O engenheiro agrônomo Gilmar da Silva provou, com números, que a utilização da água de chuva não somente oferece redução nos custos das contas, como também constitui uma importante alternativa para economizá-la em escolas, hotéis ou fábricas. O pesquisador tomou como estudo de caso uma fábrica de mancais da região de Araras e uma escola pública de Limeira. Para fundamentar sua pesquisa, o engenheiro recorreu à média histórica de chuva de dez anos e às condições de captação das águas, relacionando-as com o preço do metro cúbico. A economia na conta de água da escola, em um ano, foi de R$ 559,00, enquanto na empresa o valor foi significativamente maior R$ 2.320,00, no mesmo período.
Silva descreve sua metodologia e os resultados em sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). A pesquisa foi orientada pelo professor José Euclides Stipp Paterniani. Seu objetivo foi mostrar que é possível usar alternativas para minimizar o problema. “Hoje é de vital importância buscar formas que levem ao racionamento de água potável, e uma dessas alternativas é fazer uso da água de chuva disponível na natureza para ganhos ambientais das futuras gerações. É possível usar a água de chuva para descargas, lavagem de pisos e irrigação de plantas, entre outras finalidades”, defende.
O engenheiro fez a coleta de água na fábrica de mancais em quatro pontos distintos telhado, calha, cisterna e cisterna filtrada para a análise dos aspectos físico-químicos e bacteriológicos. Silva reconhece que ocorreram algumas contaminações bacteriológicas, mas nada que influenciasse de forma negativa na proposta de uso e em áreas de produção da empresa. A empresa, ao utilizar a água armazenada na cisterna, teve um custo anual de R$ 4.918,00; quando usou somente a rede pública, apresentou um gasto anual de R$ 7.238,00.
O fato de não existir uma portaria ou resolução que discorra sobre o aproveitamento da água de chuva dificultou, em certa medida, o trabalho do pesquisador. “Adotei para comparação dos resultados qualitativos as Resoluções 274 e 357 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), e ainda a Portaria 518 do Ministério da Saúde para água potável. Por isso, a dificuldade em atender todas as exigências existentes. O país carece de uma resolução que contemple estes aspectos”, esclarece Silva.
Segundo o engenheiro, não se pode utilizar no estudo uma única resolução ou portaria específica para comparar os resultados, uma vez que são vários os quesitos envolvidos na aferição da qualidade da água. Por isso, a necessidade de usar um conjunto de legislações para a melhor compreensão dos resultados bacteriológicos. De acordo com a Resolução Conama 274, a existência de coliformes termotolerantes foi considerada favorável e demonstrou compatibilidade com as instalações da fábrica, não comprometendo os usuários ou colaboradores ao utilizá-la. Esses aspectos, explica Silva, evidenciam a necessidade de resoluções que definam os parâmetros de aproveitamento da água de chuva. “Para uma melhor eficiência do sistema é importante contemplar um método de desinfecção da água de chuva após o bombeamento da cisterna”, observa.
No caso da escola, mesmo com uma cisterna de dez mil litros, a economia foi bem menor. O motivo, no entanto, poderia ser a circulação de pessoas, que é maior, aliada à área de captação no telhado, que é menor. Ainda assim, a economia de mais de R$ 500 anuais poderia ser usada em reformas ou em compra de equipamentos. O custo médio anual da escola é de R$ 61.577,00, sem o aproveitamento da água de chuva.
O benefício maior, insiste Silva, seria na economia de água da rede pública, que sai dos rios para atividades em que não haveria necessidade de uma substância potável. “Á água é barata e acredito que isso consiste em um aspecto que estimule o desperdício. Por isso, as alternativas poderiam otimizar o uso para determinados fins”, conclui.