No topo do ranking per
capita, produção científica da Unicamp pode crescer mais
Os pesquisadores brasileiros produziram, de janeiro a dezembro de 2004, um total de 14.920 artigos científicos indexados internacionalmente. Esse número representa um crescimento de 15% em relação ao ano anterior. A marca alcançada coloca o país na 17ª posição do ranking mundial, à frente de Taiwan, Polônia, Bélgica e Israel, segundo o Institute for Scientific Information (ISI), principal indexador de publicações científicas no mundo.
Com 1.870 trabalhos científicos publicados em 2004 em revistas científicas indexadas, a Unicamp é a universidade brasileira com melhor desempenho per capita no índice do ISI. Manter a evolução desse desempenho depende diretamente do aumento da capacidade de captação de recursos para novos projetos. Segundo explica o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, professor Daniel Pereira, este é um dos grandes desafios da Unicamp para os próximos anos.
DANIEL PEREIRA
A produção científica, cultural e artística da Unicamp tem demonstrado enorme vitalidade ao longo das últimas três décadas. Os veículos de divulgação são os mais variados e típicos das quatro grandes áreas do saber, passando pela publicação de livros, capítulos de livros, artigos em periódicos científicos nacionais e internacionais, participação em conferências e eventos artísticos etc.
Respeitando-se as especificidades de cada área, que privilegia certos veículos de divulgação em detrimento de outros, podemos considerar que parte consistente da produção científica gerada na Unicamp está associada a artigos publicados em revistas internacionais indexadas no ISI Institute for Scientific Information. Este é um banco de dados que indexa milhares de periódicos associados a todas as áreas do saber. O reconhecimento internacional de se usar indicadores desse banco de dados para avaliar a quantidade e qualidade da produção científica mundial faz dele a mais importante e utilizada ferramenta para definições de políticas de ação em ciência e tecnologia por governos e agências de fomento no mundo todo.
O crescimento da produção científica brasileira em revistas indexadas no ISI tem sido notável (gráfico 1), com uma importante contribuição da Unicamp nesse contexto. De fato a Unicamp é responsável por 11% da produção científica nacional, ficando abaixo apenas da USP, que responde por 26%, e acima da produção da UFRJ, que é da ordem de 9%. Não é por acaso que estas instituições são consideradas, por distintos critérios de natureza acadêmica, como as mais importantes universidades brasileiras. O trabalho mais importante e atual nesse sentido aparece no endereço http://www.webometrics.info, que apresenta um ranking sobre as melhores universidades do mundo. Os indicadores e a metodologia da pesquisa são ali encontrados e o resultado coloca a USP como a universidade brasileira melhor colocada (posição nº 112), seguida pela Unicamp (posição nº 146) e pela UFRJ (posição nº 405).
Um aspecto importante a se considerar nessa análise é o tamanho das instituições. Se utilizarmos o número de docentes atuando em pesquisa na USP, na Unicamp e na UFRJ para obtermos o número de artigos em revistas indexadas no ISI por docente, poderemos reconhecer a posição de liderança da Unicamp (ver gráfico na capa desta edição).
“A produção científica em revistas
indexadas contempla a contribuição
de todas as unidades de ensino e
pesquisa da Unicamp”
Os motivos para o crescimento da produção científica no Brasil e na Unicamp são diversos, alguns comuns ao conjunto das instituições, outros peculiares a cada instituição. Os fatores mais importantes, em qualquer caso, têm a ver com a qualidade e a dedicação dos pesquisadores, potenciadas pelo crescimento contínuo, quantitativo e qualitativo, do sistema nacional de pós-graduação e pelos investimentos em ciência e tecnologia realizados nas últimas três décadas. Nesse sentido, destaca-se a importância da Capes e do CNPq (sobretudo no que se refere a recursos humanos) e da Fapesp para os expressivos resultados que ostenta o Estado de São Paulo.
No caso específico da Unicamp, podemos considerar que o Projeto Qualidade (desenvolvido a partir da década de 90), os relatórios periódicos de avaliação de desempenho docente, rigorosos e seletivos processos de contratação e promoção de docentes também contribuem para o crescimento da produção científica na Unicamp.
