Congresso debate
trauma ortopédico infantil
ANTONIO
ROBERTO FAVA
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O médico ortopedista William Dias Belangero:
prevenção de acidentes |
O trauma do aparelho locomotor na
criança foi o tema central de conferências
e debates que reuniram, nos dias 21 e 22 últimos,
no anfiteatro da Faculdade de Ciências Médicas
(FCM) da Unicamp, mais de 180 médicos e cerca
de 40 palestrantes de seis estados brasileiros ligados
a instituições de saúde, ensino
e pesquisa. O 3º Tróia (Congresso Trauma
Ortopédico Infantil Atualizado), que teve apoio
da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica,
revelou novos procedimentos para médicos ortopedistas,
pediatras e fisioterapeutas envolvidos no tratamento
de traumas ortopédicos infantis.
O evento dividiu-se em três
blocos, sendo um mais voltado para profissionais da
área médica, outro para a área
de enfermagem, apresentando os cuidados que se devem
ter com a criança portadora de trauma do aparelho
locomotor, e o terceiro para educadores da região
de Campinas, com a finalidade de se discutir propostas
de educação e prevenção
do trauma na criança no ambiente escolar e
familiar.
Para William Dias Belangero, médico
ortopedista, docente do Departamento de Ortopedia
e Traumatologia da FCM/Unicamp e responsável
pelo grupo de ortopedia pediátrica e traumatologia
do departamento, um dos pontos importantes do evento
foi a possibilidade de debater, com a comunidade
acadêmica e educadores, não só
os aspectos diagnósticos e terapêuticos,
mas também os aspectos relacionados aos maus
tratos na infância e à prevenção
de acidentes. William revelou que há
aumento dos acidentes e da violência contra
a criança, provavelmente fruto da perda
de valores sociais, da desagregação
familiar e da crise econômica que se vive hoje
no país.
Punho, cotovelo e pés
Para ilustrar, o médico cita um estudo
que realizou no Departamento de Ortopedia da FCM/Unicamp
de julho de 2000 a novembro de 2003, com a participação
de outros hospitais e clínicas de Campinas
e região, no qual foram analisadas 740 ocorrências
com traumas que envolveram ossos e articulações
em crianças e pré-adolescentes. O estudo
revela que, por mais curioso que possa parecer, grande
parte dos acidentes (39%) ocorre dentro da nossa própria
casa, sendo 26% destes no interior da moradia e 13%
nas áreas externas da residência. Além
da casa, a escola foi outro local responsável
por significativo índice de acidente
17 % dos casos.
As regiões do corpo que mais
sofrem lesões são o punho, o cotovelo,
o antebraço e os pés. Isso ocorre
porque, quando a criança cai, seu primeiro
impulso é colocar as mãos no chão
para se proteger. Assim, todo o peso da queda se concentra
nos braços e principalmente nos punhos,
diz William. Crianças do sexo masculino são
as mais atingidas 60% das lesões. A
faixa etária de maior incidência no menino
é dos 10 aos 12 anos e, na menina, dos 5 aos
10 anos. No entanto, o médico observa que o
menino continua sofrendo acidentes com maior freqüência
até os 14 anos, enquanto que a menina só
até os 11 anos.
Essa redução
dos acidentes no sexo feminino, nessa faixa etária,
pode estar relacionada com o fato de que a menina
atinge a sua maturidade mais cedo, explica William.
As atividades recreativas, o futebol e as quedas de
bicicleta são os campeões na produção
de lesões. O principal intuito desse
estudo epidemiológico é procurar obter
subsídios concretos da distribuição
dos traumas na cidade para que possam otimizar campanhas
de educação e de prevenção
de acidentes na criança para toda a comunidade,
diz o médico.