"Pouco sobrou dos espaços arborizados, com praças e vasta programação de atividades culturais e de lazer. O Centro de Campinas passou a ser apenas um lugar de passagem. Nem mesmo os cinemas sobreviveram às transformações. A região central chegou a ter sete salas de exibição de filmes”, destaca a geógrafa Francis Pedroso em sua dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Geociências (IG).
O processo que deflagrou as mudanças teve início, de acordo com o estudo, com o Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, conhecido como Plano Prestes Maia, cuja consolidação deu-se em meados do século 20. A intervenção urbanística alterou toda a configuração da região central da cidade. “Campinas era uma cidade de trens, mas foi sendo projetada para a circulação de carros. Foram demolidos mais de 300 prédios na intenção de substituir o velho pelo novo, sem que fossem medidas as conseqüências”, avalia a autora do estudo.
A nova configuração também passa pelas construções arquitetônicas. Segundo Francis, a cidade não preservou seu patrimônio histórico, com raras exceções. Ela cita o exemplo das cidades de São Paulo e Ribeirão Preto, que mantiveram intactas suas principais construções. “Em Campinas, temos uma mistura de estilos, pois poucos prédios são tombados. Trata-se de uma cidade sem memória, com sua identidade comprometida”, alerta a geógrafa.
No trabalho, orientado pela professora Claudete de Castro Silva Vitte, Francis analisa as principais mudanças ocorridas tanto nas construções arquitetônicas como no comportamento da população. Os shoppings, argumenta a geógrafa, contribuíram para este novo cenário Campinas é uma das poucas cidades que possui este tipo de centro de compras para todas as classes sociais. “O fenômeno, de certa forma, afastou os grandes investimentos da região, que ficou caracterizada como um lugar de oferta de produtos mais baratos”, analisa.
Os antigos moradores do Centro também foram se afastando, dando lugar à expansão do comércio. Ao contrário do que se observava nos anos de 1950 ou 1960, em que a grande massa da população morava na região, hoje os moradores são, em geral, idosos e estudantes em busca de facilidade de locomoção. As praças, com isso, foram também desaparecendo, como foi o caso da Praça Lago dos Cisnes - um dos cartões postais da cidade nos anos de 1970. O local foi transformado em terminal de ônibus urbano.