O fato de duas universidades brasileiras integrarem pela primeira vez o ranking das 200 melhores (veja quadro abaixo) ganha ainda mais relevo se for levado em conta que, dos 5,1 mil acadêmicos ouvidos na pesquisa, poucos escolheram instituições de seus países. Ademais, o regulamento proíbe o voto na instituição de origem do entrevistado, que não raro joga suas fichas nas mais famosas. A análise é de Martin Ince, editor do Higher Education Supplement, do The Times.
Ince é autor da reportagem que trouxe à luz os números do levantamento. Seu texto é levemente editorializado, com um quê de ensaio e análise, na melhor tradição da escola britânica. Linha editorial ou pendor estilístico? O editor responde na lata. “O jornal acredita que a transparência e a globalização só trazem benefício para a educação superior. Compartilho dessa visão”.
Ince sabe onde está pisando. Tergiversar não é a melhor política quando o público-alvo é qualificado e tido como vaidoso. A globalização mencionada pelo editor está longe do conceito usado indiscriminadamente nas últimas três décadas. No rol de interlocutores do jornalista, por exemplo, figura o sociólogo catalão Manuel Castells, autor da trilogia A Era da Informação. Os muitos encontros mantidos com um dos teóricos mais respeitados do mundo renderam o livro Conversas com Manuel Castells.
Não causa estranheza, portanto, o fato de Ince destacar as entrevistas on-line feitas para a composição do ranking como o diferencial em relação a levantamentos similares. O jornalista lembra também que estes, produzidos em sua maioria em Xangai, baseiam-se em indicações circunscritas à excelência no campo das ciências. “O nosso classifica as universidades em seu conjunto”.
O editor do The Times pondera que, a despeito de serem utilizados critérios diferentes, as pesquisas apontam resultados semelhantes no que diz respeito à lista dos melhores. Na opinião de Ince, a convergência faz despontar uma “genuína elite mundial de universidades”.
E o que pensam insatisfeitos e não-contemplados? O jornalista revela que as queixas mais recorrentes relacionam-se à eliminação de publicações e artigos escritos em outra língua que não a inglesa. Outro ponto controverso é a análise feita pelos pares como meio válido de julgamento o quesito é alvo de críticas de um contingente razoável de acadêmicos.
No caso da língua, reconhece Ince, os organizadores vêm buscando soluções que corrijam eventuais distorções. As mudanças morrem aí. O jornalista faz uma defesa intransigente da consulta aos pares. Alega que o questionário é submetido a pesquisadores reconhecidos, e são eles os mais preparados para indicar aqueles que se destacam em seus respectivos campos de atuação. “Insistimos: trata-se de um critério razoável”.
Esses alaridos são provocados, em certa medida, pela notoriedade adquirida por rankings acadêmicos, em particular o do Higher Education Supplement. Ince lembra que, além de a mídia ressoar amplamente seus resultados, o levantamento é usado por toda a comunidade acadêmica de dirigentes a estudantes e por instâncias governamentais. Segundo o jornalista, esse interesse está em alta em todo o mundo, especialmente em países asiáticos, entre os quais China, Japão e Coréia.
Estar no meio do vespeiro parece não abalar Ince, que acha “fascinante” constatar, em meio às divergências e a milhares de dados, que as eleitas são de fato as melhores. “É algo muito reconfortante”.