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Jornal da Unicamp - Dezembro de 2000

Página 4

SERVIÇO

Agentes da transformação

Aprovado projeto que vai mudar vida de moradores de região carente

Um projeto destinado a transformar radicalmente as condições de vida em uma das regiões mais carentes de Campinas foi aprovado recentemente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapes). O programa tem à frente o Instituto de Pesquisas Especiais para a Sociedade (Ipes), organização não-governamental (ONG) composta basicamente por pesquisadores da Unicamp e de outras instituições paulistas (USP, Instituto Butantan, Unesp, Ital etc.). O Ipes firmou convênio recentemente com a Unicamp para atuar em cinco bairros da região do São Marcos: São Marcos, Santa Mônica, Campineiro, Recanto Fortuna e Campo dos Amarais.

O convênio assinado há poucos meses por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) já teve como desdobramento o encontro "Comunidade Saudável", realizado nos dias 27 e 28 de outubro, no Centro de Convenções, reunindo especialistas e autoridades no assunto. O encontro visou exatamente a busca de parcerias para este trabalho no São Marcos, além da troca de experiências com cidades brasileiras como Pedreira e Caarapó (MS). Nesses dois municípios existem projetos que formam agentes comunitários, como propõem o Ipes e a Unicamp. "A formação de agentes em Caarapó mudou a saúde na cidade. Conseguimos combater doenças como a verminose e controlar o diabetes e a pressão alta. Hoje a população sabe a quem recorrer quando está doente", relatou o prefeito Guaracy Boschilia.

"A universidade está aberta para a sociedade e quer continuar participando efetivamente de iniciativas como esta na região do São Marcos", disse o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Roberto Teixeira Mendes, durante o evento. Na ocasião, ele ressaltou também a importância do trabalho extra-muros como forma de levar saber e conhecimento à comunidade.

O convênio com o Ipes, segundo Teixeira Mendes, é uma clara demonstração da vontade política da Universidade para sua inserção cada vez maior na sociedade. De acordo com ele, o encontro superou as expectativas, principalmente pela participação de entidades que já atuam na região do São Marcos. São sete ONGs, filiadas à Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (Feac), trabalhando no complexo, onde vivem mais de 30 mil pessoas, sendo 50% delas carentes. A Feac manifestou no encontro sua intenção de ser uma das parceiras do Ipes e da Unicamp.

Etapas do projeto – A primeira etapa do projeto prevê a formação de dez agentes comunitários, a serem escolhidos na região do São Marcos, e envolve verba inicial de R$ 30 mil. Em uma segunda etapa, os recursos poderão chegar a R$ 200 mil, como informou o presidente do Ipes e professor aposentado na Unicamp Humberto de Araújo Rangel. Na terceira é última etapa, os aportes seriam geridos pelas próprias entidades e comunidades. "A parceria com a Unicamp e a aprovação da Fapesp são importantes para mostrar que o projeto é viável e sadio do ponto de vista científico", disse Rangel.

Para o curso de formação de agentes comunitários será usada a estrutura da Escola de Extensão (Extecamp) e dos próprios equipamentos existentes nos bairros. Serão criados núcleos de trabalho e pesquisa para atuar nas áreas de educação, saúde e cultura. O curso incluirá embasamento teórico e prático e um treinamento em serviço, orientado por membros dos núcleos de trabalho e pesquisa, a ser composto por docentes, pesquisadores e alunos.

Segundo o presidente do Ipes, a formação dos agentes levará seis meses. Eles receberão noções de ética nas relações humanas e de diretos humanos, uso de computadores para inclusão de informações em bancos de dados e de equipamento de vídeo para documentação e apresentação de programas educativos para a comunidade.

Uma vez formados, os agentes multiplicarão as ações nas áreas de saúde, educação e cultura. Caso mais parceiros encampem o projeto, Teixeira Mendes aponta que poderá ser ampliado o número de agentes. "Temos condições físicas para abrigar mais pessoas, mas faltam recursos financeiros", argumentou.

União de esforços, alias, é tudo o que Ipes e Unicamp desejam no projeto que vem se desenhando para a região do Jardim São Marcos. Com o mesmo objetivo de transformar aquela área em uma Comunidade Saudável, já vêm atuando no local outras entidades, como o Grupo Primavera, o Centro Vedruna e o Espaço Esperança, esta última mantida pela Secretaria de Assistência Social de Campinas. Até uma ONG do Rio de Janeiro, o Comitê para Democratização da Informática (CDI), integra o grupo.

