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Material, já testado com sucesso em
laboratório, pode ser aplicado em embalagens de alimentos

Tecnologia transforma
PET reciclado em adesivo


MANUEL ALVES FILHO



A pesquisadora Rosemary de Assis: amostras têm adesividade maior do que a do produto convencional (Foto: Antoninho Perri)Pesquisa conduzida no Instituto de Química (IQ) da Unicamp abre nova perspectiva para a utilização do PET (politereftalato de etileno) reciclado. Em sua dissertação de mestrado, Rosemary de Assis desenvolveu um adesivo poliuretânico a partir do material, para ser aplicado na colagem das diferentes camadas de filmes que compõem as embalagens flexíveis, empregadas para acondicionar alimentos como batata frita e salgadinhos. O resultado dos testes feitos em laboratório foi bastante promissor, conforme a pesquisadora. “Ao comparar o adesivo com um similar comercial, foi possível constatar que ambos possuem características de aplicação e mecânicas muito próximas. Além disso, entre os adesivos obtidos, três amostras apresentaram uma adesividade maior do que a do produto convencional”, afirma a autora do trabalho. A tecnologia já está sendo objeto de um pedido de patente.

Reciclagem reduz os custos com matéria-prima

De acordo com Rosemary, o reaproveitamento de materiais descartáveis tem sido uma tendência crescente em todo o mundo, tanto por exigência econômica, quanto ambiental. Em relação ao PET, predomina no Brasil a reciclagem mecânica. Por meio desse processo, as garrafas de refrigerantes e congêneres são reprocessadas e transformadas em fibras, cordas e outras embalagens, que não para alimentos. A reciclagem química, objeto da sua pesquisa, ainda é pouco praticada no país. A pesquisadora diz ter conhecimento de apenas um estudo acadêmico brasileiro envolvendo o uso de PET para a produção de adesivo. Este, porém, tinha em sua composição final somente 10% da referida matéria-prima, contra 33% do produto desenvolvido na Unicamp.

A autora da dissertação explica que, embora o adesivo formulado por ela seja mais indicado para colar as camadas das embalagens flexíveis, nada impede que algumas das suas características sejam alteradas, para que possa ter outras aplicações. “Feito isso, o produto também pode ser usado para colar couro, papel e outras embalagens”, diz Rosemary. A pesquisadora espera que o seu estudo ajude a estimular a reciclagem no Brasil. De acordo com ela, o PET chegou ao país em 1994. O consumo do material, àquela época, era de 80 mil toneladas ao ano. Em 2002, esse mercado cresceu para aproximadamente 305 mil toneladas/ano. Entre um período e outro, o índice de reciclagem saltou de 17% para 35%. “Trata-se de uma taxa significativa, mas que ainda pode ser melhorada”, analisa.

Rosemary lembra que a reciclagem do PET reduz os custos com matéria-prima, minimiza a agressão ao ambiente e ainda gera emprego e renda para famílias carentes. Estima-se que a cadeia que envolve o reaproveitamento de materiais no Brasil seja responsável, direta ou indiretamente, por cerca de 500 mil postos de trabalho. “Atualmente, o PET só fica atrás das latinhas de alumínio em termos de reciclagem, sendo que 80% do material vem dos aterros sanitários e lixões espalhados pelo país”, afirma a autora da dissertação. Ela considera que é perfeitamente viável a abertura do leque de possibilidades de reaproveitamento do politereftalato de etileno, de modo a ampliar os ganhos econômicos, ambientais e sociais.

Para alcançar esse estágio, porém, Rosemary acredita que haverá a necessidade de medidas complementares, como o aprimoramento da coleta seletiva, a realização de campanhas educativas junto à população e até mesmo a formulação de leis que obriguem as empresas a se responsabilizarem pela reciclagem das embalagens que fabricam, como já ocorre em alguns países desenvolvidos. Até aqui, no Brasil, tal medida só se aplica aos pneus. A dissertação de mestrado de Rosemary de Assis foi orientada pela professora Maria Isabel Felisberti, do IQ.

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