A nova metodologia foi desenvolvida por um time muito afinado de cientistas do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, mais precisamente do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas. Capitaneados pelo professor Marcos Eberlin, eles trabalharam com um equipamento chamado espectrômetro de massas e aplicaram uma técnica denominada Maldi-Tof, que rendeu o prêmio Nobel de Química de 2002 ao pesquisador japonês Koichi Tanaka. De acordo com o cientista de alimentos Rodrigo Catharino, a técnica foi concebida originalmente para a análise de polímeros. “Entretanto, por ser muito versátil, nós a empregamos para a análise também de alimentos”, explica.
Ele afirma que, a partir das amostras coletadas, a nova metodologia é capaz de confirmar a presença da aflatoxina em apenas 10 segundos, de forma extremamente precisa. Pelos métodos tradicionais, o resultado não é tão rápido e são necessários testes adicionais para obter a confirmação. “Além disso, por meio de nosso método, é possível reduzir significativamente o limite de detecção da aflatoxina. Se houver um traço da substância, por menor que seja, ele será identificado e quantificado”, assegura. Por ser versátil, prossegue Rodrigo Catharino, o novo método pode ser adequado para analisar outros produtos agrícolas, sujeitos à contaminação de diferentes substâncias. “O método foi validado com o amendoim, mas pode ser aplicada ao milho, soja, arroz etc”.
Além de possibilitar o controle mais efetivo em torno da segurança alimentar, o que traz repercussões positivas para a saúde pública e para a balança de pagamentos, dado que os países importadores dos produtos brasileiros exigem laudos técnicos rigorosos, a técnica concebida pelos pesquisadores da Unicamp também pode servir como um recurso contra possíveis atos de bioterrorismo. Conforme o cientista de alimentos, a despeito de não haver indícios de que o Brasil possa ser alvo desse tipo de ação, ela não pode ser desconsiderada. “Imaginemos, hipoteticamente, que alguém lançasse alguma substância tóxica no reservatório de água de uma cidade ou sobre uma determinada plantação. Devidamente adaptada, a nossa técnica poderia identificar esse elemento e evitar uma eventual catástrofe”, exemplifica.
Especificamente sobre o amendoim e a aflatoxina, observa o professor Marcos Eberlin, o controle precisa ser rígido, pois os fungos que dão origem à microtoxina [Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus] podem ser gerados em qualquer estágio da cadeia de produção. “O grande problema, nesse caso, é a umidade. Se o grão for submetido a condições inadequadas, o fungo pode surgir no campo, no armazém, durante o transporte, na gôndola do supermercado ou até mesmo na geladeira do consumidor”, adverte. Rodrigo Catharino acrescenta que, uma vez presente no amendoim, o fungo pode ser removido, mas a microtoxina não, pois fica impregnada no grão. “Como a aflatoxina não tem gosto e nem cheiro, ela não pode ser percebida com facilidade pelas pessoas”.
No Brasil, segundo o cientista de alimentos, não há referência sobre um número significativo de vítimas da aflatoxina, dado que o controle sanitário é relativamente eficiente. Mas em outros países tropicais, como os da África, o problema assume proporções importantes. “Há relatos de pessoas que, após consumirem alimentos contaminados com a microtoxina, passam mal, têm diarréias severas e até morrem”, conta Rodrigo Catharino. Uma vez detectada a presença da aflatoxina, destaca, o alimento sequer pode ser utilizado como ração animal. “Pela legislação, se houver microtoxina equivalente a uma parte por trilhão, o alimento já será considerado impróprio para o consumo humano”, diz. Além de Eberlin e Catharino, o químico Leonardo Silva Santos também participou da pesquisa.
Usina de soluções O Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, funciona como uma espécie de “usina de soluções”. Isso se deve, conforme o professor Marcos Eberlin, à capacidade de seus pesquisadores, bem como à infra-estrutura disponível, comparada à dos melhores centros de pesquisas do mundo. “Não há, na América Latina, um laboratório dessa área tão bem equipado quanto o nosso”, diz. O resultado da conjugação desses fatores não poderia ser mais positivo. Para se ter uma idéia da produtividade daquela unidade, seus especialistas geraram este ano perto de 70 trabalhos que foram publicados ou estão em vias de publicação. “Os laboratórios da Unicamp produzem, em média, de dois a três trabalhos ao ano”, compara o docente.
O laboratório, conforme seu responsável, tem se dedicado tanto à pesquisa básica quanto à aplicada. Além disso, tem privilegiado a cooperação entre especialistas de diversas áreas, enriquecendo assim o conhecimento ali gerado. Entre os inúmeros estudos que são conduzidos no local destacam-se os de reatividade de íons na fase gasosa e os de química ambiental, mais especificamente a análise de contaminantes orgânicos voláteis (VOCs) em água, solo e ar e de constituintes de fluidos biológicos. Recentemente, o mesmo trio de cientistas desenvolveu, conforme divulgou o Jornal da Unicamp, uma técnica capaz de identificar em poucos segundos e com grande precisão a soja transgênica, a orgânica e a normal. separados, e mudando de posição continuamente, mas ainda formando um grupo.