Tese de doutorado
rende prêmio internacional
na área da fotoquímica
Estudo integra linha de pesquisa
que investiga as propriedades fotoquímicas
e fotofísicas de materiais poliméricos
MANUEL
ALVES FILHO
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A professora Teresa Dib Zambon Atvars e a aluna
de pós-graduação Sahori Barbosa
Yamaki: formando especialistas |
A aluna
de pós-graduação Sahori Barbosa
Yamaki acaba de conquistar um importante prêmio
internacional na área da fotoquímica.
Ela foi a vencedora do Prêmio Giuseppe Cilento,
concedido anualmente pela Inter-American Photochemical
Society (I-APS) a jovens pesquisadores da América
Latina. Sahori concorreu com um estudo desenvolvido
para a sua tese de doutorado, defendida em abril de
2002 na Unicamp, intitulado Espectroscopia de
Fluorescência de sondas e marcadores aplicada
a processos de relaxações em polietileno,
Poli (Acetato de Vinila) e copolímeros de etilenoco-co-acetato
de vinila. A orientadora do trabalho foi a professora
Teresa Dib Zambon Atvars, do Instituto de Química
(IQ). Considerado o criador da escola brasileira de
fotobioquímica, o italiano Giuseppe Cilento,
que empresta nome à láurea, coordenou
a implantação do IQ da Unicamp, a convite
do fundador da Universidade, Zeferino Vaz.
O prêmio Giuseppe Cilento
foi criado pela I-APS em 1999. Desde então,
apenas uma brasileira, aluna da USP, havia sido contemplada.
No início de janeiro, Sahori estará
embarcando rumo aos Estados Unidos, onde apresentará
o seu estudo na conferência anual da sociedade.
Fiquei muito honrada com esse prêmio.
Trata-se de um importante reconhecimento não
só ao meu trabalho, mas também à
qualidade do ensino proporcionado pela Unicamp,
afirma a pesquisadora, que se graduou em Química
e realizou todo o seu programa de pós-graduação
no IQ-Unicamp. Atualmente, Sahori está realizando
o pós-doutorado em um projeto conjunto envolvendo
o Instituto de Física na USP-São Carlos
e o laboratório da professora Teresa Atvars,
com bolsa de estudo concedida pela Fapesp.
O trabalho desenvolvido por Sahori
faz parte de uma linha de pesquisa que investiga as
propriedades fotoquímicas e fotofísicas
de materiais poliméricos. Para entender melhor
o que isso significa, tome-se como exemplo um plástico
colorido. Com o passar do tempo, ele acaba desbotando.
Os especialistas do IQ procuram entender, por meio
de uma série de modelos e ensaios, como ocorre
esse processo. E, a partir disso, tentam controlá-lo,
de modo a prolongar a durabilidade das cores e a qualidade
do plástico. São pesquisas básicas,
mas que podem proporcionar ganhos importantes. Ao
prolongarmos a durabilidades das cores e do material
e entendermos como as reações fotoquímicas
ocorrem, nós temos condições
de reduzir, conseqüentemente, a quantidade dos
corantes que são usados. Isso pode implicar
tanto na queda dos custos de produção
quanto na preservação do meio ambiente,
exemplifica a professora Teresa Atvars.
Não por acaso, continua a
docente do IQ, os países desenvolvidos têm
investido cada vez mais recursos em pesquisas na área
de materiais poliméricos coloridos e luminescentes.
A União Européia destinou, em 2003,
US$ 1 bilhão para essa finalidade. O interesse
é justificável: somente o mercado norte-americano
de produtos fabricados a partir de polímeros
luminescentes movimenta algo como US$ 2 bilhões
por ano. Voltando ao trabalho desenvolvido pelos especialistas
da Unicamp, a professora Teresa Atvars explica que
os materiais poliméricos podem ser ordenados.
E esse ordenamento permite que algumas de suas propriedades
sejam otimizadas, bem como novas propriedades sejam
produzidas.
Durante os estudos em laboratório,
os pesquisadores do IQ descobriram que os alguns corantes
aplicados aos polímeros emitem luz com propriedades
diferentes da que emitiriam se estivessem numa solução.
