Unicamp quer incrementar
licenciamento de patentes
Meta da Agência de Inovação
da Unicamp é obter pelo menos dez licenciamentos
novos por ano
CLAYTON
LEVY
Agência de Inovação
da Unicamp (Inovacamp) deu início a uma série
de ações para incrementar o licenciamento
de patentes registradas pela universidade. A meta
é obter, a partir deste ano, pelo menos dez
licenciamentos novos por ano, o que representa um
significativo salto para os padrões brasileiros.
O plano de ação inclui uma seleção
das patentes já depositadas, prospecção
de mercado para identificar clientes potencialmente
interessados em licenciar os inventos, e a formulação
de uma política de propriedade intelectual
específica da Unicamp, o que também
é inédito entre as universidades brasileiras.
Há muita coisa a
ser feita nesse campo, diz a diretora de propriedade
intelectual da Inovacamp, Rosana Ceron Di Giorgio.
Apesar de o número de patentes requeridas estar
aumentando a cada ano (pulou de 23 em 2001 para 58
em 2002, devendo fechar 2003 com 56), o índice
de licenciamentos ainda é pequeno. Das 300
patentes registradas pela Universidade desde 1990,
apenas uma pequena parcela foi licenciada. Queremos
mudar esse quadro, incrementando o processo de licenciamento,
explica.
Essa nova postura, segundo Rosana,
é fundamental para o processo de inovação
tecnológica do País. Segundo dados do
livro Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação
no Brasil, organizado pelo economista Eduardo Viotti
e publicado recentemente pela Editora da Unicamp,
de 1981 a 2000, o número de artigos científicos
publicados por autores nacionais subiu 400%, passando
de 1.889 para 9.511. Apesar da evolução
numérica na produção científica
nacional, em 2000 foram registradas apenas 98 patentes
brasileiras nos Estados Unidos, enquanto a Coréia
do Sul, que tem uma produção científica
equivalente à brasileira, registrou 3,3 mil
no mesmo ano. Ou seja, o Brasil já sabe fazer
ciência, mas ainda não aprendeu a transformá-la
em crescimento econômico.
Na década de 90, as universidades
brasileiras depositaram 355 pedidos de patentes no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A Unicamp foi a que teve mais registros, 125. Em seguida,
aparecem a Universidade de São Paulo (USP),
com 76 depósitos, Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), com 39, Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), 31, e Universidade Estadual Paulista
(Unesp), 13 pedidos. Essas cinco universidades detêm
80% do total de pedidos de patentes oriundas das universidades,
segundo levantamento de dados e análises organizado
pelo economista Eduardo Assumpção, do
INPI, no estudo O Sistema de Patentes e as Universidades
Brasileiras nos Anos 90.
O primeiro passo da Unicamp para
incrementar os licenciamentos foi efetuar uma filtragem
das patentes. Das 300 já registradas, a Inovacamp
selecionou 70 com maior potencial de mercado. Estas
70 foram divididas por áreas de conhecimento
em cinco grandes subgrupos. São eles: alimentos,
produção industrial; produção
rural; tecnologia da informação e telecomunicações;
e exploração de recursos naturais. Na
entrevista que segue, Rosana detalha o plano de ação
da Inovacamp para alavancar o processo de licenciamento
das patentes geradas na Unicamp.
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A diretora de propriedade intelectual da Inovacamp,
Rosana Ceron Di Giorgio: Nossa referência
é quem está no topo |
Jornal
da Unicamp O que a Inovacamp planeja fazer para
aumentar o número de patentes licenciadas?
RosanaEstamos estruturando todo o processo de
licenciamento, desde a equipe até a maneira
como iremos fazer a prospecção de mercado.
Isso não é simples porque não
temos muitos recursos financeiros. Não faremos
isso com equipe interna. Teremos apenas uma pessoa
da Inovacamp trabalhando nos licenciamentos e outras
seis terceirizadas. Estas pessoas terceirizadas não
trarão ônus para a Universidade, sendo
remuneradas por licença efetivada no ato do
fechamento do contrato.
JU Como essa equipe irá
trabalhar?
RosanaSão pessoas de mercado, com experiência
comercial e conhecimento em várias áreas
de pesquisa, como química, agrobusiness, biologia,
etc. Esta equipe já avaliou as patentes produzidas
pela Unicamp. Das 300 existentes foram selecionadas
70 com maior potencial de mercado em todas as áreas.
