Prestar serviços à sociedade, uma
das missões da Central Analíticas
Centro desenvolve monitoramento
da qualidade dos combustíveis numa região
formada por 151 cidades paulistas
MANUEL
ALVES FILHO
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Pesquisador faz análise de combustível
em laboratório da Central Analítica:
5 mil procedimentos mensais |
A excelência do ensino e da
pesquisa praticados no Instituto de Química
(IQ) da Unicamp tem a ver diretamente com o alto nível
de professores e estudantes, mas também está
relacionada ao fato de a Unidade contar com equipamentos
de primeira ordem. A constatação de
que o IQ possuía um parque instrumental comparado
ao das melhores universidades do mundo fez com que
fosse criada em seu âmbito, em 1997, a Central
Analítica (CA). Sua missão: gerenciar
o uso dessa estrutura, nos períodos ociosos,
para prestar serviços à sociedade. Desde
então, os recursos advindos desses trabalhos,
que têm caráter essencialmente extensionista,
são aplicados na manutenção,
ampliação e modernização
do próprio parque. Atualmente, a CA desenvolve
análises químicas que refletem no cotidiano
da população, como o monitoramento da
qualidade dos combustíveis numa região
composta por 151 municípios do Estado de São
Paulo.
Até a constituição
da CA, hoje coordenada pelos professores Lauro Tatsuo
Kubota, Marco Aurélio Zezzi Arruda e Paulo
Mitsuo Imamura, a prestação de serviços
à comunidade externa acontecia de modo pontual
no IQ. Os pedidos, vindos em sua maioria de outras
universidades, chegavam diretamente aos docentes,
que respondiam pelos equipamentos de uso institucional.
Isso gerava uma certa dificuldade, pois nem sempre
era possível conciliar o prazo ansiado pelo
cliente com a disponibilidade do instrumental. A
partir da CA, nós centralizamos a recepção
dessas solicitações e passamos a ordená-las.
A medida foi importante porque fez com que mudássemos
nossa cultura em relação à utilização
dos equipamentos. Hoje, fazemos isso de modo muito
mais eficiente, explica Kubota.
Atualmente, segundo ele, a iniciativa
privada responde pela maior parte dos pedidos de análise.
Entre os principais clientes da CA estão indústrias
dos setores químico, petroquímico e
farmacêutico, para citar os mais freqüentes.
Mas também existe demanda de outras áreas,
como as ligadas à preservação
do meio ambiente, e até mesmo de pessoas físicas.
Embora não seja comum, às vezes
alguma pessoa nos procura para solicitar uma análise
de solo, por exemplo, afirma o professor Imamura.
Recentemente, conforme os coordenadores, a Central
Analítica passou a adotar um novo procedimento
em relação às demandas. No lugar
de manter o leque de atuações muito
aberto, a CA resolveu privilegiar os serviços
que constituem maior rotina.
O motivo da mudança de foco
é simples. Segundo Kubota, alguns pedidos,
como o desenvolvimento de produtos e processos, exigiam
muito tempo e esforço científico. Às
vezes, para apresentar uma solução para
o cliente, nós tínhamos que desenvolver
um estudo praticamente similar ao de uma tese de doutorado.
Sem contar que esse tipo de trabalho gerava poucos
recursos, esclarece. O grande diferencial da
CA, na opinião dos coordenadores, está
na qualidade de suas análises, proporcionadas
pelo amplo parque instrumental do IQ, mas também
pela excelência de seus especialistas. Assim
que uma solicitação chega à Central,
afirmam, ela é imediatamente verificada. Se
for necessário, o cliente é contatado
para fornecer informações adicionais.
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Os professores Paulo Mitsuo Imamura (à
esquerda) e Lauro Tatsuo Kubota: iniciativa privada
responde pela maior parte dos pedidos de análises |
Em seguida, a CA elabora um orçamento
e estabelece o prazo para a conclusão do trabalho.
Caso o cliente queira que o serviço seja realizado
em regime de urgência, é cobrada uma
taxa extra. Por fim, depois da devida consulta, a
demanda é encaminhada, se necessário,
para um dos docentes do IQ, os mesmos que desenvolvem
algumas das mais importantes pesquisas na área
química do país. Kubota esclarece que
é difícil falar em valores, pois cada
análise tem um grau de complexidade, o que
exige abordagens e recursos diferentes. O que
nós fazemos questão de ressaltar para
os clientes é que apesar de nossos equipamentos
e especialistas não ficarem full time à
disposição desses trabalhos, a qualidade
das análises é altíssima. Esse
tipo de atividade só é realizado nos
períodos ociosos, ou seja, quando pesquisadores
e instrumentos não estão envolvidos
com o ensino e a pesquisa, nossas missões prioritárias.
Combustíveis
De acordo com o professor Imamura, os recursos gerados
pelos serviços prestados pela CA são
significativos, embora não consigam responder,
sozinhos, por toda a manutenção do parque
instrumental do IQ. Ele destaca, entretanto, que mais
importante do que captar recurso extra, as atividades
cumprem a missão de aproximar a Unicamp da
sociedade. Constituem uma espécie de canal
através do qual a Universidade pode compartilhar
com a população parte dos conhecimentos
gerados em suas salas de aula e laboratórios.
Isso fica muito claro no trabalho que a Central faz
desde 2000 para a Agência Nacional de Petróleo
(ANP).
Por meio de convênio, a CA assumiu a importante
missão de monitorar a qualidade dos combustíveis
vendidos numa região formada por 151 cidades
paulistas, onde estão instalados cerca de 2
mil postos. Mensalmente, funcionários da Central
coletam amostras junto a 20% desses estabelecimentos
e promovem a análise das mesmas. Os resultados
são encaminhados para a ANP. Esta, por sua
vez, fiscaliza os postos nos quais o combustível
apresentou-se fora das especificações
e colhe novas amostras para análise. Os resultados
são novamente enviados à ANP, que cuidará
de aplicar as devidas sanções aos eventuais
fraudadores.
De acordo com Kubota, a Central
promove aproximadamente 5 mil análises de combustíveis
por mês, a partir de cerca de 800 amostras.
Uma das adulterações mais comuns, afirma,
é adição de álcool à
gasolina em quantidade acima da permitida. A outra
é a mistura de solventes. Neste segundo caso,
a CA procura identificar a presença de um marcador
na gasolina, substância que compõe os
solventes. Ou seja, se o marcador estiver na
gasolina, é sinal de que o solvente também
está, esclarece Imamura. Conforme os
professores do IQ, a gasolina adulterada provoca uma
série de problemas no carro, desde a diminuição
da eficiência até a corrosão das
peças do motor. Esse trabalho tem um
largo alcance social, pois não só ajuda
a combater as possíveis fraudes, como concorre
para assegurar o padrão de qualidade dos nossos
combustíveis, avalia Imamura.
Outro
exemplo da importância dos serviços prestados
pela CA para a sociedade vem do controvertido caso
de contaminação ambiental de uma área
de Paulínia. Uma indústria do setor
químico foi apontada como a responsável
pelo problema. A pedido da Justiça, os especialistas
do IQ promoveram a análise de amostras de água
e solo e constataram que de fato havia a concentração
de substâncias nocivas à saúde
acima dos padrões toleráveis. Os docentes
ressaltam a importância da experiência
adquirida com esses serviços, uma vez que contribuem
para a formação de recursos humanos
em questões analíticas e em qualidade
de combustíveis.
Conforme os coordenadores, pedidos de análises
devem ser encaminhados à Central Analítica
por meio de formulário disponível em
seu site, no seguinte endereço: www.iqm.unicamp.br/ca.