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Economia O desempenho econômico do Brasil nunca esteve tão ruim como neste final de século. Isso pode ser sentido no vasto contingente de pessoas desempregadas espalhadas por todo o país, constituindo um dos mais altos e preocupantes índices de todo os tempos. Mesmo que a economia cresça 4% ano, como quer o governo, estima-se que o índice de desemprego vai atingir um universo de 8,3 milhões de pessoas no ano 2000. A previsão é do professor Márcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho (Cesit), do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, que divulgou em dezembro o estudo "A Epidemia do Desemprego no Brasil". Ele afirmou ainda que "o desemprego vem para ficar, por que não há condições de o Brasil crescer 4% ou 5% ao ano, que seria índice satisfatório num país como o nosso. Viveríamos, além disso, a pressão demográfica sobre o mercado de trabalho até 2010". Apesar da situação nada animadora, ele acredita que "as taxas de desemprego sejam levemente reduzidas neste segundo semestre". Pochmann explicou que para que o desemprego fique estacionado na taxa nacional atual apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD-IBGE), estimada em 9,8% da população economicamente ativa, a economia deveria crescer pelo menos 5,5%. Isso porque, além do desafio de dar conta do atual estoque de desempregados, o País recebe todos os anos 1,5 milhão de novos candidatos a um emprego, geralmente jovens. No entanto, o problema do desemprego, embora extremamente difícil, não é insolúvel. Do ponto de vista das prioridades na condução da política macroeconômica, o emprego não é uma variável relevante para o governo, que prefere voltar-se para a estabilidade monetária. E, para mantê-la, tem desenvolvido um conjunto de esforços desfavoráveis para a geração de emprego. Para Pochmann, "o novo modelo econômico, que desde os anos 90 se constitui da abertura comercial, não favorável ao processo de criação de emprego, prescinde de uma taxa de juro bastante expressiva, inviabilizando todo e qualquer tipo de investimento". Fato típico deste final de século, na opinião do professor, o desemprego hoje no Brasil tem um perfil característico: é um fenômeno heterogêneo, por que atinge todos os segmentos sociais. Ao contrário do que era no passado, nos anos 80, quando basicamente o desemprego estava associado a apenas alguns segmentos do mercado de trabalho, como no caso de jovens, mulheres, negros, analfabetos e indivíduos de baixa escolaridade. Pochmann ressalta que o número de desempregados com idades entre 25 e 49 anos, aumentou 291% em dez anos. No entanto, a quantidade de desempregados que têm entre 15 e 24 anos aumentou 258%. O quadro apresenta-se ainda mais cruel para os que tem 50 anos ou mais, cujo crescimento de desemprego ficou em 636%. Escolaridade e desemprego O mais surpreendente é que pessoas com maior nível de escolaridade estão sofrendo mais com o desemprego. "Ao contrário do que indica o senso comum, a taxa de desemprego tem sido mais expressiva para pessoas com escolaridade entre 4 e 7 anos do que para os trabalhadores com menos de um ano de acesso à educação", concluiu Pochmann. O índice de desempregados com menos de um ano de escolaridade aumentou 188% entre 1989 e 1998, e o número de desempregados com oito anos ou mais de escolaridade cresceu três vezes. Isto é, em torno de 620%, enquanto que o número de pessoas desempregadas com escolaridade média, entre 4 e 7 anos, foi de 268%. Hoje, no Brasil, o desemprego atinge a classe média, inclusive aqueles de maior nível de escolaridade. "Isso invalida hipóteses que sustentavam que quem tinha qualificação não corria o risco de ficar sem emprego. Não há mais segmento social imune ao problema no país", avalia ele. Explica ainda o desemprego atual caracteriza-se por ser mais de natureza intelectual vinculado à maior escolaridade e capacitação técnica do que de emprego de mão-de-obra com baixa qualificação. (A.R.F.) |
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