MANUEL ALVES FILHO
A qualidade ambiental da bacia do ribeirão Anhumas, em Campinas, acaba de ser avaliada por uma pesquisa desenvolvida para a dissertação de mestrado de Ederson Costa Briguenti, apresentada ao programa de pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. No trabalho, o autor dividiu a bacia em dez diferentes áreas. Para analisá-las, o geógrafo fundamentou-se na abordagem sistêmica, cruzando informações socioeconômicas (nível de escolaridade, renda familiar etc) com dados físicos (relevo, vegetação, solo, entre outros). Das unidades tomadas para estudo, quatro apresentaram índices de qualidade ambiental razoáveis, quatro foram consideradas problemáticas e duas permaneceram num patamar intermediário. Mais do que uma radiografia da situação ambiental de uma das principais bacias hidrográficas do município, o levantamento constitui uma valiosa ferramenta para orientar eventuais políticas públicas que objetivem a melhoria da qualidade de vida dos campineiros.
De acordo com o orientador de Briguenti, professor Archimedes Perez Filho, a pesquisa é resultado de um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), voltado à recuperação ambiental da bacia. Participam desse esforço, além do IG da Unicamp, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Prefeitura local. O trabalho envolve, ainda, os moradores dos diversos bairros situados ao longo da bacia do Anhumas. O docente esclarece que o objetivo do estudo não deve ser compreendido como uma quantificação precisa que represente de forma exata e absoluta a qualidade ambiental das áreas em questão, mas sim estabelecer e entender as relações da sociedade com a natureza, de modo a fornecer subsídios para possíveis intervenções dos gestores públicos.
Para tanto, foram considerados diversos aspectos, como o processo histórico de ocupação das áreas, os padrões culturais de seus moradores, a dinâmica socioeconômica atual e a maneira como as pessoas tratam o ambiente. “Quando se fala em diagnóstico ambiental é necessário pensar o todo, ou seja, o sistema natural e o socioeconômico, bem como o modo como eles se inter-relacionam”, explica Briguenti. O primeiro passo do geógrafo foi mapear as características físicas da região compreendida pela bacia. Assim, foram agregados dados sobre declividade, solo, relevo, vegetação remanescente e drenagem, formando o que os especialistas classificam de geossistema. Em seguida, o autor da dissertação, utilizando dados dos setores censitários do IBGE, levantou informações relativas ao arruamento, densidade populacional, renda familiar, escolaridade e o destino que as comunidades dão ao lixo doméstico.
Depois, Briguenti promoveu o cruzamento desses dados, espacializando os geoindicadores nas dez unidades da bacia. Para avaliar a qualidade ambiental das mesmas, o pesquisador estabeleceu critérios e promoveu cálculos matemáticos específicos, obtendo valores de 0 a 1. Quanto mais perto do índice 0, pior a situação da área e vice-versa (ver quadro). Ao final do trabalho, o geógrafo concluiu que quatro unidades estão em razoável situação ambiental, quatro estão em situação problemática e duas encontram-se num patamar intermediário. A região em melhores condições, identificada com a letra “C” no estudo, obteve o índice 0,77. Ela engloba o distrito de Barão Geraldo e bairros como Cidade Universitária, Guará e condomínios residenciais de Barão Geraldo.
Não por acaso, a área em pior situação ambiental (índice 0,39), que corresponde às planícies fluviais do médio curso, denominada “E2”, concentra bairros e ocupações que abrigam famílias de baixa renda e cujos chefes têm baixo nível de escolaridade. Ademais, essas comunidades convivem com a falta de infra-estrutura e com a ocorrência de impactos fluviais, ocasionados, entre outros fatores, pela impermeabilização de aproximadamente 80% do alto curso, seguida da tendência de revestimento dos canais fluviais e pelo lixo jogado em terrenos ou rios. Pertencem a esta unidade trechos da rua Moscou ao longo do ribeirão Anhumas e as ocupações Gênesis e Cafezinho, onde vivem 355 famílias, nas proximidades da rodovia D. Pedro I. As constatações do estudo, reforça o professor Archimedes, oferecem subsídios que podem ser extremamente úteis para a definição de políticas públicas que envolvam a questão ambiental.
A partir do diagnóstico traçado por Briguenti, será possível promover intervenções corretivas, como planejar áreas verdes em locais desprovidas das mesmas, ou preventivas, como formular leis e exercer fiscalizações que impeçam a ocupação de áreas localizadas nos fundos de vales, que pelas próprias características geomorfológicas estão sujeitas a inundações ou solapamento. “Nosso principal desejo é que este estudo sirva de fato como uma ferramenta para auxiliar na orientação dessas diretrizes”, acrescenta o autor da dissertação.