ANO XVII - 09 a 15 de dezembro de 2002 - Edição 201
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Modelo desenvolvido por grupo de professores proporciona ganho de energia

Programa reduz perdas no sistema hidrelétrico

Wanda Jorge


O Coordenador da equipe, professor Secundino Soares Filho, da Faculdade de Eng. Elétrica: controle da vazão dos reservatórios é fundamentalO sistema hidrelétrico é responsável por 94% da produção de energia elétrica do país. A energia elétrica não pode ser armazenada em grandes quantidades de modo que geração, transmissão e consumo ocorrem simultaneamente, o que exige uma precisão muito grande de toda operação, para evitar ou minimizar perdas. O ritmo é mais ou menos assim: em frações de segundo, a água que sai do reservatório e passa pela turbina aciona os geradores e se transforma em energia, enviada às linhas de transmissão que chegarão, na ponta do fio de distribuição, ao consumidor que acende a luz, liga o chuveiro ou aciona uma máquina.

O ajuste preciso dessa operação delicada foi exaustivamente estudado e avaliado nos últimos 20 anos pela equipe liderada pelo professor Secundino Soares Filho, titular da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. O grupo de trabalho é formado por sete professores das universidades públicas paulis-tas e perto de 30 alunos de pós-graduação, em variadas frentes de trabalho. O resultado do trabalho é o modelo matemático de operação, reunido no sistema operacional batizado de Hydrolab, que gerencia outros softwares com funções específicas. Todos com o prefixo grego, que significa água: hydrodata, hydroprev, hydromax, hydro-desp e hydrosim (ver texto página). O coordenador acrescenta que a pesquisa para aperfeiçoar a operação do sistema de geração e transmissão de energia hidráulica contou, a partir de 1990, com o apoio da Fapesp, que financiou três projetos sucessivos no valor total de R$ 450 mil e mais US4 84 mil, com término previsto em 2004.

Pelos testes realizados, o sistema informatizado desenvolvido pelo grupo de pesquisa de Soares Filho proporciona 10% de ganho de energia, apenas evitando vertimentos e maximizando as quedas e a distribuição nas unidades geradoras. Esses 10% representam algo como R$ 1,5 bilhão, considerando RS$ 40 o MWh (megawatt/hora) . Ou seja, o custo de duas usinas de Ilha Solteira. Esse montante, obtido só com o controle total da operação, significa a possibilidade de investir em novas usinas, que certamente serão necessárias para atender o crescimento da demanda e afastar o risco de pane no sistema, acrescenta.

Evitar que a água transborde das comportas, sendo desviada pelo vertedouro ou "ladrão", é uma forma de reservar a energia potencial contida na água e impulsioná-la para as turbinas apenas no instante em que é mais fundamental, tem maior poder gerador de energia e supre a demanda não atendida por outra fonte de produção. A energia gerada no país provém de uma rede de 89 usinas hidrelétricas de médio e grande porte e outras 20 termétricas, além de fontes residuais de energia chamadas alternativas. Todo sistema hidrelétrico funciona em cascata: os rios têm várias usinas instaladas em seu trajeto, e o controle da vazão dos reservatórios é de fundamental importância para evitar desperdício e obter o máximo de energia contida.

O Hydroprev controla essa etapa fundamental, que é a previsão da vazão do reservatório, de forma a evitar perdas e otimizar o uso da barragem. "Evitar que a água saia pelo ladrão é um equilíbrio fino que permite maximizar a queda d'água e minimizar o vertimento que, embora se constitua no fenômeno de cachoeira muito admirado por turistas, significa energia perdida para um engenheiro elétrico".

O professor explica que, com esse gerenciamento, um verdadeiro eletrocardiograma hidráulico, é possível controlar a vazão dos reservatórios, que têm uma entrada para o lago e duas saídas: uma para a turbina, que aciona o motor e produz energia; outra para o vertedouro ou ladrão, que alivia a pressão da água do reservatório, mas significa energia perdida ou não-gerada. Os programas do Hydrolab funcionam de forma integrada, um alimentando a função do outro para gerir toda a operação para produzir energia hidráulica.

Essas ferramentas estão prontas, mas não estão implantadas no sistema energético brasileiro que, coordenado pelo ONS-operador nacional do sistema elétrico- utiliza outro modelo, desenvolvido nos anos 80 pelo Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel) da Eletrobrás. Ele é responsável por esse gerenciamento, mas não tem o nível tecnológico do Hydrolab, que é ágil, tem imagens e calculadora dinâmica de todas as variantes, que "dialogam" em um único sistema informatizado, diz Soares Filho. O novo software entrará em teste de adequação de 18 meses, a partir de janeiro, funcionando em paralelo com o atual. Se comprovar a eficência, poderá substituir o atual, acrescenta.

O resultado da pesquisa, no entanto, já tem rendido bons frutos. A empresa concessionária Duke Energy assinou um contrato com a Unicamp no valor de R$ 345 mil em dois projetos já concluídos para aplicar o modelo em suas oito hidrelétricas: Jurumirim, Rosana, Chavantes, Capivara, Canoas I e II, Salto Grande e Taquaruçu. Está em fase final de conclusão, ainda, um terceiro projeto para a Duke no valor de R$ 200 mil. Outras empresas também fizeram convênios: Eletropaulo, para previsão de carga, e Aneel, para despacho de máquinas, ambos já concluídos; AES Tietê, para otimização da operação energética, em fase de conclusão. O professor acrescenta que outros dois convênios devem começar até o final do ano: Petrobras, para avaliação da disponibilidade energética de sistemas hidrelétricos e ONS, para avaliação da cadeia de planejamento e programação da operação.

Veja Também: Quadro de consumo
Laboratório de gestão das águas