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Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 240 - de 8 a 23 de dezembro de 2003
Leia nessa edição
Capa
Artigo: crer ou não crer
HC: hospital terciário
Do ofício à experiência
C&T: qualidade de vida
Pesquisa: destilador molecular
Discussão: tecnociência
Cooperunicamp: estímulo
Altec: unicamp é destaque
Estudo: maturação sexual
Painel da semana
Oportunidades
Teses da semana
Idosos: retratos da velhice
Sensoriamento remoto
 


 

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Sensoriamento remoto,
a salvação da lavoura
Pesquisadores da Unicamp participam de projeto que prevê ajuste de sensor em plataforma espacial; imagens de satélites orientarão produtores rurais

MANUEL ALVES FILHO

Jurandir Zullo Júnior, diretor do Cepagri: importante ferramenta para produtores rurais e gestores públicos

Ainda hoje é comum entre alguns agricultores brasileiros o hábito de tomar a terra nas mãos para verificar o seu nível de umidade e, assim, definir qual o melhor momento para irrigá-la. Dentro de poucos anos, tal decisão não precisará ser tomada com base em procedimento tão rudimentar. Em vez de recorrer apenas à intuição ou, no máximo, à análise do solo, o lavrador poderá valer-se de informações vindas do espaço. Imagens geradas por satélite revelarão se o terreno está mais seco do que o recomendado para o plantio. Mas para que os dados enviados do alto estejam o mais próximo possível da realidade encontrada no campo, é preciso calibrar o sensor instalado na plataforma Aqua, lançada em 20001 pela Nasa, a agência espacial norte-americana, para estudar o ciclo hidrológico da Terra. Esse trabalho está sendo executado com o auxílio de seis instituições de pesquisa brasileiras, entre elas a Unicamp. O objetivo final é fazer do sensoriamento remoto uma ferramenta útil não apenas para pesquisadores e gestores públicos, mas também para o produtor rural.

O projeto, concebido pela Nasa e Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), está sendo coordenado no Brasil pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Pela Unicamp, estão participando professores e estudantes de pós-graduação do Centro de Meteorologia e Climatologia Aplicadas à Agricultura (Cepagri) e Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri). Completam o conjunto de instituições brasileiras o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Católica de Brasília. Ao todo, são 39 pesquisadores, sendo dez da Unicamp.

De acordo com Jurandir Zullo Júnior, diretor do Cepagri, os preparativos para o desenvolvimento da pesquisa consumiram cerca de um ano. As negociações envolveram inclusive a Presidência da República, que teve de autorizar a entrada de um avião norte-americano no espaço aéreo brasileiro. O trabalho será realizado em duas etapas. A primeira ocorreria entre os dias 30 de novembro e 10 de dezembro, em Barreiras, município localizado no oeste da Bahia. A cidade foi escolhida porque apresenta características únicas: clima tropical e localização numa área de transição entre o cerrado e o semi-árido. Zullo explica que a primeira fase consiste na coleta de uma série de dados em 20 pontos previamente demarcados, como temperatura e umidade do ar, umidade do solo, velocidade do vento etc.

Durante essas atividades, os pesquisadores farão o que é tecnicamente conhecido como “passagem de escala”, procedimento indispensável à calibração do sensor. Vertendo para uma linguagem mais simples, as informações serão coletadas em três níveis: no solo, pelo avião norte-americano e pelo satélite, num mesmo instante. A segunda parte do estudo compreenderá o cruzamento e interpretação dessa massa de dados. O desafio é desenvolver um modelo matemático que permita verificar que tipo de imagem gerada do espaço corresponde à situação de campo. O diretor do Cepagri esclarece que esse tipo de ajuste é importante, pois ao ser lançado juntamente com o satélite, o sensor normalmente sofre alterações, que podem ser provocadas por uma série de fatores, entre eles a trepidação.

O professor Jansle Vieira Rocha: trabalho de previsão de safra será facilitado

Além disso, prossegue, a própria atmosfera pode interferir no funcionamento do equipamento, daí a necessidade da nova aferição. Zullo afirma que ainda é cedo para prever quanto tempo levará para concluir a pesquisa. Ele adianta, porém, que assim que os dados gerados pelo sensor estiverem disponíveis, tanto os produtores rurais quanto os gestores públicos terão uma importante ferramenta para orientar a tomada de decisões. “Embora não seja o único, o sensoriamento remoto é um recurso cada vez mais importante, por exemplo, para auxiliar na definição de políticas públicas na área agrícola. Por meio dessa ferramenta, somada a outras, é possível fazer até mesmo a previsão de safra”, explana.

O Diretor do Cepagri afirma, ainda, que os especialistas brasileiros aproveitarão o trabalho para calibrar sensores de outros dois satélites: o NOAA, que tem função meteorológica, e o CBERS-2, recém lançado pela China e Brasil. De acordo com Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, unidade que funciona no campus da Unicamp, o principal objetivo da análise dessa família de satélites “é monitorar a umidade do solo e adquirir dados meteorológicos e agrometeorológicos em larga escala”. Outra conseqüência importante dessa cooperação com especialistas de outros países, conforme Zullo, é a possibilidade da execução de intercâmbios, por intermédio dos quais alunos de graduação e pós-graduação brasileiros possam complementar seus estudos no exterior e vice-versa. Outro resultado esperado é a geração de artigos científicos.

Experiência – O convite para que a Embrapa e as demais instituições brasileiras participassem da empreitada deve-se, sobretudo, pela experiência acumulada por elas nas várias áreas que envolvem o sensoriamento remoto. A opinião é do professor Jansle Vieira Rocha, da Feagri-Unicamp. A Faculdade, de acordo com ele, mantém uma linha de pesquisa em geoprocessamento voltada ao monitoramento de culturas como cana-de-açúcar, soja, café e milho. O estudo integra um projeto nacional de previsão de safra, que está sob os cuidados da Companhia Nacional de

Abastecimento (Conab), agência do Ministério da Agricultura.
Rocha diz que o conhecimento da umidade do solo é importante por se tratar de um fator que mantém relação com a produtividade e, conseqüentemente, com o trabalho de previsão de safra, objeto de estudo da equipe que coordena. A partir da calibração do sensor, explica o docente da Feagri, as imagens geradas pelo satélite ganham em confiabilidade. “Tendo uma boa correlação entre os dados enviados do espaço e a situação do campo, nós temos condição de regionalizar a informação, a ponto de saber se uma área de grande extensão necessita ou não de irrigação”, ensina.

Essa capacidade de ampliar a escala de monitoramento, continua Jansle, é fundamental para reduzir tempo e custos. Atualmente, como citado na abertura deste texto, o produtor tem que recorrer à intuição ou a análise do solo para saber se é o momento de irrigar. No caso de uma região inteira, é preciso lançar mão da simulação de balanço hídrico, que tem por base indicadores como a medição diária do volume de chuva e do nível de evaporação, para poder tomar tal decisão. “Com o sensoriamento remoto, nós temos como ser mais ágeis, abrangentes e precisos no diagnóstico”, diz o pesquisador da Feagri.

De acordo com os professores Jansle e Zullo, a expectativa é que os dados gerados pelos satélites sobre a umidade do solo possam ser colocados à disposição dos interessados na internet, o que permitiria o acesso sem qualquer custo. “Esse é um dos princípios do Cepagri. Aqui, todos as informações que geramos são disponibilizadas gratuitamente”, afirma o diretor do Centro, que, junto com o colega da Feagri, integrou a comitiva que executou o trabalho de campo na Bahia.

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