Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 299 - 29 de agosto a 4 de setembro de 2005
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Linha de pesquisa sobre interações plantas-animais
adota escalada de árvore para observação da natureza


Pesquisadora usa até rapel
para chegar a polinizadores


JEVERSON BARBIERI


(Foto: Divulgação)Uma nova metodologia de trabalho denominada “pesquisa vertical” é a mais recente ferramenta utilizada por Márcia A. Rocca, aluna de doutorado do Departamento de Botânica, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, no seu trabalho de tese. Escalando árvores com material e técnica de rapel, Márcia explica que é possível fazer observações e realizar manipulações no topo das árvores, explorando de forma eficiente uma das interações planta-animal, que é a polinização de plantas pelos mais variados tipos de polinizadores, como por exemplo, insetos, aves e morcegos.

Nem sempre o que a flor oferece é alimento

Para a professora Marlies Sazima, orientadora de Márcia, o objetivo é conhecer os tipos de polinizadores, e como a planta forma frutos e sementes e dá continuidade à estrutura que existe em uma comunidade. “Se você tem uma idéia de como é a biologia das flores e quais são os polinizadores de uma comunidade, você tem uma idéia melhor de como ela funciona. Além disso, é possível saber como as plantas se reproduzem, como são produzidas as sementes e qual o ciclo envolvido. Essa é a base de uma boa parte do conhecimento sobre o funcionamento das espécies e da comunidade”, afirma Marlies.

A professora Marlies Sazima e Márcia A. Rocca, autora da tese: funcionamento das espécies e da comunidade (Foto: Antoninho Perri)A professora, que atua na linha de pesquisa sobre biologia da polinização na Unicamp desde 1971, esclarece que o trabalho mostra quais são as características mais importantes que as plantas apresentam em relação ao seu principal polinizador e que tipos de recursos a flor oferece. Para Marlies, nem sempre o que a flor oferece é alimento. Segundo ela, para o beija-flor e a borboleta, o alimento é o néctar. Para uma abelha, além do néctar, o pólen é também alimento. Alguns grupos de abelhas utilizam resina como material de construção de ninhos. Outros usam óleo para criação de larvas. Algumas abelhas dormem nas flores e, dessa maneira, acabam agindo como polinizadores. “Há uma série de recursos que as flores oferecem, que nem sempre são alimentos para aquele polinizador que vem à flor. Ele busca alimento para si, para sua cria, para a construção do ninho e até mesmo para atração sexual, uma vez que existem machos que atraem as fêmeas com certo tipo de perfume que é retirado das flores. Existem, portanto, vários tipos de atrações e interações possíveis”, esclarece a orientadora.

Para Márcia, como se trata de uma interação é possível saber a importância desses visitantes para as plantas e a importância das plantas para esses animais. Havendo a retirada de uma espécie de planta do local, é possível prever o impacto que isso pode causar na comunidade. É um estudo básico que fornece informações importantes. Marlies lembra, inclusive, que alguns polinizadores são indispensáveis para plantas de importância econômica. “O mesmo tipo de abelha que é polinizador de espécies da mata pode ser importante polinizador de culturas como o maracujá e o algodão. Manter a mata é vital para que os polinizadores tenham onde morar. Vários tipos de abelhas necessitam de locais específicos para viver e que somente ocorrem na mata. É preciso considerar também que, além das abelhas, existem outros tipos de polinizadores”, diz.

A diminuição de polinizadores pode configurar um ambiente ecologicamente desequilibrado, segundo a pesquisadora. Na Mata de Santa Genebra, em Campinas (SP), foi feito um estudo de uma família de plantas, nos anos 1980, tendo abelhas como polinizadores principais. Dez anos depois o estudo se repetiu e foi verificado que as espécies de abelhas continuavam lá, mas a abundância dessas abelhas diminuiu. “A Mata de Santa Genebra é rodeada por plantações e residências, portanto, é um dos melhores locais para se testar esse tipo de interferência. A aplicação de inseticidas nas plantações pode ser um dos principais motivos dessa redução, uma vez que os insetos são extremamente susceptíveis”, ressalta Marlies.

O trabalho de doutorado de Márcia é um estudo sobre recursos que as flores oferecem para visitantes, aves em geral e principalmente beija-flores. O trabalho de campo foi feito no Vale do Ribeira em uma área de reserva protegida pelo Instituto Florestal, no sul do Estado de São Paulo. Ao longo de dois anos e meio foi estudado como se dá esse processo, quais as espécies que estão em flor e sendo visitadas por essas aves. Ela está agora na fase de análise dos dados. Alguns deles foram apresentados através de painéis em congressos e dão conta de que existem muito mais espécies de flores dentro da mata do que no topo. Segundo Márcia, existem algumas espécies que só podem ser observadas com a técnica da escalada. “Era o tipo de dado que era esperado, só que não havia confirmação. Pude observar um número grande de espécies que são visitadas por essas aves”, comenta.

A aluna revela também que beija-flores, além de visitarem e polinizarem flores, às vezes visitam sem polinizar, atuando como ladrões de néctar. “O bom do meu trabalho é que não fui atrás apenas das flores que são polinizadas. Pesquisei todas as flores que fornecem alimento para eles e aí se tem um conjunto muito grande de espécies. No meu trabalho eu não veria 10% dessas interações sem escalar. Essa técnica de escalada é praticamente uma novidade no Brasil e só vem a acrescentar”, comemora.

Com base nesses trabalhos, Márcia foi convidada a apresentar seus resultados em um simpósio em Leipzig, na Alemanha, em julho passado, e também em um congresso de botânica em Viena, na Áustria, além de outro sobre ecologia em Uberlândia, Minas Gerais.

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Foto: Antoninho PerriFoto: Neldo CantantiFoto: Antoninho PerriFoto: Gustavo Miranda/Agência O GloboFoto: Antoninho Perri