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Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 240 - de 8 a 23 de dezembro de 2003
Leia nessa edição
Capa
Artigo: crer ou não crer
HC: hospital terciário
Do ofício à experiência
C&T: qualidade de vida
Pesquisa: destilador molecular
Discussão: tecnociência
Cooperunicamp: estímulo
Altec: unicamp é destaque
Estudo: maturação sexual
Painel da semana
Oportunidades
Teses da semana
Idosos: retratos da velhice
Sensoriamento remoto
 


 

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Estudo associa composição corporal e maturação sexual
em adolescentes
Pediatra avalia 1.348 alunos de escolas
particulares de Campinas para tese de doutorado

LUIZ SUGIMOTO

Pesquisa de campo realizada pela pediatra Silvia Diez Castilho, junto a 1.348 alunos de três escolas particulares de Campinas, oferece uma nova ferramenta para avaliação nutricional dos adolescentes. O ineditismo do estudo está na associação dos métodos usuais para avaliação do índice de massa corpórea (IMC) com informações sobre a maturação sexual, que normalmente ocorre dos 9 aos 17 anos de idade. A médica acaba de apresentar os resultados do estudo em tese de doutorado na Faculdade de Ciências Médicas, sob orientação do professor Antonio de Azevedo Barros Filho.

“A composição corporal do adolescente é mais difícil de ser interpretada, uma vez que a idade cronológica, durante esta fase, perde parte de sua importância. É freqüente que dois adolescentes de uma mesma idade tenham corpos diferentes, pois as alterações que levam o corpo de criança a se transformar no de adulto podem ocorrer mais cedo ou mais tarde”, afirma Silvia Castilho. Da mesma forma, o fato de os adolescentes estarem em fase de crescimento traz limitações ao uso do IMC (peso sobre altura ao quadrado), pois ele não reflete as mudanças na composição corporal e não se correlaciona de modo adequado com a estatura.

Segundo a médica, nesta fase, os jovens de ambos os sexos ganham massa magra. Contudo, a menina ganha também gordura, enquanto o menino perde tecido adiposo. O resultado na idade adulta é que a massa muscular do menino vai dobrar, enquanto na menina aumentará apenas em 50%; e a mulher terá o dobro de gordura em comparação ao homem. “Em termos relativos, podemos dizer que a menina ganha massa gorda e o menino ganha massa magra. É uma característica do dimorfismo sexual, que faz com que os corpos do homem e da mulher tomem suas formas respectivas”, ilustra a autora da pesquisa.

“Na adolescência, portanto, o IMC reflete uma série de alterações que precisam ser conhecidas, a fim de que seus valores sejam corretamente interpretados”, acrescenta Silva Castilho. Tal dificuldade de interpretação não existe em relação ao adulto, no qual o aumento do índice, na maioria das vezes, reflete o excesso de gordura, quando não vem de outras fontes também conhecidas, como ganho de musculatura (mais pesada que a gordura) na prática de exercícios ou de doenças que provocam acúmulo de água no organimos, caso das renais e cardíacas.

A adolescência é um dos períodos críticos para o desenvolvimento da obesidade. Este distúrbio nutricional, quando presente nesta etapa, tende a se manter na vida adulta. Melhorar os métodos de avaliação nutricional é uma preocupação que cresce na mesma medida que a obesidade se torna um grave problema de saúde no mundo, em todas as idades. “No adolescente, que está crescendo e obviamente ganhando massa corporal, é necessário saber se esse ganho de peso está acontecendo dentro das proporções adequadas de massa magra e massa gorda”, observa a pediatra.

Nova tabela – Existem métodos complexos e caros para avaliar a composição corporal, e outros simples, baratos e eficazes que podem ser utilizados em clínicas e em estudos de campo. Na sua pesquisa com adolescentes, Silvia Castilho comparou dois métodos que permitem verificar as porcentagens de massa magra e de massa gorda envolvidas no aumento do IMC: a antropometria, que utiliza medidas como peso e pregas cutâneas, e a bioimpedância elétrica (BIA), que transmite ao corpo uma corrente elétrica de baixa voltagem para detectar a massa magra e indiretamente a gordura.

