Estudo associa composição corporal e
maturação sexual
em adolescentes
Pediatra avalia 1.348 alunos de
escolas
particulares de Campinas para tese de doutorado
LUIZ
SUGIMOTO
Pesquisa
de campo realizada pela pediatra Silvia Diez Castilho,
junto a 1.348 alunos de três escolas particulares
de Campinas, oferece uma nova ferramenta para avaliação
nutricional dos adolescentes. O ineditismo do estudo
está na associação dos métodos
usuais para avaliação do índice
de massa corpórea (IMC) com informações
sobre a maturação sexual, que normalmente
ocorre dos 9 aos 17 anos de idade. A médica
acaba de apresentar os resultados do estudo em tese
de doutorado na Faculdade de Ciências Médicas,
sob orientação do professor Antonio
de Azevedo Barros Filho.
A composição
corporal do adolescente é mais difícil
de ser interpretada, uma vez que a idade cronológica,
durante esta fase, perde parte de sua importância.
É freqüente que dois adolescentes de uma
mesma idade tenham corpos diferentes, pois as alterações
que levam o corpo de criança a se transformar
no de adulto podem ocorrer mais cedo ou mais tarde,
afirma Silvia Castilho. Da mesma forma, o fato de
os adolescentes estarem em fase de crescimento traz
limitações ao uso do IMC (peso sobre
altura ao quadrado), pois ele não reflete as
mudanças na composição corporal
e não se correlaciona de modo adequado com
a estatura.
Segundo a médica, nesta fase,
os jovens de ambos os sexos ganham massa magra. Contudo,
a menina ganha também gordura, enquanto o menino
perde tecido adiposo. O resultado na idade adulta
é que a massa muscular do menino vai dobrar,
enquanto na menina aumentará apenas em 50%;
e a mulher terá o dobro de gordura em comparação
ao homem. Em termos relativos, podemos dizer
que a menina ganha massa gorda e o menino ganha massa
magra. É uma característica do dimorfismo
sexual, que faz com que os corpos do homem e da mulher
tomem suas formas respectivas, ilustra a autora
da pesquisa.
Na adolescência, portanto,
o IMC reflete uma série de alterações
que precisam ser conhecidas, a fim de que seus valores
sejam corretamente interpretados, acrescenta
Silva Castilho. Tal dificuldade de interpretação
não existe em relação ao adulto,
no qual o aumento do índice, na maioria das
vezes, reflete o excesso de gordura, quando não
vem de outras fontes também conhecidas, como
ganho de musculatura (mais pesada que a gordura) na
prática de exercícios ou de doenças
que provocam acúmulo de água no organimos,
caso das renais e cardíacas.
A adolescência é um
dos períodos críticos para o desenvolvimento
da obesidade. Este distúrbio nutricional, quando
presente nesta etapa, tende a se manter na vida adulta.
Melhorar os métodos de avaliação
nutricional é uma preocupação
que cresce na mesma medida que a obesidade se torna
um grave problema de saúde no mundo, em todas
as idades. No adolescente, que está crescendo
e obviamente ganhando massa corporal, é necessário
saber se esse ganho de peso está acontecendo
dentro das proporções adequadas de massa
magra e massa gorda, observa a pediatra.
Nova tabela Existem métodos complexos
e caros para avaliar a composição corporal,
e outros simples, baratos e eficazes que podem ser
utilizados em clínicas e em estudos de campo.
Na sua pesquisa com adolescentes, Silvia Castilho
comparou dois métodos que permitem verificar
as porcentagens de massa magra e de massa gorda envolvidas
no aumento do IMC: a antropometria, que utiliza medidas
como peso e pregas cutâneas, e a bioimpedância
elétrica (BIA), que transmite ao corpo uma
corrente elétrica de baixa voltagem para detectar
a massa magra e indiretamente a gordura.
