Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 311 - de 5 a 18 de dezembro de 2005
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Transistor rende prêmio
Gestores voltam à sala de aula
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O canto que une
 

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Gestores usam, via Web, tecnologia pedagógica desenvolvida na própria Unicamp

Curso junta aula presencial
e ensino a distância




RAQUEL DO CARMO SANTOS



Gestores-estudantes recebem material de apoio no saguão do Ciclo Básico 2: alunos já chegaram com acesso a toda matéria do curso (Foto: Antoninho Perri)O envolvimento na formulação de um programa inédito dedicado aos gestores da rede pública de ensino fez com que Agueda Bernardete Bittencourt, coordenadora-executiva do projeto, se visse contagiada pelo entusiasmo dos professores e pesquisadores que remeteu-a à época em que chegou na Universidade, há 23 anos. “Éramos todos mestrandos e já professores. Agora, novamente, me vi fazendo algo novo; a empolgação foi muito grande”, destaca.

Agueda revela que o material pedagógico distribuído aos participantes do curso – três livros com conteúdo para atividades em sala de aula – foi elaborado em um mês e meio. “As publicações foram catalogadas e já pertencem ao acervo da Biblioteca Nacional”, esclarece. A coordenadora acredita que esse detalhe dá ao gestor-estudante a dimensão do cuidado com que a Faculdade de Educação preparou o programa. “Defendia, desde o início, que o curso não fosse simplesmente apostilado. Fomos felizes nessa iniciativa, mesmo considerando alguns problemas técnicos que acabaram ocorrendo”. Segundo a coordenadora, em razão disso os alunos já chegaram, no primeiro dia de aula, com acesso a toda a matéria do curso.

Cursista usa internet para se manifestar

A professora Agueda Bernardete Bittencourt, coordenadora-executiva do projeto: livros dimensionam, para os gestores, cuidado com que a Faculdade de Educação elaborou o programa  (Foto: Antoninho Perri)Com relação à avaliação do desenvolvimento das disciplinas, semanalmente os coordenadores do curso recebem relatórios dos monitores de turma que acompanham o desempenho dos cursistas no TelEduc, uma ferramenta de ensino a distância desenvolvida na própria Unicamp e que hoje é utilizada por mais de 3 mil instituições. “Eu, pessoalmente, imaginei que o contato fosse acontecer de maneira distanciada, mas percebo que não. As pessoas têm nome, endereço e contam suas histórias na medida em que realizam os trabalhos”.

Outro aspecto que vale ressaltar, na opinião da professora, são as inúmeras manifestações espontâneas recebidas via internet. Antes das aulas presenciais terem início, era visível a ansiedade dos inscritos com relação à matrícula e a outras particularidades do curso. As mensagens, porém, não pararam por aí. Depois da primeira aula presencial, e-mails de diferentes pontos do Estado continuaram a ser enviados. Desta vez, relatando alguns problemas típicos do início de um projeto tão ambicioso ou expressando a satisfação pelo trabalho realizado. “Isso me parece relevante”.

Ineditismo – A experiência é nova para a professora Aparecida Neri de Souza, da Faculdade de Educação da Unicamp. Ela admite que pertence a uma geração que não está ligada em chat e que, na maioria das vezes, não domina alguns dos mecanismos de comunicação virtual. Costuma dizer para seu grupo de monitores que todos estão aprendendo. Mas, numa primeira impressão, o curso construído pelos professores tem rendido bons resultados. “Ao contrário dos formatos de programas de educação a distância convencionais, este tem uma proposta diferente e interessante. A atividade feita a distância não é isolada da etapa presencial. Aliás, ela prepara o estudante para as discussões em sala de aula, pois durante a semana os cursistas precisam ler o texto e produzir uma lauda contendo uma reflexão sobre a problematização”, explica.

O professor Sérgio Leite, da Faculdade de Educação: encontrando um grupo muito motivado (Foto: Mani Maria Pereira)Mais do que uma nova concepção, Aparecida Neri acredita que o volume de informações que terá ao final dos módulos será de grande valia para as pesquisas na Faculdade. A professora concentra seus estudos na Universidade nas áreas de relações de trabalho e profissão docente. “Nos trabalhos sempre solicitamos que se faça uma reflexão inerente às atividades cotidianas. Isto significa que teremos uma quantidade formidável de material para pesquisa”, esclarece.

O professor Sérgio Leite, também da Faculdade de Educação, acredita que o grande fato não é o programa ter sido construído parte a distância e parte presencial. Na sua opinião, o ineditismo em estabelecer relações com os diretores, supervisores e dirigentes de ensino supera qualquer outro aspecto. “Até por tradição, estamos calejados de interagir com professores. Esse é o nosso alvo constantemente. Agora, entretanto, tendo um público de diretores, é muito diferente. Trata-se de um desafio”, avalia. Leite faz parte de um grupo de 10 docentes que ministram temas ligados à Língua Portuguesa e ficou satisfeito com a organização e o apoio logístico que recebeu. “Fiquei feliz também ao entrar em sala de aula e encontrar um grupo extremamente motivado. Todos haviam lido os textos e as discussões foram aquecidas”, afirma. “O ensino a distância é um instrumento fantástico”.

