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Jornal da Unicamp -- Janeiro de 2001

Página 6

CONGRESSO

Salvo da amputação

Combinação de tratamento homeopático com 
antibióticos livra um senhor de ter a perna amputada

LUIZ SUGIMOTO

O Acomerciante Mário Salazar está hoje com 76 anos de idade. Em janeiro de 1999, deu entrada no Ambulatório de Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas apresentando uma lesão no tornozelo esquerdo, com exposição óssea. O quadro era agravado por insuficiência renal resultante de aterosclerose e de diabetes (doença da qual já havia tomado ciência há 10 anos). Pesava apenas 46 quilos. A arteriografia mostrou artérias femorais profundas e que a lesão evoluía para osteomielite e gangrena gasosa, estágios que antecedem o choque séptico e a morte. O serviço de ortopedia indicou, então, a conduta habitual para esses casos: amputação.

“Pedi ao médico que comunicasse o diagnóstico à minha família, eu não tive coragem”, relembra  Salazar, que estava há dias internado, vendo sua perna piorar. Este senhor, hoje bem humorado, compareceu ao congresso A Homeopatia no Século XXI como personagem de um estudo de caso apresentado pelo médico Milton Lopes de Souza, docente do Depto de Clínica Médica da FCM, cuja equipe, do Ambulatório de Homeopatia do HC, livrou o paciente da amputação.

Segundo recorda o professor, Salazar sempre levou vida regrada, controlador de suas contas e menosprezava a doença a ponto de rir dela, apesar das dores. “Lia livros durante a internação e  incomodava-se com os estudantes, relutando em ser examinado”, conta Souza. Em abril de 99, o paciente começou um tratamento homeopático associado a antibióticos, recebendo doses repetidas de Silícea. Passou por uma drenagem cirúrgica e uma semana de curativos, tendo elevada a dose do medicamento homeopático de 12 para 18 gotas por dia.

Salazar recebeu alta hospitalar em junho, depois de uma angioplastia na artéria femoral e remoção de tecidos mortos. Em agosto, nova remoção de tecidos e, em setembro, um enxerto de pele. O próprio Ambulatório de Cirurgia Vascular, que havia indicado a amputação, avaliou em novembro que “a área de lesão mostra ótima cicatrização e tecido de granulação”.

Sob controle – Atualmente, Mário Salazar continua sob acompanhamento do Ambulatório de Homeopatia, com excelente evolução. “Só sobrou um ‘furinho’ de nada”, afirmava Teresa, uma esposa zelosa, enquanto o paciente tirava as meias para mostrar a cicatriz. “Ele ainda vai tomar 10 gotas diárias de Silícea, durante 15 dias; depois, apenas 10 gotas por semana”, observou a mulher com alívio.
O médico Milton de Souza ressalta que o diabetes também está controlado, com doses mínimas de insulina, NPH – 14 UI ao dia, quando o paciente chegou a tomar 60. “Esse estudo de caso serve para mostrar, também, que os remédios alopáticos não neutralizam, necessariamente, o efeito da homeopatia. Em casos graves, os dois tratamentos podem ser sinergéticos”, acrescenta.

Salazar está pesando 64,5 quilos. Compareceu ao Congresso de Homeopatia num gesto de gratidão à equipe que o curou, mas o esforço foi grande e o cansaço impediu que assistisse à apresentação do estudo de caso. Detalhe importante: aquele senhor, que quase teve a perna amputada, entrou no Centro de Convenções caminhando, embora com auxílio de um ‘andador’. “Não consigo parar quieto. Logo, logo vou me livrar disso”, prometeu, apontando para as muletas.

A homeopatia como ciência
De 29 de novembro a 1º de dezembro pesquisadores brasileiros reuniram-se na Unicamp para debater a cientificidade da terapêutica homeopática, durante o congresso “A Homeopatia no Século XXI”. A comissão científica do evento foi presidida por Graciela Alicia Martínez, médica homeopata que integra o Grupo de Estudos Médicos Homeopáticos de Campinas (Gemhca).

De acordo com os organizadores, em dois séculos de existência, a homeopatia convenceu milhões de pacientes quanto a sua eficácia no combate a diversas enfermidades, como doenças alérgicas, bronquite e asma, depressão, ansiedade, insônia, enxaquecas, etc. A maior parte da comunidade científica, contudo, ainda considera que esses medicamentos, administrados em doses infinitesimais, não produzam efeito superior ao placebo, ou seja, da mera sugestão.

Os defensores da terapêutica sustentam que, mesmo sem esse reconhecimento científico, a homeopatia ocupa importante espaço na Europa, mobiliza milhões de pessoas em países como a Índia e, no Brasil, onde existem 15 mil médicos homeopatas, torna-se a cada dia uma importante especialidade médica. O encontrou teve como objetivo contribuir para que a homeopatia.

Um convidado ilustre foi o professor Paolo Bellavite, catedrático da Universidade de Verona, na Itália, especialista em hematologia com doutorado em biologia molecular e pós-doutorado em biotecnologia. Uma de suas conferências teve o tema “Homeostasia na Medicina Integrada – Conceitos Atuais de Imunologia”. Bellavite dedica-se à pesquisa biomolecular e é autor de vários livros e artigos sobre a ação in vitro de remédios homeopáticos e a ação destes nos processos patológicos. Trabalha também com os conceitos da nova patologia e da nova imunologia relacionadas com os conhecimentos homeopáticos.

Na opinião do professor, a atitude de grande parte de cientistas é muito reducionista, acreditando ser até mesmo a pesquisa biomolecular limitada para a compressão da saúde e da patologia do ser humano. Bellavite fez questão de participar do congresso na Unicamp por considerar que a medicina praticada no Brasil apresenta um alto nível de pesquisa, apesar da falta de recursos financeiros. Ele espera que o reconhecimento da homeopatia como ciência propicie a entrada de novos fundos de financiamento de pesquisas e seja importante não só para os profissionais da área, mas sobretudo para os que possam vir a se beneficiar com a terapêutica que cuida da saúde humana como um sistema biológico integrado.

Informações adicionais:
www.gemhca.org.br


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