Pesquisa aponta que C&T
melhora qualidade de vida
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
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Carlos Vogt, presidente da Fapesp, apresenta os
números da pesquisa: levantamento foi publicado
pela Editora da Unicamp |
Pesquisa quantitativa realizada
em cidades de quatro países ibero-americanos
constatou que, em média, 72% dos entrevistados
acreditam que o desenvolvimento da ciência e
da tecnologia é o principal motivo da melhoria
da qualidade de vida da sociedade. A grande maioria
(85,9%), no entanto, nega que a C&T possa solucionar
todos os problemas. As entrevistas foram feitas em
2002 e 2003, na Argentina, Brasil, Espanha e no Uruguai
e constam do livro Percepção Pública
da Ciência, publicado recentemente pela Editora
da Unicamp e com o apoio da Fapesp.
A publicação, em português
e espanhol, foi organizada pelo professor Carlos Vogt,
presidente da Fapesp e coordenador do Laboratório
de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor)
da Unicamp, e por Carmelo Polino, responsável
pela área de programas horizontais e projetos
do Centro de Estudos sobre Ciência, Desenvolvimento
e Educação Superior da Argentina. Segundo
os organizadores, o objetivo é o desenvolver
uma geração de indicadores na área.
No Brasil, a pesquisa foi feita
em Campinas, com 162 pessoas. Na Argentina, em Buenos
Aires, foram entrevistadas 300 e no Uruguai (Montevidéu),
150 pessoas responderam os questionários. A
amostragem também incluiu as cidades de Salamanca
e Valladolid, na Espanha e contou com 150 entrevistados.
A pesquisa brasileira foi coordenada por integrantes
do Labjor e depois estendida para as cidades de Ribeirão
Preto e São Paulo, perfazendo um total de 1.063
pessoas ouvidas.
Os responsáveis pelo levantamento,
feito por iniciativa da Organização
dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e da Rede Ibero-Americana
de Indicadores de Ciência e Tecnologia (RICYT/CYTED),
também identificaram que apesar da tendência
geral da imagem favorável da ciência,
a percepção é de que ela não
está livre de ter conseqüências
negativas. Embora a grande maioria dos entrevistados
nos quatro países (74,3%) considere que os
benefícios da ciência e da tecnologia
são maiores que os efeitos negativos, na afirmação
de que o desenvolvimento da ciência traz problemas
para a humanidade as opiniões divergem. Na
Argentina e Brasil, o índice é equilibrado.
Cerca de 50% optaram por discordar da afirmação.
Já na Espanha e no Uruguai os que concordaram
com a frase somam 57%.
Na opinião de 82% dos entrevistados,
na Argentina o pouco apoio estatal é
o principal fator que limita o desenvolvimento da
ciência e tecnologia, descartando a responsabilidade
de outros setores. Neste mesmo item 62,3% no Brasil
e 78,9% na Espanha concordam com a afirmação.
No que diz respeito à utilidade dos conhecimentos
gerados no país, no Uruguai (66%), Argentina
(59,4%) e, em menor escala, na Espanha (43,2%) os
entrevistados acreditam que a ciência tem utilidade,
mas não há divulgação
desse conhecimento. Outro dado apontado no levantamento
foi com relação a pouca informação
sobre C&T. Na Argentina, 80%, no Brasil 71% e
na Espanha 67% se consideram pouco informados.
Brasil Os organizadores
decidiram ampliar a pesquisa no Brasil, depois de
concluída a fase internacional. Depois de Campinas,
o levantamento foi estendido para as cidades de São
Paulo e Ribeirão Preto. Segundo os coordenadores,
a idéia foi aumentar a amostragem no Estado
de São Paulo para compor um capítulo
na publicação de Indicadores de C&T,
que será editado pela Fapesp. Será testado
também o modelo do questionário com
vistas a novas abordagens metodológicas. As
entrevistas foram aplicadas pela empresa campineira
de marketing Marcondes e Almeida Associados e apresentou
muitas semelhanças nos resultados preliminares
das três cidades paulistas. Pesquisa semelhante
foi realizada apenas em 1987, quando o CNPq encomendou
ao Instituto Gallup um levantamento nacional. Na época
foram 2.892 entrevistados em todo país.
Na pesquisa feita nos três
municípios paulistas, 69% dos entrevistados
não acreditam que a ciência possa solucionar
todos os problemas. Em compensação,
51,7% discordam de que a ciência e a tecnologia
não se preocupam com os problemas das pessoas.
Para 65,2% das pessoas que responderam ao questionário,
os benefícios da ciência e tecnologia
são maiores do que seus efeitos negativos e
59,4% concordam que a aplicação da C&T
aumentam as oportunidades de trabalho.
De acordo com Carlos Vogt, uma vez realizado o levantamento
preliminar dos dados, há a necessidade de se
trabalhar na qualificação da pesquisa.
Ele enfatiza que será preciso refletir sobre
o questionário de forma a sofisticar as questões
mais pontuais. Além disso, serão feitos
novos estudos para se cruzar os dados e propor os
avanços necessários.