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1 2 3 4 5 67 8 9 10 11 12 Quando o médico e cientista brasileiro Carlos Chagas (1879-1934) há 90 anos descobriu a doença de Chagas, já reconhecia que a única maneira de tentar controlar a disseminação da moléstia era o combate ao barbeiro, pela melhoria das habitações miseráveis da população rural da época. Nove décadas depois, no entanto, a doença continua matando, apesar das campanhas de controle do vetor desenvolvidas pelas autoridades governamentais. Estima-se que há hoje no Brasil entre três e oito milhões de pessoas infectadas. Essa discrepância nos números deve-se ao fato de que a notificação da doença não é obrigatória, o que torna impossível qualquer estimativa mais acurada de prevalência e incidência da moléstia. Foi para celebrar os 90 anos da descoberta da doença que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades sanitárias internacionais declararam 1999 o "Ano de Carlos Chagas". Paralelamente, a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp realizou recentemente o simpósio "Doença de Chagas, com a participação de autoridades e pesquisadores de diversos Estados do Brasil. Os especialistas reafirmaram sua importância: "Depois da Aids, ela é uma das doenças endêmicas mais importantes no Brasil e na América do Sul, onde estão infectados cerca de 18 milhões de indivíduos, estando em risco mais de 90 milhões de pessoas", informa Rachel Lewinsohn, do Núcleo de Medicina e Cirurgia Experimental da FCM e organizadora do evento. Ela explica que todas as ocorrências da doença deveriam ser notificadas às autoridades sanitárias não apenas os casos agudos, como ocorre atualmente. A transmissão pode ser vetorial, pela picada do barbeiro, através de transfusão de sangue, por via placentária, por transplante de órgãos e, excepcionalmente, por via oral. É pouco provável que os casos agudos, quando aparecem, possam ser notificados porque, na maioria das vezes, ocorrem em regiões onde não existem médicos que possam fazer o diagnóstico e o devido registro da doença. Maior controle O surgimento da Aids diminuiu a contaminação da doença de Chagas, pelo maior controle do sangue transfundido. Por outro lado, verifica-se que os infectados pela forma indeterminada da doença crônica geralmente não sabem que são pessoas doentes. Isso porque a doença é silenciosa, totalmente assintomática, e o doente, como no caso da Aids, pode nem se dar conta de que é portador de uma moléstia tão grave. "Esses doentes são verdadeiras bombas-relógios, porque, se um desses infectados doar sangue, e se esse sangue não for devidamente analisado, pode transmitir a doença. Neste caso, a doença é fulminante", diz Rachel. Diferentemente da Aids, porém, que atinge pessoas de todas as classes, a doença de Chagas não é nada democrática: afeta só a classe pobre. Até hoje não existe tratamento eficaz para controlar ou curar a moléstia em seu estado crônico; há apenas um medicamento, o benzonidazol, cuja eficácia é mais ou menos comprovada em casos agudos, isto é, quando aplicado logo no início da doença, nas primeiras duas ou quatro semanas após a infecção. Principalmente nas regiões pobres do interior, as choupanas e choças, com cobertura de palha ou sapé e com paredes rachadas, podem estar maciçamente infestadas de barbeiros. O barbeiro, também conhecido por chupão, carrega no seu intestino o parasita denominado Trypanosoma cruzi, que ingeriu com o sangue contaminado do homem ou de um animal. Todavia, não é a picada do inseto que transmite o parasita, mas, ao chupar o sangue, o barbeiro defeca. Quando uma pessoa picada pelo barbeiro se coça, introduz o T. cruzi na pele. "E são as fezes que contêm o parasita que vai contaminar o indivíduo", assinala a professora Rachel. Os parasitas invadem primeiro as células da pele e, em seguida, a circulação sangüínea, localizando-se e multiplicando-se nos gânglios parassimpáticos do sistema nervoso autônomo. Na fase inicial aguda, a doença caracteriza-se por febre e muitos parasitas circulantes no sangue, seguindo-se uma fase crônica, febril, com poucos parasitas. Na fase aguda, há alterações no organismo da pessoa, sobretudo lesões cardíacas e digestivas no esôfago e no intestino grosso. Nesta fase, assim como na reagudização da fase crônica ou indeterminada, pode ocorrer morte súbita. (A.R.F.) Carlos Ribeiro
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