Pós-graduandos lutam por
reajuste de bolsas da Capes
Valores de bolsas concedidas pela
agência de fomento não são reajustados
há dez anos
CLAYTON
LEVY
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Estudantes da Unicamp pretendem debater o tema
durante congresso que acontece em março,
em BH |
Depois de
participar ativamente das articulações
que resultaram, em janeiro, num aumento de 18% no
valor das bolsas oferecidas pelo CNPq, estudantes
de pós-graduação da Unicamp estão
empenhados agora em conquistar um reajuste também
para as bolsas oferecidas pela Capes Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível
Superior. O grupo já iniciou contatos com a
presidência da agência de fomento e com
o Ministério da Educação reivindicando
o aumento. Responsável por 50% das bolsas oferecidas
no Brasil, a Capes não reajusta seus valores
há dez anos.
O movimento
conta com o apoio da Reitoria. No início de
fevereiro a Câmara de Administração
(CAD) aprovou moção destacando a necessidade
de isonomia para as bolsas oferecidas pelo CNPq e
pela Capes. O documento, proposto pela aluna Paula
Filloy, do Instituto de Química e representante
dos pós-graduandos no Conselho Universitário,
chama a atenção para a importância
da pós-graduação no desenvolvimento
científico do País.
Se o governo federal pretende consolidar o desenvolvimento científico nacional, então deveria apoiar o financiamento das bolsas não apenas do CNPq mas também da Capes, diz Davi Ortega, pós-graduando do Instituto de Física e um dos coordenadores do movimento. O reajuste de 18% do CNPq, anunciado em 14 de janeiro, elevou o valor das bolsas de mestrado para R$ 855,00 e das de doutorado para R$ 1.267,00. A Capes, porém, mantém desde 1994 os valores de R$ R$ 725,00 para mestrado e de R$ 1.072,89 para doutorado.
A falta
de isonomia desestimula muitos estudantes, destaca
Thiago Rodrigues, pós-graduando do Instituto
de Física, que também integra o movimento.
Atento aos números, ele chama a atenção
para a defasagem dos valores pagos tanto pelo CNPq
quanto pela Capes. A inflação acumulada
desde o último reajuste das bolsas, em 1994,
chega a 180% pelo IGP-DI. O poder de compra
das bolsas caiu para menos da metade nesse período,
observa Thiago.
Se fossem
corrigidas pela inflação acumulada até
janeiro de 2003 (IGP-DI), as bolsas de ambas as agências
deveriam atingir o valor de R$ 2.003,84 para mestrado
e de R$ 2.967,37 para doutorado. Há dez
anos, o valor das bolsas correspondia a dez salários
mínimos; hoje os valores equivalem a apenas
três salários mínimos, diz
Thiago. O contrato com as agências estabelece
regime de dedicação exclusiva, mas com
esses valores é muito difícil.
Segundo levantamento
da Associação Nacional dos Pós-Graduandos
(ANPG), corrigido, o que se paga atualmente a um doutorando
é quase a metade do que se pagava a um mestrando
em 1994, menos do que se pagava a um bolsista de aperfeiçoamento
e não muito mais do que se pagava a um aluno
de iniciação científica. Segundo
essa linha de raciocínio, um aluno que defendeu
sua tese em janeiro de 2003 deixou de receber, em
quatro anos, cerca de R$ 50 mil.
O grupo da
Unicamp pretende levar o tema para ser debatido durante
o próximo Congresso Nacional de Pós-Graduandos,
que acontece de 18 a 21 de março em Belo Horizonte.
A idéia é incrementar as articulações
para fortalecer o movimento em nível nacional.
Precisamos do apoio não só dos
estudantes mas também dos professores,
destaca Paula.
No ano passado,
o grupo realizou uma grande mobilização
em defesa da emenda orçamentária que
pedia R$ 130 milhões para o financiamento de
bolsas. Acompanhada pelo pró-reitor de pós-graduação,
professor Daniel Hogan, uma comitiva de 16 estudantes
realizou duas viagens ao Congresso Nacional para sensibilizar
os parlamentares sobre a importância da emenda.
No final, o relator geral , deputado Jorge Bittar
(PT-RJ), incluiu em seu relatório final a proposta
de um valor extra de R$ 34 milhões destinado
ao financiamento das bolsas.