Alunos desenvolvem
mouse para deficientes
Equipamento concebido em duas versões
tem uma série de vantagens em relação
aos modelos disponíveis
MANUEL
ALVES FILHO
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Marcio Rogério Juliato, aluno do IC: três
meses para desenvolver o mouse |
Marcio
Rogério Juliato, aluno do Instituto de Computação
(IC) Unicamp, é um inventor por definição.
Recentemente, ele e o colega Daniel Ferber desenvolveram
o protótipo de um mouse destinado a pessoas
que apresentam problemas motores. O equipamento, além
de oferecer mais funcionalidades, também é
mais fácil de operar do que os modelos disponíveis
no mercado. O trabalho conquistou o primeiro prêmio
de um concurso de projetos promovido pelo Centro Acadêmico
Bernardo Sayão, da Faculdade de Engenharia
Elétrica e de Computação (FEEC).
Em 2002, o mesmo Marcio concebeu um sistema de leitura
para deficientes visuais capaz de transformar um texto
na tela do computador em linguagem braile, sem necessidade
de impressão. No protótipo, leds compõem
uma placa de leitura e cumprem a função
das células braile de alto e baixo relevo.
O dispositivo, que agora está sendo aperfeiçoado
para permitir a leitura por meio do tato, conquistou
o segundo lugar numa olimpíada universitária
promovida por uma empresa do segmento eletrônico,
da qual participaram cerca de 500 estudantes de todo
o país, divididos em 114 equipes. Os dois inventos
já estão sendo patenteados.
Marcio, que é aluno do 5º
ano do curso de Engenharia de Computação,
conta que o mouse destinado a pessoas com necessidades
especiais levou três meses para ser desenvolvido.
O equipamento foi concebido em duas versões.
A mais simples é composta por um painel com
seis botões. Acionados pela pressão
da mão, quatro deles fazem com que o cursor
se movimente para cima, para baixo, para a esquerda
e para a direita. Os outros dois botões têm
a função de agarrar e soltar,
o que permite que o usuário arraste objetos
(um ícone, por exemplo) de um ponto para o
outro da tela. Este modelo é indicado
para pessoas com maior comprometimento motor ou para
crianças nos estágios iniciais de aprendizagem,
afirma.
A outra versão, mais completa,
é composta por 12 botões. Além
de ter as mesmas funções da anterior,
ela também permite que o usuário movimente
o cursor nas diagonais, tanto para cima quanto para
baixo. Dispõe, ainda, de dois comandos que
reproduzem a função dos botões
direito e esquerdo do mouse convencional. Marcio diz
que o equipamento apresenta uma série de vantagens
em comparação com os modelos comerciais.
Primeiro, ele é robusto, suportando um nível
razoável de impacto, além de apresentar
uma boa proteção contra umidade. Outra
característica é que o mouse especial
pode ser conectado a qualquer computador, sem a necessidade
de um software específico, ao contrário
do que ocorre com os presentes no mercado. Ou seja,
funciona com qualquer programa e com todos os sistemas
operacionais.
Mas o principal diferencial da nova
tecnologia, acredita Juliato, estará no custo
final ao consumidor. Ele estima que, assim que começar
a ser produzido em escala - já há entendimentos
nesse sentido -, o equipamento completo poderá
sair em torno de R$ 400, enquanto o mais simples,
a R$ 300. Atualmente, os modelos comerciais
estão custando entre R$ 700 e R$ 1,2 mil. Além
de não serem acessíveis às pessoas
com necessidades especiais e nem às entidades
que trabalham com elas, esses produtos não
oferecem tantas funcionalidades, explica. O
estudante da Unicamp destaca ainda que um mouse convencional
pode ser acoplado ao mouse especial, de modo que duas
pessoas (aluno e professor, por exemplo), possam assumir
o controle da operação, mas não
ao mesmo tempo.
Para que o comando seja passado
do aluno para o professor, basta que este último
aperte, simultaneamente, os botões direito
e esquerdo do mouse convencional. Para a prioridade
ser devolvida ao aluno, o procedimento é o
mesmo. Isso facilita muito a interação
entre ambos durante as aulas, explica. Marcio
revela que o equipamento é formado por uma
estrutura mecânica onde estão dispostos
os botões, um hardware que utiliza microcontroladores
e softwares de controle. Conta também com um
coletor de dados, que permite ao professor saber que
botões o aluno mais aciona.
Ele esclarece que esse tipo de informação
é importante no momento do educador analisar
o comportamento dos alunos durante a utilização
do sistema. Como exemplo desse estudo pode-se
citar o caso de uma menina que movimentava a tartaruga
de um programa sempre para trás. Intrigado,
o professor começou a investigar o motivo desse
comportamento e acabou descobrindo que, ao ser carregada,
a menina era colocada com a cabeça sobre os
ombros dos pais. Ou seja, a perspectiva que ela tinha
do mundo era sempre das pessoas e objetos se afastando.
Marcio diz que espera ver sua invenção
transformada em produto o mais breve possível.
O mais importante no momento é fazer
com que as pessoas com necessidades especiais tenham
acesso ao mouse, e com ele possam ter acesso à
informação. Se eu estivesse preocupado
com o retorno financeiro, certamente teria me dedicado
a um outro tipo de projeto, afirma. Segundo
ele, o sistema de leitura para deficientes visuais
deverá ser aperfeiçoado em breve. Por
usar leds para reproduzir os caracteres da linguagem
braile, o protótipo evidentemente ainda não
pode ser usado pelo público a quem se destina.
O problema deve ser resolvido, conforme
o jovem inventor, pelo uso de microestruturas ou por
algum tipo de material polimérico, que se contrairia
ou se estenderia, permitindo assim a formação
dos relevos característicos do alfabeto Braille.
Juliato afirma que pretende dar seqüência
aos estudos, fazendo mestrado e doutorado. Sua intenção
é seguir a carreira acadêmica. Considero
que esse deva ser meu caminho profissional,
diz, acrescentando que para desenvolver os projetos
recebeu o apoio dos professores Rodolfo Jardim de
Azevedo e Paulo Cesar Centoducatte, ambos do IC.