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Jornal da Unicamp -- Janeiro de 2001
Página 20
AGRICULTURA
Flores
dágua
Feagri consegue produzir cravínias no sistema
hidropônico pela primeira vez no Brasil
RAQUEL DO CARMO SANTOS
Nos Jardins Suspensos da Babilônia,
a água fresca e rica em oxigênio era bombeada com
regularidade e escorria de um jardim ao outro, fazendo
com que as plantas se multiplicassem. Aquela mesma
técnica, usada pelos idealizadores de uma das sete
maravilhas do mundo antigo, aponta como uma solução
para amenizar a fome no mundo moderno: é a hidroponia,
cultivo de hortaliças, frutas e plantas medicinais em
água, sem utilização de terra.
A hidroponia vem se difundindo principalmente entre os
pequenos produtores, que trabalham um solo muitas vezes
saturado por agrotóxicos e pelas colheitas sucessivas.
Paralelamente, surgem pesquisas para o cultivo também de
flores no sistema hidropônico. Um desses estudos vem
sendo realizado nos laboratórios da Faculdade de
Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, com olhos em
mercado promissor o faturamento anual no comércio
de flores é equivalente ao da indústria de brinquedos.
Contemplando o entusiasmo de um produtor de flores de
Atibaia, que doou centenas de mudas para a Feagri, a
equipe coordenada pelos professores Sylvio Honório e
Antonio Bliska obteve com sucesso, pela primeira vez no
Brasil, uma produção de cravínias (espécie da
família do cravo). Não há diferenças na
qualidade da planta, assegura Bliska.
O que caracteriza o êxito das experiências com esta
flor é sua semelhança com a espécie produzida em
terra, estando tecnicamente perfeita para
comercialização. No caso de hortaliças como alface e
rúcula, ou mesmo de frutas como o morango hidropônico,
a qualidade está no sabor, que deve ser igual ao das
espécies cultivadas no solo e passar pelo crivo do
consumidor.
Hastes
perfeitas
Os resultados são excelentes, as hastes das flores
ficam perfeitas, comemora o engenheiro agrônomo
Olimar Nunes do Amaral, o produtor que cedeu, em março,
as mudas para as pesquisas na Unicamp. Ele nunca havia
optado pelo sistema de hidroponia por mero
desconhecimento das vantagens que o processo oferece.
Trabalhando desde 1989 com o cultivo de flores de corte,
como rosa, cravo, lisiantus e outras, só agora Olimar
reconhece que seu negócio pode melhorar.
Em sua opinião, uma das grandes vantagens do sistema é
a inexistência das pragas da terra, uma grande dor de
cabeça para todo produtor. Essas doenças do solo
acabam com a qualidade das flores e resultam em enormes
prejuízos na colheita, diz. Mas o que mais animou
o agrônomo, no entanto, foi o encurtamento do ciclo da
planta. Em geral, a cravínia cultivada na terra
demora cerca de quatro meses para florescer. Na
hidroponia esse tempo cai para três meses,
explica. Agora Olimar já se prepara para construir uma
estufa de 28 metros, a fim de ampliar a área para o
cultivo em água.
Os testes na Feagri também entram em uma nova etapa.
Pretendemos incrementar as pesquisas para melhorar
ainda mais a qualidade da planta, diz Bliska. O
trabalho dos pesquisadores na primeira fase foi adaptar a
solução de nutrientes e as técnicas já existentes na
Europa às condições climáticas do Brasil.
Utilizamos uma formulação própria para as
flores, que adicionada à água é utilizada como base
para a produção. Outro desafio foi conseguir a
temperatura adequada para o desenvolvimento de uma planta
saudável. São justamente nesses dois aspectos que se
baseiam as várias pesquisas em torno do sistema
hidropônico.
Investimentos
Os
investimentos iniciais para a produção em hidroponia
são altos. O retorno financeiro, porém, é bastante
rápido. O mais comum é a construção de uma estufa com
estrutura de tubulação em PVC ou outro material
plástico. Pelos cálculos de Antonio Bliska, gasta-se em
média R$ 10,00 por metro quadrado construído de sistema
hidráulico, e de R$ 10,00 a R$ 15,00 na estufa. Esta
estrutura, se bem conservada, pode durar muitos anos, ao
contrário do solo, que vai se desgastando até se tornar
improdutivo, acarretando assim a diminuição da receita.
Tudo isso sem contar o enorme benefício ao meio ambiente
e à saúde do consumidor, com a redução de
utilização de agrotóxicos e pesticidas.
O que se pode cultivar?
Praticamente tudo. A alface é a mais cultivada, mas
pode-se plantar brócoli, feijão-vagem, repolho, couve,
salsa, melão, agrião, mudas de árvores e plantas
ornamentais.
Quais as vantagens para o produtor?
Maior higienização e controle da produção. A planta
cresce mais saudável e, por estar longe do solo, é
menos sujeita a infestação de pragas. A produção se
dá durante todo o ano por ser um cultivo protegido.
Devido à alta produtividade, um único empregado pode
cuidar de aproximadamente 10.000 plantas. O custo de
manutenção (funcionário, água, luz, frete etc.) para
o cultivo de alface, por exemplo, está em torno de R$
0,20 por pé. A ergonometria é muito melhor, pois se
trabalha em bancadas. O trabalho é mais leve e limpo.
Não há desperdício de água e nutrientes. A economia
de água em relação ao cultivo de solo é de
aproximadamente de 70%. A produtividade em relação ao
solo aumenta em 30%. O retorno do investimento se dá
entre 6 e 8 meses. Por ser colhida com raiz, a sobrevida
da planta hidropônica é muito maior que a da cortada no
solo, aumentando as chances de aceitação do produto.
Quais as vantagens para o consumidor?
As plantas não entram em contato com contaminantes do
solo como bactérias, fungos, lesmas, insetos e vermes.
As espécies são mais saudáveis, pois crescem em
ambiente controlado para atender às exigências da
cultura. Todo produto hidropônico é vendido embalado,
não entrando em contato direto com mãos, caixas,
caminhões. O ataque de pragas e doenças é quase
inexistente, diminuindo ou eliminando a aplicação de
defensivos. Pela embalagem o consumidor pode identificar
marca, cidade da produção, nome do produtor ou
responsável técnico, características do produto e
telefone de contato. Os vegetais hidropônicos duram mais
na geladeira e fora dela, pois permanecem com a raiz.
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