Outro aspecto relevante é que a produção científica em revistas indexadas no ISI contempla a contribuição de todas as unidades de ensino e pesquisa da Unicamp. Assim, todas as áreas do saber estão representadas. Uma constatação muito positiva é que, se analisarmos as cinco unidades da Unicamp com maior produção científica por docente nos últimos cinco anos, vamos encontrar unidades das quatro grandes áreas do saber. Destaca-se neste contexto o aparecimento do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) em duas oportunidades (em 2000 e 2002) e da Faculdade de Educação Física (FEF) em 2004.
Ao lado da produção científica da Unicamp, coloca-se a capacidade de formação de recursos humanos na pós-graduação nos diversos programas de mestrado e doutorado. Na avaliação da Capes referente ao período 2001-2003 os programas de pós-graduação da Unicamp alcançaram a maior média, com conceito 5,18. Em segundo lugar ficaram os programas da UFRGS, com conceito médio 4,85, seguidos dos programas da UFMG e da UFRJ, com conceito 4,82, e da USP, com conceito 4,39. Este indicador se relaciona ao que eu chamaria de círculo virtuoso: por ser reconhecida como uma universidade de excelência, a Unicamp atrai estudantes de alta qualidade que, aqui ingressando, oferecem a sua contribuição na pós-graduação, que por sua vez faz com que a produção científica aumente e melhore.
Conseqüência natural deste circulo virtuoso é a evolução ascendente da quantidade de teses e dissertações defendidas. O número de teses de doutorado, que em 1994 estava em 314, evoluiu para 732 em 2004. Já as dissertações de mestrado saltaram de 605 para 1.182 no mesmo período. É evidente que este crescimento na formação de novos mestres e doutores acaba repercutindo na produção científica.
“Hoje são mais de 400 os trabalhos científicos
produzidos por pesquisadores da Unicamp
que possuem mais de 20 citações”
Tão importante quanto o crescimento da produção científica é seu aumento de qualidade. Ambas as coisas também podem ser aferidas por indicadores quantitativos. Talvez o mais importante e universalmente aceito para indicar a qualidade e o impacto da produção científica seja o número de citações que os trabalhos publicados recebem na literatura científica internacional. Dados apresentados em recente publicação da Fapesp (Indicadores de CT&I2004) demonstram o crescimento do impacto da produção científica brasileira ao longo da ultima década.
Com relação à produção científica da Unicamp, isto também se verifica. Em setembro de 1999 o jornal Folha de São Paulo trouxe interessante matéria revelando os pesquisadores brasileiros das áreas de física, química, matemática e bioquímica cujos trabalhos haviam merecido mais de 200 citações. Constatou-se que eram da Unicamp vários dos pesquisadores mais citados.
Consulta recente a um novo banco de dados internacional sobre produção científica (http://www.scopus.com) mostra que são mais de 400 os trabalhos produzidos por pesquisadores da Unicamp que possuem mais de 20 citações. Estes dados sugerem que a qualidade e o impacto da produção científica da Unicamp ocupam ótimo patamar.
Além das citações, a qualidade das revistas onde se publicam os trabalhos também é um indicador da qualidade e do impacto da produção científica. Os trabalhos dos pesquisadores da Unicamp têm sido publicados nas mais destacadas revistas internacionais em cada área do conhecimento.
Por fim, cabe ressaltar que outra forma de reconhecimento da qualidade de trabalhos científicos está em seu destaque na literatura e nos meios de difusão da ciência. Não tem sido raro, nos últimos anos, que trabalhos científicos realizados na Unicamp sejam capa de prestigiosas revistas científicas.
“Os maiores desafios são ampliar e homogeneizar
a capacidade de financiamento com maiores investimentos
na infra-estrutura associada à pesquisa.”
Com relação ao impacto social associado à produção científica, este pode ser aferido de diversas maneiras. Antes de apontar algumas, é importante entender que os principais objetivos e responsabilidade da universidade são o de geração do conhecimento e a formação de recurso humanos nos níveis de graduação e pós-graduação. A transformação do conhecimento em bem-estar social, desenvolvimento econômico e tecnológico, normalmente associado aos processos de inovação, não é responsabilidade precípua da universidade. Não obstante, a Unicamp sempre teve a preocupação de que suas atividades de pesquisas tenham impacto social.