Estes dois métodos já foram validados para avaliar a composição corporal de adolescentes, mas a pesquisadora desejava saber se os resultados das medidas eram concordantes, o que possibilitaria utilizá-los com a mesma confiabilidade em trabalhos de campo. A bioimpedância, no caso, independe de profissionais treinados para tomar as medidas. “Os resultados foram comparáveis”, afirma a pesquisadora.
A novidade do estudo de Silvia Castilho está na tabela, até então não formulada, relacionando a massa corpórea do adolescente com a maturação sexual, seguindo os cinco estágios preconizados por Tanner. Na menina, os estágios foram avaliados em relação ao desenvolvimento das mamas, desde o aspecto infantil até a mama adulta. No menino, em relação ao aspecto do genital.

Roseira – Existe grande variação quanto ao momento em que começam as transformações físicas em cada adolescente, que o levarão ao corpo adulto e à capacidade de procriar. Uma série de fatores – ambientais, familiares, emocionais e relativos à saúde – que interferem no início do processo. São boas as probabilidades, por exemplo, de que meninas que morem ao nível do mar, no campo e em climas quentes, menstruem antes do que aquelas que estão na montanha, na cidade ou em climas frios. A obesidade, por sua vez, pode antecipar a maturação sexual na menina e atrasar no menino. A desnutrição é outro fator, visto que um adolescente mal alimentado vai utilizar suas energias para sobreviver, ficando com baixas reservas para a maturação, que será retardada.

“Tenho duas filhas. A impressão geral era de que a mais nova, porque sempre teve a mesma estatura da mais velha, ficaria mais alta quando adulta. Trata-se de um equívoco, pois uma menstruou apenas dois dias depois da outra. Apesar dos dois anos de diferença na idade cronológica, ambas tinham a mesma idade maturacional. Hoje, elas estão praticamente a mesma estatura final”, ilustra a pediatra. “Como numa roseira, cada flor abrirá a seu tempo”, finaliza.


Sem constrangimento

A pediatra Silvia Diez Castilho: “A composição corporal do adolescente é mais difícil de ser interpretada”

Para sua pesquisa de doutorado, a pediatra Silvia Castilho optou por avaliar adolescentes em três escolas particulares de Campinas, atingindo uma população de classe média alta. Foram avaliados 1.348 alunos entre 9 e 17 anos de idade, selecionando-se, dentre eles, 1.275. O projeto, aprovado pelo Comitê de Ética da Unicamp, obedeceu às normas que regulamentam as pesquisas que envolvem seres humanos, sendo obtido o consentimento livre e esclarecido por parte dos diretores das unidades de ensino, bem como dos pais ou responsáveis pelos adolescentes que participaram do estudo.

Nas duas primeiras escolas houve permissão para que a pesquisadora falasse diretamente a pais e alunos; na terceira, enviou-se aos pais uma carta esclarecendo os objetivos e métodos do estudo, juntamente com o pedido de consentimento a ser assinado. “O contato direto com pais e alunos demonstrou-se mais eficaz, uma vez que dúvidas quanto à avaliação maturacional, aspecto mais polêmico da coleta de dados, puderam ser devidamente esclarecidas. Ficou claro que um médico do mesmo sexo se encarregaria de fazer os exames, evitando constrangimentos”, recorda Silvia Castilho.

Nestas escolas, a adesão à pesquisa foi de 41,6% e de 46,4%; na terceira unidade, apenas 18,1% dos pais assinaram o pedido de consentimento. “Um rápido olhar é suficiente para constatar o estágio de maturação sexual. Como lidávamos com adolescentes, havia o risco de que muitos se recusassem a participar da avaliação, apesar da aprovação dos pais. Mas a desistência foi de somente 1,5%, indicando que os demais resolveram bem o assunto em família”, supõe a pediatra.

 

 

 

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