Agora, a equipe fará um trabalho de prospecção
do mercado para chegar aos licenciamentos. Vamos entrar
em contato com os clientes potenciais e verificar
quais efetivamente têm interesse nas patentes.
Vamos selecionar estas empresas e fazer os licenciamentos.
JUQual a expectativa em
termos de novos licenciamentos?
RosanaSe cada integrante da equipe conseguir
licenciar três patentes por ano, o que é
bem razoável, teremos 21 licenciamentos no
período. Nossa meta inicial, porém,
é obter dez licenciamentos novos por ano.
JUEsse planejamento foi
baseado em quê?
RosanaEm metas internacionais. Nossa referência
é quem está no topo. Entre as universidades
da Europa, Estados Unidos e Japão, dois terços
conseguem licenciar menos de dez patentes por ano.
Um terço delas consegue licenciar de 14 a 50
patentes por ano. Baseado nisso, fizemos nossa previsão
para os próximos dez anos.
JUSerá um crescimento
escalonado?
RosanaSim. Nos próximos quatro anos,
queremos licenciar dez patentes por ano. No quinto
e no sexto ano projetamos licenciar quinze patentes
em cada período. E do sétimo ao décimo
ano projetamos licenciar vinte patentes a cada ano.
Somando tudo, num período de dez anos, estaríamos
com 160 licenças sendo administradas simultaneamente.
Trata-se de um bom número comparado às
universidades estrangeiras.
JUAlém desse planejamento
externo também será desenvolvido algum
trabalho interno junto aos pesquisadores?
RosanaEstamos prevendo isso para o ano que vem.
Vamos realizar uma série de palestras sobre
propriedade intelectual e a importância de se
fazer a patente. Vamos esclarecer sobre a legislação
e as vantagens para o inventor. Também estamos
preparando uma política da Unicamp para a propriedade
intelectual, que será disseminada por toda
a Universidade.
JUA definição
dessa política deverá ocorrer em quanto
tempo?
RosanaA primeira versão dessa política
deverá ser apresentada em fevereiro do ano
que vem. A política consiste basicamente num
conjunto de regras e princípios que irão
determinar o tratamento a ser dado na questão
da propriedade intelectual dentro da universidade.
Isso é necessário porque a inserção
de uma nova tecnologia no mercado envolve vários
aspectos. Por isso, queremos tratar todos os casos
de forma homogênea. Vamos estabelecer regras
em relação à proteção,
ao licenciamento, à relação com
agências de fomento, etc. Além de garantir
o mesmo tratamento a todos os casos, isso permitirá
maior agilidade à Unicamp.
JUEsse tipo de iniciativa
é inédito entre as universidades brasileiras?
RosanaIsso nunca foi feito antes. A Unicamp
deverá ser a primeira universidade brasileira
a ter uma política de propriedade intelectual
definida e aprovada. Isso dará maior segurança
para a instituição, aos autores das
patentes e ao mercado, que irá licenciá-las.
JUEsse modelo que está
sendo desenvolvido é inspirado em alguma experiência
externa?
RosanaÉ baseado em experiências
fora do Brasil porque aqui ainda não temos
essa experiência. Estamos nos baseando nos modelos
de sucesso no exterior.
JUUma das principais dúvidas
da comunidade é sobre a titularidade da patente.
RosanaMas a lei é muito clara a este
respeito. As patentes são de propriedade do
empregador. No caso de uma universidade, a titularidade
pertence à instituição e não
ao autor. A universidade, entretanto, pode conceder
aos autores participação nos créditos
obtidos com a exploração comercial.
A Unicamp já pratica isso atualmente, dando
ao autor um terço do que ela receber com a
exploração comercial do produto.
JUE quando um mesmo projeto
envolve pesquisadores de várias instituições,
seja de outras universidades ou bolsistas de várias
agências de fomento?