Esse fato está relacionado com a estrutura
do polímero. Portanto, quando a organização
do material muda, a emissão de luz também
se altera. Se quisermos que o sistema tenha
a sua propriedade otimizada, temos que entender como
ocorre o processo de emissão de luz,
esclarece a docente. Os processos de emissão
de luz por materiais poliméricos são
muito mais comuns do que imaginamos, segundo a professora
Teresa Atvars. Ela cita como exemplo o uso de branqueantes
em fibras de tecidos. Conforme a docente, o grupo
da Unicamp é pioneiro no país em pesquisas
envolvendo o entendimento da emissão de luz
em materiais poliméricos e na descrição
das relações desse processo com o ordenamento
do polímero. A equipe, que integra o Instituto
Interdisciplinar de Materiais Poliméricos,
uma rede de pesquisadores brasileiros, tem contribuído
fortemente para o avanço do conhecimento nessa
área.
Além disso, por intermédio
dessas pesquisas, nós estamos conseguindo oferecer
uma formação bastante sólida
aos nossos alunos de pós-graduação.
Eles se tornam especialistas não apenas em
ciência de polímeros, mas também
em fotoquímica de modo geral, atesta.
A obtenção do Prêmio Giuseppe
Cilento por parte de Sahori, destaca a professora
do IQ, é reflexo do grau de excelência
das atividades desenvolvidas pelo grupo, além
da alta qualificação da aluna. A
I-APS é uma entidade com caráter fortemente
acadêmico, pois reúne renomados especialistas
em fotoquímica de empresas, universidades e
instituições de pesquisas. A conquista
dessa láurea por parte de um de nossos alunos
indica que estamos qualificando nossos estudantes
em nível internacional.
Tese:
Espectroscopia de Fluorescência de sondas
e marcadores aplicada a processos de relaxações
em polietileno, Poli (Acetato de Vinila) e copolímeros
de etilenoco-co-acetato de vinila
Unidade: Instituto de Química
Autora: Sahori Barbosa Yamaki
Orientadora: Teresa Dib Zambon Atvars |
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Cilento coordenou implantação
do IQ
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O cientista Giuseppe Cilento: criador da escola
fotobioquímica brasileira |
O cientista Giuseppe Cilento, que
empresta nome ao prêmio concedido pela Inter-American
Photochemical Society (I-APS), nasceu em 1923 em Sorrento,
na Itália. Naturalizado brasileiro, bacharelou-se
em Química em 1943 pela Universidade de São
Paulo e doutorou-se, três anos depois, pela
mesma instituição. Em 1955, tornou-se
livre-docente da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da USP. Passados seis anos, obteve o título
de professor catedrático. Cilento estagiou
em diversas universidades e institutos de pesquisa
do exterior e publicou cerca de 150 trabalhos em periódicos
nacionais e internacionais, com um amplo impacto na
área.
O pesquisador é considerado
o criador da escola fotobioquímica brasileira.
Seu trabalho possibilitou o desenvolvimento de alguns
ramos da Química, como a fotoquímica,
biofísica, bioquímica, biologia molecular,
toxicologia analítica clínica e biotecnologia.
De acordo com a professora Teresa Atvars, do Instituto
de Química (IQ) da Unicamp, uma de suas maiores
contribuições para a ciência foi
na área da fotoquímica sem luz.
Ele descobriu, diferentemente da fotoquímica
convencional, que se faz excitando as moléculas
com luz, que algumas reações produziam
luz e fotoquímica, sem a necessidade de se
usar uma fonte externa de excitação.
O cientista identificou o modo como tal fenômeno
se manifesta e constatou que ele também pode
ocorrer sem a existência de radiação.
Convidado em 1966 pelo fundador
da Unicamp, Zeferino Vaz, para coordenar a implantação
do IQ, Cilento fixou as bases que permitiram o desenvolvimento
da Unidade. Por esse trabalho, recebeu o Prêmio
Moinho Santista. Em 1991, foi agraciado com o título
de professor emérito da Unicamp. Cilento morreu
no dia 31 de outubro de 1994. Ao recebermos
um prêmio que leva o nome do professor Cilento,
creio que estamos ajudando a promover o resgate da
história da própria Universidade. Ele
que foi um grande cientista e, a exemplo de muitos
outros, forneceu as bases para implantação
da nossa Universidade, analisa Teresa Atvars.