Estes dois métodos já
foram validados para avaliar a composição
corporal de adolescentes, mas a pesquisadora desejava
saber se os resultados das medidas eram concordantes,
o que possibilitaria utilizá-los com a mesma
confiabilidade em trabalhos de campo. A bioimpedância,
no caso, independe de profissionais treinados para
tomar as medidas. Os resultados foram comparáveis,
afirma a pesquisadora.
A novidade do estudo de Silvia Castilho está
na tabela, até então não formulada,
relacionando a massa corpórea do adolescente
com a maturação sexual, seguindo os
cinco estágios preconizados por Tanner. Na
menina, os estágios foram avaliados em relação
ao desenvolvimento das mamas, desde o aspecto infantil
até a mama adulta. No menino, em relação
ao aspecto do genital.
Roseira Existe grande
variação quanto ao momento em que começam
as transformações físicas em
cada adolescente, que o levarão ao corpo adulto
e à capacidade de procriar. Uma série
de fatores ambientais, familiares, emocionais
e relativos à saúde que interferem
no início do processo. São boas as probabilidades,
por exemplo, de que meninas que morem ao nível
do mar, no campo e em climas quentes, menstruem antes
do que aquelas que estão na montanha, na cidade
ou em climas frios. A obesidade, por sua vez, pode
antecipar a maturação sexual na menina
e atrasar no menino. A desnutrição é
outro fator, visto que um adolescente mal alimentado
vai utilizar suas energias para sobreviver, ficando
com baixas reservas para a maturação,
que será retardada.
Tenho duas filhas. A impressão
geral era de que a mais nova, porque sempre teve a
mesma estatura da mais velha, ficaria mais alta quando
adulta. Trata-se de um equívoco, pois uma menstruou
apenas dois dias depois da outra. Apesar dos dois
anos de diferença na idade cronológica,
ambas tinham a mesma idade maturacional. Hoje, elas
estão praticamente a mesma estatura final,
ilustra a pediatra. Como numa roseira, cada
flor abrirá a seu tempo, finaliza.
Sem constrangimento
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A pediatra Silvia Diez Castilho: A
composição corporal do adolescente
é mais difícil de ser interpretada |
Para sua pesquisa de doutorado,
a pediatra Silvia Castilho optou por avaliar
adolescentes em três escolas particulares
de Campinas, atingindo uma população
de classe média alta. Foram avaliados
1.348 alunos entre 9 e 17 anos de idade, selecionando-se,
dentre eles, 1.275. O projeto, aprovado pelo
Comitê de Ética da Unicamp, obedeceu
às normas que regulamentam as pesquisas
que envolvem seres humanos, sendo obtido o consentimento
livre e esclarecido por parte dos diretores
das unidades de ensino, bem como dos pais ou
responsáveis pelos adolescentes que participaram
do estudo.
Nas duas primeiras escolas
houve permissão para que a pesquisadora
falasse diretamente a pais e alunos; na terceira,
enviou-se aos pais uma carta esclarecendo os
objetivos e métodos do estudo, juntamente
com o pedido de consentimento a ser assinado.
O contato direto com pais e alunos demonstrou-se
mais eficaz, uma vez que dúvidas quanto
à avaliação maturacional,
aspecto mais polêmico da coleta de dados,
puderam ser devidamente esclarecidas. Ficou
claro que um médico do mesmo sexo se
encarregaria de fazer os exames, evitando constrangimentos,
recorda Silvia Castilho.
Nestas escolas, a adesão
à pesquisa foi de 41,6% e de 46,4%; na
terceira unidade, apenas 18,1% dos pais assinaram
o pedido de consentimento. Um rápido
olhar é suficiente para constatar o estágio
de maturação sexual. Como lidávamos
com adolescentes, havia o risco de que muitos
se recusassem a participar da avaliação,
apesar da aprovação dos pais.
Mas a desistência foi de somente 1,5%,
indicando que os demais resolveram bem o assunto
em família, supõe a pediatra.
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