Aprendendo ciência
nas férias. Com prazer
MARIA ALICE DA CRUZ
Quando pisou o campus de Barão Geraldo para participar da terceira edição do Programa Ciência e Arte nas Férias, da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, Ariane Lima não tinha idéia do manancial de informações que levaria para a escola e nem mesmo da profissão que escolheria para o resto da vida. Para ela, o programa, além de oferecer o máximo de informações sobre o conhecimento produzido no âmbito da Universidade, a orientou na escolha de uma profissão. Trocar o lazer pela ciência em janeiro foi uma decisão sensata e enriquecedora. "Em nenhum momento senti que perdi as férias. Eu só ganhei", disse.
Se depender do entusiasmo e da boa vontade da estudante do segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Orosimbo Maia de Campinas, o conteúdo do estágio de um mês no Centro de Memória da Unicamp poderá se transformar em um projeto para a sua escola. "O trabalho sobre o fotógrafo Aristides Pedro da Silva (V-8) me estimulou a realizar um trabalho de imagens na escola, que é uma das mais antigas unidades de ensino da cidade", revelou Ariane, que pretende cursar Jornalismo ou História.
A estudante esteve entre os 88 estudantes de escola pública que participaram do Programa Ciência nas Férias, realizado de 5 de janeiro a 4 de fevereiro na Unicamp. Ao todo, 40 laboratórios envolveram-se no programa, orientando estagiários e ministrando palestras a professores da rede pública.
De acordo com o pró-reitor de pesquisa Fernando Costa, o número de participantes cresceu gradativamente da primeira à terceira edição. O primeiro, selecionou 33 estudantes e o segundo, 71. A proposta é recorrer ao apoio de agências de fomento e aumentar a participação de pesquisadores para ampliar o programa nas próximas edições.
Costa acredita que o programa seja capaz de identificar muitos novos talentos, ao oferecer aos estudantes a oportunidade de conhecer a Universidade e definir uma vocação antes mesmo de entrar na faculdade. O coordenador do programa em 2005 e assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa, professor Paulo Mazzafera, também acredita na identificação de jovens talentos. “De repente, podemos ter um Prêmio Nobel entre eles e não sabemos. E por que não?”. Para ele, muitas vezes, falta oportunidade para que esses adolescentes e jovens demonstrem ou desenvolvam suas aptidões e este é um dos objetivos do evento. “Aqui eles compreendem o que é trabalhar com pesquisa científica e artística e como funciona uma universidade de pesquisa.”
Dedicação A qualidade dos painéis expostos em dois ambientes da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, no dia do encerramento, revelou a bem-sucedida interação entre monitores, orientadores e estagiários. Para o monitor e estudante do quarto ano de geografia da Universidade Flávio Renato dos Santos, a dedicação dos alunos quebrou o estigma de que os adolescentes não têm vontade de aprender. “Eles estão em fase de efervescência e isso é característico da idade deles, mas quando querem falar sério, falam e sabem o que estão fazendo e a que vieram”, declarou.
Interação Apesar de estagiarem em áreas diferentes, as aulas unificadas, às quartas-feiras, promoveram a integração dos jovens. “Minhas férias foram melhores do que eu esperava. Fiz novas amizades. Acho importante a iniciativa de a Unicamp abrir as portas para o estudante de ensino médio conhecer a universidade e escolher a carreira profissional a seguir”, disse Anderson Ambiel Pereira.
“Há muito tempo decidi prestar engenharia de alimentos. E, felizmente meu estágio foi justamente na área de cálculo, a que mais me atrai”, diz satisfeita Camila La Vecchia, 15 anos, estudante da Escola Estadual Felipe Cantúsio, do Parque Industrial, em Campinas. Às vésperas de apresentar o painel, produzido sob a orientação de pesquisadores da Unicamp, ela confessa: “Fico triste só de pensar em ir embora. Foi uma experiência muito boa, inclusive pela atenção das pessoas.”