Rumo ao ouro,
com ciência e tecnologia
Nada como as Olimpíadas para vangloriar o aprendizado da cinemática e da dinâmica nos temidos cursos de Física. Basta uma emocionante corrida de 100 metros rasos para finalmente entender a utilidade do estudo do movimento retilíneo uniformemente acelerado. Ou os incontáveis saltos vistos nas modalidades de saltos ornamentais, ginástica olímpica, e hipismo, por exemplo, para agradecer aos céus por ter aprendido a decompor movimentos! De fato, o conhecimento profundo da mecânica fundamental pode ajudar os ginastas no desenvolvimento de rotinas mais complexas na busca de uma nota 10. Modalidades como a ginástica rítmica, ginástica artística, nado sincronizado e saltos ornamentais usam e abusam de saltos, giros e piruetas, com as restrições impostas pelo momento angular. Modelos computacionais do movimento do corpo humano, baseados nas equações de movimento e conservação de momento angular têm sido utilizados como auxiliares no treinamento. Essas simulações podem ajudar a identificar movimentos relativamente simples que levam saltos mais ricos e complexos. Apesar de todos conclamarem o lema que “o importante é competir”, ninguém vai à Olimpíada para perder. Em todas as modalidades se observam avanços ano após ano, decorrentes de melhorias nas dietas, treinamentos, exercícios musculares, fisiologia, e outros avanços acessórios na vida dos atletas. Apesar disso, os progressos nas performances alcançadas são muito lentos, e acredita-se até que em algumas modalidades já se atingiu o limite físico e fisiológico. Nessas modalidades em particular, como as corridas e a natação, alguns centésimos ou milésimos de segundo podem fazer a diferença entre a medalha de ouro e a de prata. É claro que sempre que são utilizados acessórios, como varas, raquetes, calçados, velas, remos, etc., buscam-se melhorias constantes nos materiais e no design desses acessórios, para alcançar marcas melhores. Com isso, melhorias discretas, mas significativas, vão sendo alcançadas.
Um exemplo interessante é a corrida de cem metros rasos, onde os tempos foram continuamente decrescendo ao longo do século, com taxas de melhorias de até 0,015 segundos por ano no início do século XX, mas que agora estão na ordem de 0,006 segundos por ano, ou até menos, mostrando que o limite físico está sendo atingido. Certamente muita coisa mudou em um século, incluindo melhores cronometragens, apoios para a largada, tênis, alimentação e treino dos corredores, só para citar alguns exemplos. Mas neste caso, curiosamente, não há nenhum momento na história que indique uma melhoria significativa no desempenho dos atletas, sendo uma corrida essencialmente dominada pela habilidade do ser humano em vencer seus próprios limites.
O mesmo já não se aplica no caso da natação ou do ciclismo, que nos últimos anos têm se beneficiado de incríveis melhorias tecnológicas desenvolvidas a partir de pesquisas altamente sofisticadas. Na olimpíada de Sidney em 2000 alguns nadadores começaram a utilizar um traje que cobria todo o corpo, para reduzir o atrito do corpo com a água. Apesar de esse atrito superficial ser relativamente pequeno em comparação com as demais forças contrárias ao movimento do nadador na água, ele pode provocar atrasos de alguns centésimos de segundos, cruciais para uma medalha ou recorde. Algumas fábricas de roupa esportiva desenvolveram esses trajes com pequenas ranhuras que imitam os dentículos dérmicos dos tubarões, que são como minúsculas nadadeiras microscópicas. Essas ranhuras criam vórtices microscópicos na água perto do nadador, dificultando o fluxo de água ao longo do corpo, e, portanto, reduzindo o atrito. Essas roupas também evoluíram. Por exemplo, a fabricante inglesa Speedo investiu anos em pesquisas para notar que na realidade a textura da pele do tubarão muda conforme a região do corpo para poder acoplar o fluxo de água às diferentes formas de sua anatomia. Essa melhoria foi implementada, e já está presente na roupa denominada FastSkinII, e inclusive varia conforme o sexo do nadador e a modalidade de nado escolhida. Para desenvolver esse produto e com isso conseguir reduzir em torno de 4% o atrito superficial, a fabricante utilizou modernas técnicas de dinâmica de fluidos computacional, e inúmeros testes com nadadores profissionais. O nadador americano Michael Phelps usou a roupa FSII nas Olimpíadas de Atenas. Se ele tivesse conseguido a façanha de obter sete medalhas de ouro, além das medalhas ele teria levado um bônus de um milhão de dólares da companhia inglesa. Será que foi por isso que ele ficou tão chateado em não conseguir o feito?
Além da ciência básica, necessária para compreender alguns lances e características dos esportes, a tecnologia está cada vez mais presente em todas as modalidades esportivas. Citamos aqui alguns exemplos, mas infelizmente a ciência e a tecnologia não aprimoram somente aspectos positivos. O desenvolvimento de novas drogas, difíceis de detectar em exames antidopping, levam muitos atletas, treinadores e dirigentes ávidos pelo sucesso a buscar essas soluções antiesportivas. De qualquer modo, o uso da tecnologia no esporte, em suas diversas variações, deve sempre ser limitada por regras estritas, para garantir que a competição permaneça sempre justa.