Jornal da Unicamp
Semana da Unicamp
Assine o
"Semana"
Divulgue seu
assunto
Divulgue seu
evento
Divulgue sua
Tese
Cadastro de
Jornalistas
Mídias
Sinopses dos
jornais diários
Envie
dúvidas e sugestões
|
1 2 3 45 6 7 8 9 1011 12 13 14 15 1617 18 19 20
Jornal da Unicamp -- Janeiro de 2001
Página 8
VIOLÊNCIA
Um
homossexual é morto a cada 48 horas no Brasil
A
violência contra uma minoria que representa 10% da
população
ADRIANA MIRANDA
A cada dois dias um homossexual é
assassinado no Brasil. Só no ano passado foram
registrados 160 casos graves de violação dos diretos
humanos e a morte de 130 gays, lésbicas, travestis e
transexuais, todos vítimas da homofobia. São números
que dão ao País o título de campeão mundial de
assassinatos contra homossexuais, segundo Luiz
Mott, professor do Departamento de Antropologia da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e presidente do
Grupo Gay da Bahia (GGB).
O levantamento foi feito pelo GGB, entidade sem fins
lucrativos que em fevereiro deste ano completou 20 anos,
e as informações integram o dossiê Violação dos
Direitos Humanos e Assassinato de Homossexuais no Brasil.
Os homossexuais, de acordo com Mott, representam
aproximadamente 10% da população brasileira mais
de 15 milhões de pessoas.
Luiz Mott, que foi professor do Departamento de
Antropologia da Unicamp, esteve na Universidade nos dias
5 e 6 de dezembro, como ouvinte e palestrante do
seminário Gênero & Cidadania
Tolerância e Distribuição da Justiça,
organizado pelo Núcleo de Estudos de Gênero (Pagu). Por
que os homossexuais são os mais discriminados dentre
todas as minorias sociais do Brasil? foi o tema abordado
por Mott.
Jornal da Unicamp
- Por que os homossexuais são os mais discriminados
entre as minorias?
Luiz Mott A homossexualidade era
considerada um dos crimes mais graves, mais hediondos,
equiparado a matar o rei, até 1823, quando no Código
Penal Brasileiro deixou de constar a sodomia. A
homossexualidade também era tida como causa de castigos
divinos: a Igreja difundia a idéia de que Deus punia a
humanidade com inundações, secas, etc. A própria Aids
seria um castigo divino por causa da homossexualidade.
Segundo Freud, todos nós temos um componente bissexual
na nossa personalidade: 37% dos homens do ocidente já
tiveram ao menos dois orgasmos com pessoas do mesmo sexo
na idade adulta. A homossexualidade é forte no
imaginário e na cultura do ocidente. Ao mesmo tempo é
vista como crime grave. Isso gera uma homofobia
internalizada, cria o ódio contra os homossexuais
que tiveram a coragem de sair da gaveta, enquanto aqueles
que estão internalizados ficam com ódio porque estão
presos nesta gaveta. É um conflito que provoca espinhas,
prisão de ventre e outras neuroses.
P
Onde começa a discriminação contra o homossexual?
R - Dentro de casa, o que é um dos
problemas fundamentais. Quando o pai descobre que o filho
é gay ou lésbica, insulta, espanca, expulsa de casa.
Por outro lado, as outras crianças e adolescentes,
negros, judeus e deficientes físicos recebem dos pais
todo o apoio para reforçar a auto-estima e a identidade
racial ou religiosa.
P
Quais são os tipos de violência praticados com maior
freqüência contra os homossexuais?
R A violência começa pela
própria omissão da mídia, que não noticia eventos
importantes sobre a homossexualidade. A violência
também é verbal, na rua, nas escolas e nos meios de
comunicação, que ainda se referem aos homossexuais com
termos pejorativos ou caricatos. Há discriminação em
locais públicos. Travestis são proibidos de entrar em
shopping center. Eles não podem servir o exército e,
se descobertos, acabam expulsos. A igreja não
permite a entrada de homossexuais. Fisicamente, os
homossexuais são espancados pela polícia, porque na
visão da polícia e da Justiça o gay é sempre um
suspeito, mesmo que seja a vítima de algum ato ilícito.
