mesmo movimento. Toda a ação deve ser repetida por 15 segundos.
Após esse tempo, o executante volta à posição inicial, tendo um período de recuperação de 10 segundos. Posteriormente, é iniciada uma série idêntica à anterior, mas com duração de 30 segundos. Mais uma vez, ocorre uma pausa de 10 segundos na posição inicial, para em seguida ter início a terceira e última etapa de atividade, que novamente durará 30 segundos. A freqüência cardíaca é registrada ao final do teste e após um minuto de recuperação. A amostragem, conforme o professor Gavião, foi constituída por sete homens e quatro mulheres. Como o teste era destinado a pessoas cegas ou com visão subnormal, foi preciso promover algumas mudanças para facilitar a movimentação dos atletas.
Assim, conta Maturana, a lateral da pista de deslocamento foi adaptada por meio da inversão dos tatames. O doutorando também usou um guia para orientar os judocas. Como os ukes eram videntes, eles auxiliavam os executantes emitindo sinais sonoros. “Testamos diversos tipos de ‘chamadores’ e chegamos a um que utiliza palmas. Foram mais de 30 tentativas até que chegamos à versão final, que foi enviada para o Congresso Pré-Olímpico”, explica. Embora destaque a importância e validade do teste criado pelo seu aluno de doutorado, o professor Gavião considera que futuramente será necessário desenvolver um outro modelo para testar a capacidade anaeróbica e cardiorrespiratória dos judocas paraolímpicos.
Ele lembra que, por serem cegos ou apresentarem visão reduzida, esses atletas não se deslocam em direção ao oponente, como ocorre na modalidade convencional. Na disputa entre portadores de necessidades especiais, a luta começa a partir do contato entre ambos e após o comando de voz ou tátil do árbitro. “No mais, as regras e procedimentos são iguais ao do judô para videntes”, afirma o docente da FEF. A Paraolimpíada, a exemplo dos Jogos Olímpicos, acontece a cada quatro anos. Trata-se do segundo maior evento esportivo do mundo. Na edição de 2000, em Sydney, o Brasil conquistou a 24ª posição e participou em nove modalidades. Os atletas brasileiros trouxeram 22 medalhas (6 ouro, 10 prata e 6 bronze).
Em Atenas, o país será representado por 99 atletas, em 13 modalidades. Ao todo, participarão 4 mil atletas de 143 países. Estima-se que mais de 3 mil profissionais de mídia estarão cobrindo o evento. “Um dado importante, que vale a pena destacar, é que a delegação brasileira que participará dos Jogos Paraolímpicos terá entre seus integrantes 11 pessoas que têm ou tiveram vínculo com a Unicamp. Eles estarão representando o país como dirigentes, treinadores, auxiliares técnicos e árbitros. Isso demonstra que o trabalho da FEF, que tem um departamento voltado à pesquisa do esporte adaptado, tem surtido excelentes resultados”, analisa o professor Gavião, que estará na Grécia como coordenador da modalidade goalball.