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Especialistas do Brasil e do Exterior debatem
em seminário propostas no contexto da globalização

Novas pautas para os
desafios do desenvolvimento



MANUEL ALVES FILHO



A Unicamp sediou nos últimos 6 e 7 de dezembro o seminário internacional "Os Desafios do Desenvolvimento no Século XXI". O evento, que lotou o auditório do Instituto de Economia (IE), reuniu importantes pesquisadores brasileiros e internacionais, que aproveitaram a oportunidade para refletir sobre os problemas do desenvolvimento econômico no mundo contemporâneo. Na abertura dos trabalhos, o reitor Carlos Henrique de Brito Cruz destacou a importância e a pertinência do tema para o país. "No momento em que o Brasil discute sua política industrial e se volta com mais otimismo para o futuro, este debate ganha ainda maior relevância. O Instituto de Economia, nesse aspecto, insere-se na discussão e cria a possibilidade de proposições e entendimento", disse.

Cartéis de pequenas empresas, uma das propostas

De acordo com o diretor do IE, Marcio Percival Alves Pinto, as discussões em torno Ajit Singh, da Universidade de Cambridge: autoridade internacional para regulamentar a concorrênciada problemática do desenvolvimento remontam ao período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial. De lá para cá, afirmou, o tema foi incorporado e desincorporado diversas vezes da agenda dos países. "No final dos anos 90, o assunto foi retomado, mas num cenário completamente diferente, ou seja, em pleno avanço da globalização e em meio ao processo de desmonte dos estados". No entender do especialista, o Brasil terá um grande desafio pela frente para formular uma nova pauta. Esta, acrescentou, terá que contemplar tópicos como a inovação tecnológica, a inclusão dos miseráveis e a definição de um mecanismo capaz de soldar os diversos interesses em jogo.

Professor da Universidade de Cambridge, Ajit Singh defendeu durante o seminário a criação de uma autoridade internacional para regulamentar a concorrência entre os países. De acordo com ele, em tempos de globalização, as nações, aqui incluídas as emergentes, não podem mais planejar o seu desenvolvimento com base apenas no contexto doméstico. Ações nesse sentido, afirmou, acabam sendo submetidas a uma espécie de escrutínio internacional. A principal missão do organismo proposto por Singh seria estabelecer restrições às fusões internacionais promovidas pelas multinacionais. "O objetivo é impedir que elas abusem da sua posição dominante", explicou o pesquisador. As múltis, segundo Singh, não deveriam crescer por meio da incorporação de outras empresas, mas sim internamente. Neste último caso, assinalou o docente de Cambridge, as grandes corporações não encontrariamAlberto Salazar Valle, professor da York University: lei da concorrência para coibir abuso impedimento.

Alberto Salazar Valle, professor da York University, propôs em sua conferência que os países da América Latina adotem ou promovam mudanças em suas leis de concorrência. De acordo com ele, essas nações deveriam desconsiderar o modelo anglo-americano, baseado na competição ferrenha e na regulação pelo mercado, e adotar padrões mais adequados às suas realidades. Um dos focos dessa transformação, disse, seriam as pequenas empresas, consideradas por ele como fundamentais para gerar inovação tecnológica e promover o desenvolvimento. "A lei da concorrência deve incentivar a cooperação entre as pequenas empresas, permitindo inclusive a formação de cartéis para a definição de preços em tempos de recessão, por exemplo", sugeriu.

A idéia, prosseguiu o docente da York University, é substituir a negociação individual pela coletiva. "Assim, as pequenas tendem a se fortalecer e a obter condições de encarar situações que lhe são adversas", esclareceu. Entre os problemas freqüentemente enfrentados por essas corporações estão o cancelamento de pedidos à última hora e o atraso nos pagamentos por parte das grandes empresas. "A lei da concorrência viria para coibir esse tipo de abuso", insistiu. O especialista citou trêsO professor Luciano Coutinho, do Instituto de Economia: novas reflexões em torno do desenvolvimento experiências que, a seu ver, poderiam servir de referência aos países latino-americanos. A primeira vem da Alemanha, onde a legislação permite a formação de cartéis pelas pequenas empresas. Lá, elas se fortaleceram e conquistaram uma melhor posição para negociar com as grandes.

O mesmo ocorreu no Japão, país que controla firmemente as condições dos contratos firmados entre as pequenas e as grandes corporações. "Lá, a lei impõe que os pagamentos devem ser feitos em dia e que os pedidos não podem ser cancelados repentinamente", contou Valle. Experiência mais recente nesse sentido vem da África do Sul, que também estabeleceu normas para proteger as pequenas empresas. "Os sul-africanos aumentaram o poder de propriedade das pequenas empresas, historicamente marginalizadas", revelou. E por que os países da América Latina ainda não adotaram modelos similares? Valle disse que a resposta é difícil de ser dada, mas admitiu acreditar que isso se deve à forte influência da política de concorrência anglo-americana sobre as nações emergentes. "Entretanto, está que provado que esse modelo não lhes serve", analisou.
O diretor do IE, Marcio Percival Alves Pinto: pauta que contemple tópicos como a inovação e a inclusão social

Um dos organizadores do seminário, o professor Luciano Coutinho, que também é membro do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) do Instituto de Economia da Unicamp, afirmou que o evento será o ponto de partida para que o NEIT faça novas reflexões em torno da questão do desenvolvimento. Segundo ele, os debates possivelmente darão origem a uma publicação. Coutinho considerou que o Brasil está diante de uma chance histórica de criar condições para o crescer de forma sustentável e, posteriormente, alcançar o tão sonhado desenvolvimento. "Ainda estamos longe disso. Nossa economia continua vulnerável, mas já dá sinais de que poderá se revigorar. A redução da dívida e o saldo positivo da balança de pagamentos vão nessa direção", afirmou.