Mas a violência mais grave são os assassinatos e nisso
o Brasil é o campeão mundial: a cada dois dias um gay,
uma lésbica ou um travesti são mortos, vítimas da
homofobia.
P
O senhor sabe informar quantos homossexuais foram
assassinados este ano?
R O Grupo Gay da Bahia, desde sua
criação, vem coletando notícias sobre assassinatos de
homossexuais. Infelizmente, não existe no Brasil uma
estatística sobre o chamado crime de ódio,
como acontece nos Estados Unidos e na Austrália. Temos
de nos valer do noticiário na imprensa ou até de
informações orais para este levantamento. Nos últimos
vinte anos documentamos 1.830 assassinatos de
homossexuais. Este número talvez represente só a metade
dos casos, pois não cobre todos os estados e não temos
acesso a todos os jornais. Muitos homossexuais também
têm sua opção sexual omitida na imprensa, por
orientação da família ou por desconhecimento da
polícia. Na década de 80 a média era de um assassinato
a cada semana; na década de 90, um a cada três dias; e,
em 1999, um a cada dois dias. No ano passado, 199
homossexuais foram assassinatos, sobretudo gays, seguidos
de travestis e por menor número as lésbicas. Em
2000, até o novembro, foram 98 assassinatos.
P Qual estado ou região onde se registra
mais violência?
R Em todos os estados e regiões
existem crimes homofóbicos. São Paulo apresenta mais
ocorrências por causa da própria densidade
populacional, vindo depois o Rio de Janeiro. Um detalhe
é que em terceiro lugar está Pernambuco, que não é o
terceiro estado mais populoso, mas onde ocorreu o maior
número de assassinatos nos últimos três anos. Isso
mostra que ali existe uma forte discriminação contra os
homossexuais.
P
Quais medidas são necessárias para acabar com esta
violência?
R Primeiramente, severidade por
parte da polícia e da Justiça em averiguar, julgar e
punir exemplarmente esses crimes. Em segundo lugar, a
educação sexual obrigatória em todos os níveis
escolares, ensinando os jovens a respeitar a livre
orientação sexual dos indivíduos e a ver os
homossexuais como cidadãos. A terceira medida é
conscientizar a própria comunidade homossexual para que
denuncie todas as violações dos seus direitos e grite.
O grito é a arma dos oprimidos. Essas propostas foram
apresentadas ao Ministério da Justiça.
Dez
verdades pregadas pelo GGB
1 A homossexualidade não é crime. Nenhuma lei no
Brasil condena a prática da homossexualidade. Crime é
discriminar os gays, lésbicas e travestis.
2 Ser homossexual não é doença. Todas as
ciências garantem: é normal ser homossexual. Querer
curar o homossexual é ignorância.
3 A homossexualidade não é pecado. Os gays
e lésbicas também se amam e foram criados por Deus.
Jesus nunca condenou os homossexuais.
4- A homossexualidade sempre existiu. O amor homossexual
é tão antigo quanto a própria humanidade e nunca vai
acabar.
5 Todos os povos praticam homoerotismo. Em muitas
tribos indígenas e africanas os sacerdotes e as
próprias divindades são homossexuais.
6 A homossexualidade é natural. Inúmeras
espécies animais praticam homossexualismo. Os gays não
ameaçam a extinção da espécie humana.
7 A causa da homossexualidade é um mistério. Não
distingue físico e a mente do gay dos demais cidadãos.
Todos somos seres humanos.
8 A Constituição Federal proíbe qualquer forma
de discriminação. O preconceito contra gays, lésbicas
e travestis é um tipo de racismo.
9 A Aids não é doença de gay. A Aids se
transmite através do sangue, esperma e secreção
vaginal. Só pratique sexo sem risco: use camisinha!
10 Homens e mulheres célebres que praticaram o
homoerotismo ou foram travestis: Rei Davi e Jônatas,
Platão, Leonardo da Vinci, Joana Darc, Shakespeare,
Miguel Ângelo, Mário de Andrade, Santos Dumont, Safo,
Imperatriz Leopoldina, Maria Quitéria, Martina
Navratilova, Marina Lima, Mazaropi, Carmem Miranda, Elton
John, Angela Rorô e Cazuza.
Grupo Gay
da Bahia (GGB)
Caixa Postal 2552 40022-260
Salvador, Bahia
Fones: (0xx71) 322-3782, 322-2552
|