Laboratório do IFGW otimiza
propriedades dos nanomagnetos
Grupo de pesquisadores estuda vários
aspectos de minúsculos ímãs que
têm vasta aplicabilidade na indústria
MANUEL
ALVES FILHO
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O professor Marcelo Knobel (à direita),
coordenador do LMBT: Só falta estimularmos
a criação de novas empresas que
atuem na transformação dessas idéias
e modelos em produtos |
O que prosaicos ímãs,
destes que as donas-de-casa grudam na porta da geladeira,
têm a ver com a tecnologia moderna? Muito, embora
pouca gente saiba. Os materiais magnéticos
estão presentes no cotidiano das pessoas, cumprindo
funções que vão além de
adornar um eletrodoméstico. Eles compõem
equipamentos fundamentais ao lazer e ao trabalho,
como a tevê e o computador. Uma das razões
para o desconhecimento popular em torno desses materiais
talvez esteja na própria evolução
que experimentaram nos últimos anos: ao mesmo
tempo em que ganharam em eficiência, perderam
em tamanho. Atualmente, podem ser produzidos em escala
nanométrica, medida que equivale ao bilionésimo
do metro. Esses minúsculos ímãs,
chamados tecnicamente de nanomagnetos e que interessam
a uma indústria que movimenta bilhões
de dólares anualmente no mundo, estão
sendo estudados em vários aspectos por um grupo
do Laboratório de Materiais e Baixas Temperaturas
(LMBT) do Instituto de Física Gleb Wataghin
(IFGW) da Unicamp. O objetivo dos pesquisadores é
conceber novas idéias, processos e modelos
que eventualmente possam ter aplicações
futuras.
De acordo com o professor Marcelo
Knobel, coordenador do LMBT, trabalhar no campo da
aplicação, concorrendo com as mega-empresas
do setor, é uma tarefa muito difícil.
Justamente por isso, alguns pesquisadores, caso dos
da Unicamp, têm atuado no estágio imediatamente
anterior, contribuindo com novas idéias e modelos.
A principal missão do grupo
é otimizar as propriedades dos nanomagnetos,
a partir do entendimento de alguns fenômenos
observados. Tal esforço, afirma o docente,
exige o cumprimento de diversas fases. A primeira,
obviamente, é a concepção da
idéia. Em seguida, surge a etapa da produção
dos materiais.
Depois,
segundo Knobel, vem a caracterização
estrutural dos nanomagnetos. Para isso são
usados recursos como a microscopia eletrônica,
a difração de raios-X e a luz síncrotron.
Na seqüência, os pesquisadores geralmente
submetem os materiais a um tratamento térmico,
que tem por finalidade estabilizar ou otimizar as
suas propriedades físicas (magnéticas
e elétricas). Por fim, os cientistas investigam
essas propriedades e a conexão entre elas.
Ao fazermos todo esse estudo, surgem naturalmente
muitos comportamentos que não conseguimos explicar.
As respostas a essas dúvidas exigirão
outras teorias e modelos, explica.
Knobel esclarece que os materiais
desenvolvidos e analisados no LMBT são compostos
por nanopartículas magnéticas, normalmente
dispersas sobre uma matriz não-magnética,
como vidro ou polímero. São como minúsculos
imãs dispostos um ao lado do outro, que interagem
entre si. O foco das nossas investigações,
que envolve todo o trabalho citado anteriormente,
é compreender o funcionamento desse conjunto,
destaca o docente do IFGW. E por que esse tipo de
pesquisa é importante? A resposta, mais uma
vez, está na aplicação que os
materiais magnéticos têm no dia-a-dia.
Tome-se como exemplo as gravações
magnéticas. Os discos dos computadores contêm
minúsculas regiões conhecidas por bits.
Estes estão magnetizados numa ou noutra direção
(lógica binária), o que faz com que
possam gravar ou ler informações. Com
o passar dos anos, esses dispositivos diminuíram
de tamanho, e com isso tiveram sua capacidade de armazenar
dados incrivelmente ampliada. Só para se ter
uma idéia, em menos de quatro décadas
as densidades dos bits nos discos rígidos aumentaram
cerca de 8,5 milhões de vezes. Nós
não sabemos até onde isso vai chegar,
mas já existe a expectativa de que seja possível
atingir a densidade de terabits por polegada quadrada,
adianta Knobel. Traduzindo: os cientistas esperam
acomodar mil bilhões de bits num
espaço menor do que o ocupado por uma caixa
de fósforos.
Para atingir essa meta, lembra o
coordenador do LMBT, será necessário
superar alguns desafios. Dois deles referem-se justamente
ao tamanho reduzido dos bits. À medida que
ficam menores, eles se tornam mais suscetíveis
aos efeitos térmicos. A própria temperatura
ambiente pode ser suficiente para fazer com que as
informações se percam. Além disso,
para acessar dados comprimidos num espaço tão
pequeno, é necessário desenvolver cabeças
de leitura igualmente reduzidas, o que cria um problema
de engenharia. Os trabalhos conduzidos pelos especialistas
do IFGW, diz Knobel, constituem os primeiros degraus
dessa escalada científico-tecnológica.
Sem esse impulso inicial, o caminho certamente se
tornaria muito mais difícil.
Qualificação
Além de contribuir para o desenvolvimento
da pesquisa básica em torno do nanomagnetismo
no Brasil, o LMBT tem formado pessoal altamente qualificado
na área. Atualmente, conforme Knobel, os estudos
têm contado com a participação
de quatro pós-graduandos (dois estudantes de
mestrado e dois de doutorado) e de mais cinco pós-doutores.
O professor ressalta, ainda, a importância dos
trabalhos feitos em colaboração com
outros grupos, tanto nacionais quanto estrangeiros,
iniciativa que tem aprimorado o conhecimento de todos
os envolvidos.
No Brasil, afirma o docente, a comunidade
científica que se dedica ao estudo do magnetismo
tem crescido em quantidade e qualidade. Dentro dela,
acrescenta, o grupo da Unicamp tem tido um excelente
reconhecimento. Isso pode ser medido, segundo Knobel,
pelo número e importância das publicações
geradas, bem como pela quantidade de convites recebidos
para a participação em eventos científicos.
Isso só comprova que o Brasil tem condições
de trabalhar em nanociência e que nossos pesquisadores
têm competência para contribuir nos campos
das idéias e dos modelos, analisa. E
completa: só falta estimularmos a criação
de novas empresas que atuem na transformação
dessas idéias e modelos em produtos, de modo
a criarmos um círculo virtuoso. As pesquisas
realizadas no LMBT contam com o apoio financeiro da
Fapesp e CNPq.