Unicamp é destaque no Altec 2003
MARIA
BETARIZ BONACELLI (*)
Quais os elementos que a globalização
dos mercados vem impondo à gestão do
conhecimento e da inovação? Como ela
afeta as estratégias de competitividade e as
decisões em empresas de base tecnológica?
Como tratar o local e o regional num contexto de mercados
mais amplos? E como orientar políticas de ciência
e tecnologia em ambientes de rápida mudança
tecnológica? Essas são algumas das perguntas
que nortearam os debates ocorridos no X Seminário
Latino Iberoamericano de Gestão Tecnológica
Altec 2003, na Cidade do México, entre
os dias 22 e 24 de outubro último.
Alguns fatos merecem registro. A
Altec demonstrou claramente que o campo do conhecimento
da política e da gestão de Ciência,
Tecnologia e Inovação (CT&I) vem
se ampliando e abrindo fronteiras, fato bastante positivo,
pois um número cada vez maior de interessados,
militantes, curiosos e acadêmicos é atraído
para essa área do conhecimento. Percebe-se
também que, pouco a pouco, o tema se consolida
nas agendas políticas dos mais variados atores
sociais.
O evento cumpriu, com sucesso, o
trabalho de divulgação desse campo de
conhecimento, reunindo 530 participantes de 20 países
a grande maioria da Iberoamérica, mas
também dos Estados Unidos, Canadá, França,
Itália, Grécia, Holanda e Austrália.
O Brasil predominou, com quase a metade dos trabalhos
apresentados (45%): 121 foram aceitos para apresentação,
contra 54 do México, país-sede que ficou
em segundo lugar. Os 82 trabalhos efetivamente exibidos
envolveram 112 pesquisadores brasileiros de diversas
instituições do país.
Quanto aos temas que mais atraíram o interesse
dos participantes, sobressaíram o de aprendizagem
e acumulação de capacitação
(com 20 apresentações e mais de 100
participantes) e o da relação
entre universidade-empresa (também com
20 apresentações e mais de 70 assistentes).
A Unicamp marcou forte presença
no Seminário da Altec, principalmente com professores
e alunos do Departamento de Política Científica
e Tecnológica DPCT/IG. Foram nove artigos
e cinco pôsteres, referentes a projetos em andamento
ou já finalizados. Na premiação
dos alunos de pós-graduação,
o DPCT amealhou dois dos três prêmios
oferecidos. Em primeiro lugar, o trabalho Incubadora
tecnológica de cooperativas ITCP e IEBT,
diferenças e semelhanças no processo
de incubação, de Alessandra Azevedo
e Luiz Rodrigues de Oliveira, doutorandos do DPCT,
e Nguyen Tufino Baldeón e Maria Carolina de
Souza, do IE.
Existem atualmente 21 universidades
no Brasil que possuem incubadoras tecnológicas
de cooperativas populares. Estas incubadoras surgiram
no Brasil a partir de 1996, na Universidade Federal
do Rio de Janeiro, com o objetivo de transferir conhecimentos
tecnológicos, seja de gestão, produto
ou processo para a população excluída
econômica e socialmente. As semelhanças
e diferenças entre as incubadoras de bases
tecnológicas que em sua maioria também
estão instaladas em universidades , permitem
um campo vasto para debates. O trabalho premiado compara
ferramentas de incubação de cooperativas
populares e de empresas, identificando especificidades
e possíveis intersecções, além
do papel exercido por elas na universidade. Foram
apresentados os casos das incubadoras da Unicamp.
A doutoranda Maria Ester dal Poz
ficou em terceiro lugar, com um projeto de tese no
DPCT: Relações entre agrobiotecnologias
genômicas e direitos de propriedade intelectual:
rationale e agenda. O trabalho tem a co-autoria
de sua orientadora, professora Sandra Brisolla. O
artigo analisa as relações entre agrobiotecnologias
genômicas e as questões de direitos de
propriedade intelectual no âmbito das economias
globalizadas, a partir de uma análise comparativa
entre as leis nacionais e os Agreement on Trade Related
Intellectual Property Rights (TRIPS), da OMC.
O modus operandi e a internacionalização
das redes de genômica reforçam um mesmo
padrão, já que os resultados de pesquisa
estão disponíveis para a P&D em
bancos internacionais de genômica. Segundo as
autoras, o Brasil tem daplicado esforços em
pesquisa genômica sem que, em contrapartida,
sejam consideradas as condições relativas
ao comércio internacional. A implementação
de regimes de regulação e a participação
ativa do Brasil nestas discussões podem favorecer
a competitividade agrícola nacional, evitando
que a jurisprudência internacional seja consolidada
somente a partir da evidência empírica
apresentada pelos países desenvolvidos.
Enfim, o importante a ressaltar
é que em eventos dessa natureza pode-se perceber
o estágio do estado-da-arte de disciplinas
científicas e os temas que mais vêm sendo
debatidos na atualidade. No caso do Seminário
Altec 2003, a presença de professores e alunos
da Unicamp demonstrou a importância que vem
sendo dada aos estudos e à difusão das
discussões que cercam a questão da política
e da gestão da CT&I no país e na
região.
(*) Maria Beatriz Bonacelli
é professora do Departamento de Política
Científica e Tecnológica (DPCT), do
Instituto de Geociências da Unicamp.