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Suplemento do Jornal da Unicamp 158

Racismo

Uma personagem sem história

Às portas do século 21, a diferença de tom de pele ainda dá margem para muitas discussões e até mesmo processos judiciais. Na Unicamp, uma das questões colocadas em discussão durante a 2ª Semana da Consciência Negra, realizada entre 20 e 24 de novembro, foi justamente a necessidade de se ter uma data específica para se promover encontros entre entidades negras. No final de um século dedicado a tantos avanços culturais e tecnológicos, a barreira do preconceito já deveria ter sido ultrapassada.

No debate "Arte, Cultura e Sociedade", que integrou a programação da Semana, três personalidades da universidade revelaram resultados de suas pesquisas sobre a questão racial e suas exeperiências como profissionais negros . O escritor e aluno do Instituto de Estudos da Linguagem Fausto Antônio dedicou seu discurso à ausência do negro na literatura brasileira. Para ele, ainda existe um mecanismo de exclusão que está em andamento e não foi paralisado em 1888.

O modelo negro apresentado por Bernardo Guimarães em A escrava Isaura contribui para a afirmação do preconceito, a partir do momento em que os negros passam a ter um papel secundário no roteiro. Na sua opinião, a apresentação do texto é marcantemente discriminatória. A única personagem negra com história, Rosa, encarna desenho de personagem negra, sedutora e diabólica. Em uma rápida análise sobre obras de outros autores brasileiros, como Macunaíma, de Mário de Andrade, Fausto Antônio diz enxergar no enredo uma história de branqueamento do negro; um negro que tem um irmão índio.

Dentro de uma democracia racial sugerida por entidades negras, que tenta determinar o número de negros que devem compor um roteiro, existe a tendência para uma prática ainda mais violenta do racismo, que não aceita o negro segundo suas origens, defendeu em sua fala. Um povo negro sem enredo também faz parte dos melhores livros de história do País, na avaliação de Antônio. Ele avalia que não se fala mal do negro, mas também não se fala bem. Simplesmente, a história não aparece em toda sua verdade, o negro é ausente no ensino da história. As entidades, a arte, a cultura negra e até mesmo a luta racista não aparecem na escola. Antônio avalia que o "apagamento" da história negra dá início com a introdução do trabalho escravo, quando do "descobrimento", em 1500, e com a supressão do espaço geográfico.

A idéia de miscigenação também apresenta uma curiosidade, a partir do momento em que prega que negros e brancos devem ocupar o mesmo espaço, mas permite que isto aconteça de forma hierarquizada, avalia Mário Luiz Cabral e Silva, doutorando em filosofia clínica no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Também convidado a participar do debate, Silva apresentou sua análise por meio da filosofia clínica. O que se observa, segundo ele, é que as culturas negra e indígena tornaram-se elemento de diversão para o branco. "É feita por grande parte por negros, mas o objetivo não é o negro." O mesmo acontece com os vídeos que, segundo sua análise, não vão servir para reflexão, mas como entretenimento. O aspecto histórico, na análise do estudioso, é esquecido quando se assiste a um filme, como por exemplo a produção A morte de Zumbi. Para ele, para se garantir o resgate da identidade, é preciso mexer na fonte e nos berços, na creche e na pré-escola.

A interferência na arte negra é debatida também por Inaycira Falcão, professora do curso de Dança do Instituto de Artes da Unicamp e uma das componentes da mesa de debate. Uma de se suas observações foi a adequação de algumas danças para as academias. Para ela, o racismo é uma questão do homem, do ser humano e de educação. "Um é diferente do outro, mas somos iguais. Estamos juntos para uma transformação." O que falta, na sua opinião, não é a Semana da Consciência Humana, mas a prática diária. Para ela, o fato de ser uma artista e acadêmica e por ter durante um período chefiado um departamento de um curso universitário faz com que vivencie o racismo em seu dia-a-dia. "A vivência é decepcionante. A transformação tem de vir do indivíduo."

Uma das coisas pontuadas por ela durante o debate é que, muitas vezes, a dificuldade em conscientizar deve-se à complexidade do discurso dos líderes negros. O caminho para ela é a busca pessoal, uma valorização da própria pessoa e o respeito pela sua história.


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