O Grupo Primavera vem realizando na área, há anos, um trabalho de educação voltado a meninas até a fase da adolescência. O Espaço Esperança atua em programas educativos com vários cursos. Há aproximadamente um ano foi iniciado um curso de informática, em parceria com o Ipes, que equipou uma sala com cinco computadores e indica voluntários para dar as aulas. Uma recente parceria envolvendo Centro Vedruna, Grupo Primavera e CDI vai permitir ampliar o número de micros para 30, o que exigirá um maior número de voluntários. "Precisamos de pessoas dispostas a dar aulas de informática", afirmou Rangel. Já o Centro Vedruna faz um trabalho assistencial no Jardim Santa Mônica, recebendo adolescentes de ambos os sexos, com ênfase para os esportes e o reforço escolar no sentido de evitar que as crianças fiquem nas ruas.

Otimizando recursos - A proposta do Ipes prevê mais do que simplesmente formar agentes comunitários e introduzir adolescentes e jovens no campo da informática. A entidade quer obter informações sobre a comunidade e otimizar recursos humanos e materiais. "Vamos levantar o perfil completo dos moradores e as características dos bairros", afirma Rangel. Entre as ações na área de saúde estão as de apoiar e acompanhar gestantes, dar atenção total a crianças desnutridas, mobilizar famílias para a vacinação, prevenir a desidratação e ensinar as mães a identificar doenças como a diarréia, infecção respiratória, uso correto de medicamentos e encaminhamento rápido, quando necessário, de doentes aos postos de saúde ou hospitais.

No âmbito da educação, o projeto estimulará a presença de todas as crianças nas escolas, a formação de creches comunitárias com a co-participação das mães, aprendizado profissionalizante, formação de grupos de leitura e discussão, além de debates coletivos sobre problemas de saúde, ensino e cultura. A produção de eventos voltados para a expressão de identidades culturais, hábitos de tolerância e de respeito às diferenças de valores, crenças e sentimentos e gostos, são as propostas na área de cultura.

ERRATA

A respeito da reportagem publicada no edição 156 do Jornal da Unicamp, Hilary Menezes, diretora associada da FEA, faz algumas retificações referentes ao texto "A FEA no primeiro S.O.S. Fome". Esclarece que o Projeto Social da FEA iniciou-se com um recrutamento de voluntários para um trabalho na Escola "31 de Março", no Jardim Santa Mônica, em parceria com o projeto Brasil 500 anos da Rede Globo. O grupo se formou em 1998, com alunos do 1º ao 4º anos, muitos dos quais não se envolveram com o primeiro trote social, do qual a Faculdade foi vencedora. Desta maneira, o trote foi apenas um início de trabalho voltado a uma preocupação social dentro da faculdade, e não o início efetivo deste grupo de trabalho.

Estavam incorretas algumas informações sobre o ISA, que não é coordenada por professores da FEA: embora dois deles sejam diretores da instituição, outros docentes ali atuam orientando trabalhos. Dois trabalhos envolvem os professores e também o Projeto Social: o "ISA Qualidade", que objetiva o aprimoramento da recepção e manipulação dos hortifrutícolas para melhorar sua qualidade; o "ISA Curso", dirigido a cozinheiras de entidades assistidas, transmitindo-se conceitos de nutrição e saúde, higiene e manipulação, e desperdício e reaproveitamento. Os alunos não fazem a separação e a doação dos alimentos. O ISA possui estrutura própria, envolvendo vários funcionários,, inclusive reeducandos.

Os alimentos recebidos provêm de doações dos permissionários da Ceasa, sendo que alguns – e não todos, como constou na reportagem- destes alimentos estão sem condições de comercialização. Os permissionários doam alimentos em muito boas condições. Além disso, o volume de doações citado está absolutamente negligenciado. É mil vezes maior: 5 mil toneladas anuais.

A diretora associada da FEA observa ainda que Estatuto do bom Samaritano" não é de autoria da engenheira de alimentos Ana Luiza. Outro aspecto é que a apresentação de Ana é fruto do trabalho de um grupo de alunos e de um professor da Faculdade. Helary informa que projeto no Parque Oziel envolve uma equipe multidisciplinar atuando em vários setores, e é coordenado pelo Hospital Boldrini e Preac-Unicamp. A FEA, através de alguns professores e alunos, participa deste projeto, colaborando no planejamento de uma cozinha semi-profissionalizante.

Para participar basta entrar em contato com o Ipes: ipes@cosmo.com.br
www.unicamp.br/preac/ipes/index.html


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