DEPOIMENTOS
(Foto: Antoninho Perri)

Delvi Ferreira Alexandre, dirigente de ensino de Itapeva. Desde que começou a se dedicar à Educação, em 1987, Delvi nunca havia testemunhado algo “tão grandioso” como o curso coordenado pela Unicamp. Ele fez carreira no Estado, passando por todas as funções. Quando chegou ao cargo de dirigente de ensino, em 1996, teve que lidar com a falta de faculdades que pudessem acolher, na sua região, os profissionais que desejassem fazer cursos de aprimoramento. “A iniciativa é pioneira e importante na medida em que os diretores terão contato direto com os pesquisadores da Unicamp. O ambiente acadêmico vai despertar reflexões interessantes. Nossa região ficou acima da média no último Saresp. Temos o menor índice de evasão no ensino médio do Estado, mas não estamos contentes. Queremos aprimorar o aspecto pedagógico. Nosso maior desafio tem sido ‘alcançar’ os alunos que passaram pela progressão continuada há dois anos. Precisamos ‘aprender’ a trabalhar com esses estudantes que, embora avancem, não conseguem render o desejado”.

(Foto: Antoninho Perri)

Nazaré Sansão, diretora da E.E. Dom Lúcio Antunes de Souza, em Botucatu, e Dulcinéia de Oliveira Anselmo Bertoncini, vice-diretora da E.E. de Bofete. Em seus 20 anos de magistério, Nazaré sempre defendeu a bandeira da especialização, até por acreditar na importância da atualização do aprendizado. “O curso em nível de pós é uma reivindicação antiga da diretoria de ensino; espero que seja apenas o primeiro passo. Na verdade, acredito que a iniciativa terá sido válida se conseguirmos estabelecer relações que nos permitam desenvolver projetos de mestrado e doutorado. O sacrifício que estamos fazendo é grande. Os problemas não são menores. A escola está desvalorizada enquanto instituição. Precisamos de algo que nos ofereça estratégias para que possamos conciliar tantas questões ao mesmo tempo”. Dulcinéia, sua colega, endossa os comentários. Ambas integram um grupo da região de Botucatu. Vice-diretora da única escola estadual da cidade de Bofete, Dulcinéia acha que o investimento nos educadores tem sido grande. “Muitos estavam parados no tempo; não podemos perder as oportunidades”.

(Foto: Antoninho Perri)

Raquel Maria Sartori Sodré Ferreira, diretora da E.E. José Belmiro Rocha Gaimbe, em Lins; Maria Helena Fagundes Dal Col, diretora da E.E. Professora Júlia Ferreira Leite, em Guarantã. “Acho ótima a iniciativa. O investimento nos diretores é algo inédito na história da Educação do Estado. Eu não poderia perder a chance, tanto que deixei dois filhos pequenos em casa. Um, inclusive, tem 10 meses de idade. Acho que serei recompensada pelo esforço em passar a noite em Campinas por conta da distância. Um dos grandes problemas que enfrento na diretoria é a falta de participação dos pais no desenvolvimento escolar dos filhos. O diretor precisa buscar soluções para problemas variados, sejam eles de ordem administrativa ou pedagógica. Por isso, o curso pode abrir caminhos para organizar melhor as idéias. Na minha avaliação, as primeiras aulas do curso foram interessantes. Os textos são bons e permitem reflexões mais aprofundadas”, declara Raquel. A diretora Maria Helena diz que também enfrenta dificuldades no convívio com a comunidade local.

(Foto: Antoninho Perri)

Celso Zanardo, vice-diretor da E.E. Otacílio Alves de Almeida, em São José do Rio Preto. Vice-diretor de escola em São José do Rio Preto, Zanardo já sabe que os nove meses que tem pela frente serão “puxados”. Aos sábados, para chegar ao campus de Barão Gerado, precisa sair de sua cidade por volta das três horas da madrugada. Celso, porém, não se incomoda. Tem a convicção de que é preciso acompanhar as mudanças verificadas nos âmbitos educacional e comportamental. “É fundamental que busquemos inovações, porque precisamos crescer. Participar de um curso de especialização é importante porque o conhecimento produzido na universidade é compartilhado. Acredito que a questão mais urgente hoje é a disciplinar, pelo menos na escola pública. Todo mundo busca o aprimoramento da disciplina. Se o curso nos oferecer subsídios para prender a atenção do aluno, será um grande salto. Creio que estamos no caminho certo, principalmente em razão desses encontros. Neles, podemos somar as competências”.