Fórum debate interdisciplinaridade na área da Saúde
RAQUEL DO CARMO SANTOS
A produção do conhecimento em saúde, por suas próprias características, tem sido bastante beneficiada com a interação entre as disciplinas. Na Unicamp, a questão é cada vez mais evidente. Para mostrar algumas experiências bem-sucedidas, a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e a Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) organizaram para o próximo dia 19, o seminário “Metodologia Interdisciplinar de Pesquisa Aplicada à Produção de Conhecimento em Saúde”. Em entrevista ao Jornal da Unicamp, o diretor associado da FCM, José Antonio Rocha Gontijo fala sobre o evento que reunirá especialistas da área médica e odontológica, dentro da programação dos “Fóruns Permanentes” iniciativa conjunta da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e Coordenaria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori).
Jornal da Unicamp Atualmente muito se tem discutido a questão da interdisciplinaridade em ciências humanas. Por que a idéia de se abordar o tema na área de saúde?
José Antonio Rocha Gontijo A expansão do conhecimento e, em particular, a pesquisa e formação na área da saúde têm sido acompanhadas por uma clara indefinição de limites entre as distintas áreas do saber, mostrando atualmente uma íntima intersecção de conteúdos, práticas e metodologias. A produção de conhecimento em Saúde, por suas próprias características, seja na sua vertente básica ou aplicada talvez tenha sido a mais beneficiada com esta enorme interação. Assim, em face desta relação multidisciplinar foram incorporadas à pesquisa médica complexidades que tornaram impossível a pesquisadores desta área analisar e estabelecer protocolos e desenhos experimentais sem o auxílio de pesquisadores de outros campos de atuação. Sem a apropriação deste conhecimento é possível que o desenvolvimento científico em ciências da saúde não tivesse avançado tanto.
Jornal da Unicamp Esta interação tem a ver com os novos desafios impostos pela bioengenharia ou engenharia genética?
Gontijo Esta interação interdisciplinar na área da saúde não é recente embora atualmente ela tenha estado muito mais intensa. Descobertas em física (radioatividade, eletromagnetismo, RX, ressonância magnética), em engenharia de materiais (próteses), em arquitetura (novas técnicas de construção e dimensionamento de ambientes), química fina (síntese de produtos e novos materiais, farmacoquímica, fitoquímica), matemática (estudos populacionais, epidemiológicos e estatísticos) e abordagens e conhecimentos das ciências sociais têm contribuído efetivamente para a evolução do conhecimento básico ou aplicado principalmente nas áreas médica e odontológica.
JU Então, entende-se que os estudos nestas áreas têm a ver com o estágio alcançado com a interdisciplinaridade?
Gontijo A pesquisa interdisciplinar integra o conhecimento e os aspectos metodológicos e analíticos consolidados de duas ou mais disciplinas com o objetivo de propor soluções para um problema médico ou biológico. Neste sentido, não há qualquer dúvida que o desenvolvimento biotecnológico é um reflexo desta interação disciplinar. Por exemplo, em outras áreas que infelizmente não serão abordadas neste Fórum, cientistas neuro-comportamentais, biologistas moleculares e matemáticos devem compartilhar suas ferramentas metodológicas e tecnologias para destrinchar intrincados e complexos problemas de saúde, tais como a fisiopatogênia da dor e da obesidade. Por este engajamento de disciplinas não-relacionadas, gaps tradicionais relacionados à terminologia e aspectos metodológicos serão gradualmente eliminados.
JU E quanto ao futuro da Pós-Graduação em Ciências da Saúde, o senhor tem alguma previsão?
Gontijo Há uma clara disposição dos Comitês de Medicina da Capes de estimular a implementação de Programas de Pós-graduação stricto sensu interdisciplinares, ou como são chamados grandes “guarda-chuvas” com três aspectos fundamentais: a vinculação dos docentes em linhas de pesquisa comuns, o estímulo à implementação de disciplinas de caráter metodológico e a valorização do binômio aluno-orientador. Neste sentido, os programas de pós-graduação em Medicina deverão se constituir em núcleos de difusão de idéias e integração de pesquisa de forma abrangente e interinstitucional, implementando e discutindo questões fundamentais e estratégicas no campo das ciências da saúde através de parcerias científicas. Esta preocupação com a interdisciplinaridade em medicina é básica e fundamental para estabelecer um claro limite entre os cursos lato sensu ou de especialização daqueles direcionados à formação de docentes-pesquisadores.
JU Quais temas serão abordados no Fórum e como foram priorizados os assuntos?
Gontijo O Fórum da próxima quinta-feira oferecerá um pequeno exemplo, mas efetivo, face às limitações de tempo que teremos e ao grande número de parcerias que ocorrem na Unicamp, de interação produtiva de experiências e compartilhamento de conhecimento. Não existem áreas do conhecimento hoje em saúde vinculadas a aplicação ou geração de conhecimento novo que prescinda desta interação. O que será apresentado reflete o que tem ocorrido em várias outras instituições brasileiras e estrangeiras com grupos consolidados de pesquisa. Assim, como exemplo, procuramos mostrar os resultados e experiências de interação científica de grupos em cinco áreas específicas tais como Matemática e Estatística, Física, Ciências Humanas, Química e Biologia Celular e a grande contribuição destas para o desenvolvimento comum e a construção de novos paradigmas científicos.