ANO XVII - 09 a 15 de dezembro de 2002 - Edição 201
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Especialista prega volta de parcerias e de investimentos

A falta de investimento da iniciativa privada em P&D é uma repA professora Sandra Brisolla, do Instituto de Geociências: empresas lançam não de estratégias conservadorasosta às condições negativas impostas pela economia brasileira ao longo das duas últimas décadas. Neste período, o máximo que as empresas fizeram foi reestruturar os seus processos produtivos e modificar as relações de trabalho, seguindo num exemplo adotado no resto do mundo. Foi uma transformação mais organizacional do que tecnológica. A opinião é de Sandra de Negraes Brisolla, professora do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT), do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. De acordo com ela, sem crédito e sem conseguir ampliar o mercado, as empresas lançaram mão de táticas mais conservadoras. A exceção ficou por conta de alguns poucos segmentos, como o de software. Este, enquanto um setor isolado, registrou um avanço significativo, embora não tenha produzido um impacto importante para a economia de forma geral.

Até a década de 70, explicou a professora Sandra Brisolla, as universidades tinham uma participação maior no processo produtivo das empresas. Como estavam em franco crescimento - e crescimento exige inovação -, elas procuraram a academia com mais freqüência, nem que fosse apenas para adaptar as tecnologias estrangeiras às condições e necessidades locais. Um exemplo era a busca por insumos alternativos. Com a estagnação da economia a partir dos anos 80, os investimentos privados em P&D praticamente minguaram. "Atualmente, as universidades têm feito pouco nessa área justamente porque não ocorrem mais parcerias", afirmou.

Outro fator que contribuiu para que a cooperação universidade-empresa fosse ainda mais reduzida foi a privatização das estatais. Estas, conforme a professora do IG, tinham tradição em investir em inovação tecnológica, situação que não teve continuidade depois da transferência para a iniciativa privada. "Isso diminuiu muito as possibilidades de novas interações", analisou. Para Sandra Brisolla, esse quadro deverá permanecer inalterado até que o país volte a tirar o "pé do breque". Se os investimentos em P&D forem retomados, a tendência é que as parcerias ganhem novo impulso. Isso não quer dizer, porém, que esse cenário favorável será suficiente, por si só, para tornar o Brasil tecnologicamente competitivo.

Em todo o mundo, destacou a especialista, o financiamento de C&T é feito majoritariamente pelo Estado. Isso ocorre até mesmo nos Estados Unidos, onde apenas 7% dos recursos empregados no setor saem dos caixas das empresas. O restante vem do orçamento público. No Massachusetts Institute of Technology (MIT), líder em pesquisa naquele país, somente 15% do dinheiro aplicado na área é proveniente da iniciativa privada. No Brasil, segundo Sandra Brisolla, não é diferente. "Também aqui o Estado deve continuar respondendo pela maior parte do investimento em ciência e tecnologia", disse.

Para que o Brasil possa se tornar um país tecnologicamente competitivo, na opinião da professora do IG, também será preciso tomar algumas medidas nos âmbitos econômico e político. A especialista defende uma maior independência nas relações internacionais. "Nós seguimos à risca a cartilha do FMI (Fundo Monetário Internacional) e demos com os burros n'água. Não é por aí", analisou. Diante da falta de crédito internacional, uma das conseqüências do endividamento externo, Sandra Brisolla sugere a busca de novas alternativas. Uma delas seria estreitar as relações comerciais com as nações da América Latina. "Se não há dinheiro, lança-se mão do escambo. Vamos trocar produtos".

Além disso, ela também aconselha a adoção de uma política voltada ao desenvolvimento de novos nichos de mercado e uma postura mais firme nas negociações com as multinacionais. Nesse último caso, é preciso adquirir não apenas a tecnologia, mas também o conhecimento que a gerou. "Não adianta comprar uma máquina sem adquirir junto o conhecimento que permita atualizá-la. Se não superarmos essa questão, vamos continuar eternamente dependentes", concluiu.