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Cepof da Unicamp lidera pesquisa visando ao uso de 100% da capacidade da fibra óptica
Tocando a vida em terabits
LUIZ SUGIMOTO
"Ninguém vai tirar um tostão a mais do meu bolso por serviços de telecomunicações", afirma o professor Hugo Fragnito, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp. Ele estima em R$ 300 mensais sua despesa pessoal com telefones fixo e celular, tevê a cabo, provedores, acessórios de banda larga e outros produtos que o mercado oferece. "Está faltando conteúdo à internet. Como ferramenta, ela já me serve no que é capaz e creio que não crescerá muito mais que isso. Agora, se eu puder pagar um preço razoável pelo download de um filme sem ter de ir ao cinema do shopping, ou por outros serviços que me interessem, será bom", admite.
O hoje, porém, vira ontem rapidamente para quem vive a era dos terabits. Para ajudar a dimensionar melhor o conteúdo desse texto, inevitavelmente recheado de termos informáticos que soam como novas medidas de tempo e espaço, convém um parêntese: mil bits equivalem a 1 quilobit; mil quilobits a 1 megabit; mil megabits a 1 gigabit; mil gigabits a 1 terabit.
"Antigamente" é a forma como Fragnito inicia o histórico sobre a explosão nas telecomunicações a partir da disseminação das fibras ópticas. "Estou falando dos anos antes de 1995", ressalta. "Naquela época", a única tecnologia para transmissão de luz por fibra óptica era o sistema 3R, vindo posteriormente o amplificador a Érbio (dispositivos detalhados em matéria nesta página). No momento, centenas de laboratórios no mundo buscam tecnologias similares ultra-avançadas, entre as quais o amplificador paramétrico do Cepof, que deve estar disponível em quatro ou cinco anos e já dá o que falar.
O amplificador a Érbio, que revolucionou o mercado a partir de 1989, trouxe um salto do mero 1 gigabit do sistema 3R para 4 terabits, um aumento descomunal de 4 mil vezes na capacidade. Por causa dele, a internet conseguiu atingir o estágio atual. Já o amplificador paramétrico, pesquisado pelo grupo de Fragnito, embute a promessa de aproveitamento quase total da fibra óptica, ou 100 terabits. Com ele, centenas de milhões de pessoas poderão baixar, ao mesmo tempo, arquivos à média de cinco gigabits por cabeça.
Como aproveitar tamanho espaço é uma questão de especial interesse para Hugo Fragnito, que faz parte de uma comissão da Fapesp cuja função é pensar sobre o uso social destes recursos. "As empresas geraram um bocado de tecnologia, instalaram uma quantidade enorme de fibras ópticas, mas não conseguem explorar tudo isso. Acabou surgindo uma crise econômica no setor, por causa de um mercado que não cresce. Então, se pergunta: o que há de errado?", polemiza o professor.
Na opinião de Fragnito, falta conteúdo. "Se não surgirem novas aplicações, essa crise vai durar muito tempo. É urgente, por exemplo, que na internet apareçam novos serviços, levando o cliente a desembolsar alguns reais a mais por um produto que valha a pena: filmes, esportes, shows, entretenimento", exemplifica. O professor reconhece que a capacidade hoje instalada, embora mais que suficiente para os serviços existentes, não permite sequer experimentar as novas aplicações, que consumi-riam uma banda enorme.
O fator 100 - Cientes disso, os pesquisadores trabalham com seriedade em sistemas como o amplificador paramétrico. "Estamos falando de um aumento na capacidade de fator 100. Uma vez que a tecnologia estiver disponível, acreditamos que essas aplicações vão aparecer, num ritmo em que gigantes como a Lucent e
a Ericson verão os produtos que guardam nas prateleiras tornarem-se obsoletos do dia para a noite", prevê o pesquisador do Cepof.
Outra questão importante é a ausência de uma legislação de informática, apesar de uma dezena de projetos de lei tramitando no Congresso. Em novembro, uma empresa de consultoria britânica colocou o Brasil como líder de ataques de hackers, enquanto as instituições ainda engatinham no combate ao crime digital. "Ninguém vai colocar novos conteúdos na rede sem uma proteção aos direitos de quem gera e de quem compra. Deve haver controle da pirataria e dos preços absurdos. É preciso um acordo também com a sociedade, senão a vida do internauta vai ficar cara e aborrecida", teme Fragnito.
O CePOF
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O Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica envolve pesquisadores do IFGW e de outras unidades da Unicamp, que buscam novas tecnologias e desenvolvem estudos comparativos. No que se refere ao amplificador paramétrico, o Cepof lidera mundialmente as pesquisas, juntamente com os laboratórios da Universidade de Stanford (EUA), da Universidade Chalmers (Suécia) e da Bell, empresa da Lucent. Este e outros projetos do Centro contam com financiamento principal da Fapesp (em torno de R$ 2 milhões anuais) e também do Pronex. Convênios com o setor privado geram mais R$ 1,5 milhão por ano. |
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