Estudo realizado na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) aponta que o sistema de convênios e cooperativas odontológicas veio para ficar. Segundo o pesquisador Luiz Schiavolin Neto, o profissional de odontologia deve adequar-se aos modelos de assistência complementar para se manter no mercado de trabalho. “Esta é uma realidade irreversível, no meu parecer. Hoje em dia é difícil trabalhar, principalmente no caso dos recém-formados, se não se estiver afiliado a um convênio ou cooperativa. Sem contar as estimativas de cerca de 30 milhões de brasileiros ainda sem acesso a dentistas”, argumenta, sugerindo que este acesso só pode ser facilitado por meio da assistência complementar.
O pesquisador acrescenta que além da crise financeira prolongada no país, há o número cada vez maior de egressos das faculdades de odontologia, o que levou a uma saturação do mercado de trabalho e ao surgimento do novo sistema. Schiavolin apresentou sua dissertação de mestrado Convênios e Cooperativas Odontológicas na Região Metropolitana de São Paulo: uma análise operacional, orientada pelo professor Marcelo de Castro Meneghim, em dezembro último.
Para a dissertação, o pesquisador colheu depoimentos em 20 convênios e sete cooperativas da cidade de São Paulo, por meio de questionários “A escolha foi aleatória. Como vários questionários enviados não foram respondidos, fechamos a amostragem apenas com os documentos devolvidos”, explica. As perguntas se propunham basicamente a identificar a dinâmica operacional desses órgãos, em tópicos sobre número de usuários, tempo de funcionamento, número de cirurgiões-dentistas credenciados, critérios para credenciamento e descredenciamento, e práticas de reembolso dos serviços prestados.
Apesar das características próprias, Luiz Schiavolin Neto não observou diferenças na prestação de serviços por convênios e cooperativas. Itens como tempo de funcionamento, número de usuários e número de cirurgiões dentistas, no entanto, são maiores nas cooperativas. Nestas, a maior vantagem para o profissional é que ele participa da administração. A partir de 20 dentistas, já se pode montar o modelo de assistência complementar. “O profissional pode comprar produtos e equipamentos com facilidades e preços oferecidos à pessoa jurídica. Outro ponto favorável é a possibilidade de opinar nos preços e condições oferecidos à clientela”, detalha. O modelo é bem aceito pela população. Em São Paulo, existem entidades com mais de um milhão de cooperados.
Os convênios, por outro lado, possuem regras pré-estabelecidas e, em sua maioria, não são administrados por profissionais das áreas de odontologia. “No convênio, o afiliado prioriza mais o lucro que a ação social”, acredita o pesquisador. Como exemplo, ele cita pesquisa divulgada pela Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, mostrando que o maior aborrecimento do profissional no consultório, depois dos impostos e taxas, é o convênio.
Neste sentido Schiavolin defende uma intervenção das autoridades para que se fiscalizem as regras. Uma notícia na Folha de S. Paulo, de dezembro de 2005, revela que dos 50 planos de saúde de São Paulo cotados para passar por auditoria, a maioria correspondia a planos de assistência odontológica. “As reclamações no Procon também se avolumam. Em 2001, pela primeira vez um convênio odontológico superou o número de reclamações de empresas tradicionais de telefonia”, compara.