Essa postura deu origem, por exemplo, a um projeto pioneiro como a Agência de Inovação (Inova). Primeira no gênero do meio acadêmico brasileiro, a Inova já licenciou 23 patentes de inventos desenvolvidos por pesquisadores da instituição. Além disso a Unicamp é responsável por mais de 400 convênios e contratos com o setor produtivo público e privado, muitos deles com empresas originadas do empreendedorismo de ex-alunos e de docentes as chamadas “filhas da Unicamp”, que hoje são mais de 90. Isto sem mencionar o impacto social associado à produção científica e a atividades de assistência realizadas pela área de Saúde da instituição.
O cenário, portanto, é de se reconhecer a vitalidade da produção científica da Unicamp no cenário nacional e internacional. Como sabemos, às vezes mais difícil do que estar entre os melhores é entre eles permanecer . Neste sentido existem alguns desafios para que o crescimento da produção científica da Unicamp continue a seguir aquele da produção nacional.
Aqui cabe abordar a questão do financiamento à pesquisa . É inegável a importância que o financiamento à pesquisa tem na produção científica. O gráfico 3 mostra que o financiamento à pesquisa da Unicamp não tem acompanhado a tendência de crescimento da produção científica. Considerando o impacto que a Fapesp tem no financiamento total da Unicamp, é importante notar a mesma tendência de estabilidade do financiamento à pesquisa que ali se verifica. Levando em conta este gráfico e a distribuição do financiamento à pesquisa entre as diversas unidades (tabela 1), considero que os maiores desafios são ampliar e homogeneizar a capacidade de financiamento obtida pelos pesquisadores com maiores investimentos na infra-estrutura associada à pesquisa.
Isto se daria através de ações e iniciativas individuais e institucionais. A Reitoria da Unicamp e a Pró-Reitoria de Pesquisa vão atuar institucionalmente junto aos órgãos e agências de fomento à pesquisa para ampliar essas fontes de financiamento. Neste sentido, tivemos recentemente um primeiro contato com o diretor científico da Fapesp, o ex-reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, solicitando que fosse considerada a retomada do conceito e as sistemáticas originais das concessões das reservas técnicas associadas aos projetos de pesquisa. Discutiu-se na ocasião a importância de se lançar novo edital para o Programa de Infra-estrutura à Pesquisa. Novas gestões nesse sentido deverão ser feitas junto à diretoria científica e ao Conselho Superior da Fapesp.
Por outro lado, será importante que um número maior de pesquisadores e grupos de pesquisa da Unicamp submetam projetos no contexto do programa de Temáticos da Fapesp, não só pela importância estratégica desse programa como também por seus critérios altamente qualitativos e pelos inúmeros benefícios a ele associados.
Para estimular os pesquisadores da Unicamp na busca por esta forma de financiamento, a Pró-Reitoria, através do Faepex, pretende abrir um novo programa de apoio para os pesquisadores que encaminharem projetos temáticos à Fapesp. Pelo programa, projetos enviados nos próximos seis meses poderão pleitear até R$ 40 mil junto ao Faepex. Esse montante seria disponibilizado apenas para projetos que envolvam pesquisadores de mais de uma unidade. Caso o trabalho envolva uma única unidade, o montante será de R$ 30 mil. Esta é uma política nova que está associada ao estímulo para projetos multidisciplinares.
A análise dos pedidos será feita no começo de 2006. Os projetos aprovados poderão contar com R$ 20 mil já no início do programa o restante será disponibilizado a partir do momento em que o projeto for autorizado pela Fapesp. A PRP também vai tornar automática a liberação de R$ 4 mil por ano para cada pesquisador associado a projetos temáticos. Os professores terão flexibilidade total na utilização dos recursos dentro das rubricas tradicionalmente apoiadas.
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Daniel Pereira, ex-diretor do Instituto de Física,
é pró-reitor de Pesquisa da Unicamp desde abril de 2005
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