RosanaEstamos equacionando tudo isso. Estamos
conversando com as agências de fomento. Já
falamos com a Fapesp e vamos conversar com a Finep
e CNPq. Com a Fapesp já negociamos que a titularidade
será sempre da Unicamp. A Fapesp ganhará
royalties. Isso é razoável porque todos
saem ganhando, possibilitando os recursos para gerar
novas pesquisas, que por sua vez irão gerar
mais tecnologia disponível no mercado. Já
com relação a outras universidades a
lei também é clara. Ou seja, a titularidade
é de todos os empregadores. Se o caso envolver
mais de uma instituição, a titularidade
é de todas. Nesse caso, porém, estamos
propondo que o grupo escolha uma instituição
e conceda uma procuração para que ela
negocie com o cliente em nome de todos. Isso simplifica
bastante o processo de negociação com
a empresa.
JUQuais os principais benefícios
gerados pela cooperação universidade/empresa?
Rosana A cooperação entre Universidade
e empresa traz inegáveis benefícios
a ambas instituições. Países
como os EUA estabeleceram políticas como
Bayh-Dole Act e o Stevenson-Wydler Act,
que realizaram excelente trabalho em aproximar universidades
e empresas em benefício do avanço tecnológico.
Hoje são muitas as pesquisas realizadas nas
universidades americanas com transferência para
a indústria, que chegam com sucesso até
o mercado. Este é o caso das descobertas de
vacinas, fármacos, transgênicos, sistemas
de Telecom e deTecnologia da Informação,
entre outros.
JU Nota-se, atualmente,
um crescente interesse das empresas na cooperação
com as universidades. Qual a razão disso?
RosanaIsso é proveniente da pressão
competitiva e pelo reconhecimento de que a pesquisa
colaborativa pode ser crucial para a empresa manter
sua liderança de mercado. As empresas engajadas
neste processo estão, primordialmente, buscando
novas idéias e novas tecnologias, aplicáveis
ao desenvolvimento de novos produtos. No Brasil, o
interesse pelos direitos de propriedade intelectual
e a cooperação Universidade/empresa
têm se intensificado nos últimos cinco
anos. A formação de equipes e a implantação
de laboratórios para efetivação
de pesquisas de ponta são atividades onerosas
e de alto risco para a empresa, estando hoje restritas
às universidades e conduzidas com recursos
públicos.
Catálogo de patentes
O catálogo
de patentes da Unicamp está disponível
no site http://www.inova.unicamp.br/.
Confira as tecnologias disponíveis para
licenciamento:
MEDICINA, SAÚDE
E NUTRIÇÃO
Alimentos e suplementos nutricionais
Ciência dos esportes
Controle de insetos
Equipamentos e procedimentos
hospitalares
Equipamentos para análise laboratorial
Fármacos
Limpeza e higiene
Novos materiais
Processamento de alimentos e produtos
agrícolas
Processamento de produtos farmacêuticos
Processos de obtenção, modificação
e
purificação de moléculas
Processos e equipamentos de
purificação e esterilização
Produtos odontológicos
Próteses e implantes
Sensores e sondas
PRODUÇÃO
INDUSTRIAL
Cana-de-açúcar
Catalisadores e matrizes ativadas
Construção civil
Corantes
Equipamentos para análise laboratorial
Indústria aeroespacial
Indústria bélica
Indústria eletrônica
Indústria naval
Indústria petroquímica
Indústria têxtil
Indústria automotiva
Laser e ótica
Ligas e metais
Máquinas e equipamentos
Motores
Novos materiais
Papel e celulose
Polímeros e embalagens
Processos de obtenção, modificação
e
purificação de moléculas
Qualidade ambiental
Químicos
Sensores e sondas
Siderúrgia e metalúrgia
Tratamentos e resíduos de efluentes
PRODUÇÃO
RURAL
Cana-de-açúcar
Colheita e processamento de safra
Controle de pragas
Equipamentos e implementos agrícolas
Insumos agrícolas
Processos de obtenção, modificação
e
purificação de moléculas
Nutrição animal
Obtenção e processamento de produtos
vegetais
Plantio e propagação de culturas
Processamento de alimentos e produtos
agrícolas
Propagação e cultivo de produtos
agrícolas
Qualidade ambiental
TELECOM & IT
Cabos e fibras óticas
Emissão e recepção de sinais
Internet
Processamento de informação digital
Sistemas de segurança e identificação
Telecomunicações
Telefonia
EXPLORAÇÃO
DE RECURSOS NATURAIS
Cana-de-açúcar
Extrativismo vegetal
Geração e transmissão de
energia
Indústria petroquímica
Mineração
Obtenção e processamento
de produtos vegetais
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