Temas aproximam dois grupos de pesquisadores

O seminário internacional "Os Desafios do Desenvolvimento no Século XXI" serviu para aproximar dois grupos de pesquisadores com reflexão acadêmica sobre os problemas contemporâneos do desenvolvimento econômico. O primeiro compreende os participantes do Cambridge Advanced Programme on Rethinking Development Economics (CAPORDE) e o segundo reúne membros do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) do Instituto de Economia (IE) da Unicamp. De acordo com os organizadores, o encontro propiciou a comparação de visões, agendas de pesquisa e resultados.

A expectativa é que, a partir do que foi debatido, o evento permita identificar oportunidades de cooperação, intercâmbio e elaboração de projetos conjuntos. Outro objetivo do seminário, sublinharam os organizadores, foi estimular docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação de outros centros de ensino e pesquisa no Brasil a contribuir para o aumento da produção e para o aprofundamento dos debates sobre o desenvolvimento brasileiro. Confira, na seqüência , os convidados internacionais do seminário.

Ajit Singh

Professor do Departamento de Economia da Universidade de Cambridge, Reino Unido e Senior Fellow do Queens’ College. Consultor de várias organizações das Nações Unidas: Organização Internacional do Trabalho (OIT), UNCTAD e UNIDO Consultor do Banco Mundial. Publicou grande artigos em diversos periódicos científicos: Economic Journal, Review of Economic Studies, European Economic Review, International Journal of Industrial Organization, World Development, Oxford Review of Economic Policy, Cambridge Journal of Economics e Journal of the Royal Statistical Society. Autor do livro: "Takeovers: Their Relevance to the Stock-market" and the Theory of the Firm" e co-autor de "Growth, Profitability and Valuation". Co-editor do livro "Competitiveness Matters: Industry and Economic Performance in the U.S."

Lance Taylor

Professor do International Cooperation and Development e Director do Center for Economic Policy Analysis da New School University, Nova York, Estados Unidos. Autor de inúmeros artigos e livros sobre macroeconomia e política econômica: "Varieties of Stabilization Experience", "Income Distribution, Inflation, and Growth: Lectures on Structuralist Macroeconomic Theory", "The Rocky Road to Reform: Adjustment, Income Distribution, and Growth in the Developing World", "The Market Meets its Match: Restructuring the Economies of Eastern Europe", "Global Finance at Risk: The Case for International Regulation", "External Liberalization, Economic Performance, and Social Policy", "Reconstructing Macroeconomics: Structuralist Proposals and Critiques of the Mainstream", "External Liberalization in Asia, Post-Socialist Europe, and Brazil".

José Gabriel Palma

Professor da Faculty of Economics and Politics, Cambridge University, Reino Unido. Artigos publicados em diversos periódicos científicos: World Development, Cambridge Journal of Economics, El Trimestre Económico, Cambridge Journal of International Affairs e Journal of Development Issues. Autor e organizador de inúmeros livros: "The Chilean Road", "Kaldor’s Contribution to Political Economy", "Capital Controversy, Post Keynesian Economics and the History of Economic Thought: Essays in Honour of Geoff Harcourt", "Financial Liberalization and the East Asian Crisis", "Richard Kahn’s Contribution to Political Economy" (no prelo).

Há-Joon Chang

Diretor assistente do Development Studies, Faculty of Economics and Politics, University of Cambridge. Diretor do Cambridge Advanced Programme on Rethinking Development Economics (CAPORDE). Consultor de agências internacionais: UNIDO, UNCTAD, CEPAL, WIDER, UNRISD, INTECH, OIT. Consultor do Banco Mundial e do Asian Development Bank. Publicou artigos em diversos periódicos científicos: The Economic and Labour Relations Review, Cambridge Journal of Economics, Journal of Development Studies, Asia-Pacific Development Journal, Journal of International Development, Journal of Development Studies, World Development, Challenge, International Journal of Development Planning Literature, Oxford Development Studies, Journal of Post-Keynesian Economics e Journal of Development Research. Autor de diversos livros: "The Political Economy of Industrial Policy", "El Papel del Estado en el Cambio Económico", "Kicking Away the Ladder – Development Strategy in Historical Perspective", "Restructuring Korea Inc.", "Globalization, Economic Development and The Role of the State", "The Northern WTO Agenda on Investment – Do as We Say, Not as We Did", "Reclaiming Development – An Alternative Economic Policy Manual", "The East Asian Development Experience – The Miracle, the Crisis, and the Future" (no prelo).

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