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Julho/agosto de 2000 Aves do Pantanal Especialista do IB grava em CD cantos de 68 espécies de pássaros A região do Pantanal abriga 650 das 1.600 espécies de aves identificadas no Brasil. Apaixonado por elas, Jacques Vielliard, ornitólogo e professor de zoologia do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, montou o Laboratório de Bioacústica, onde procura descobrir e catalogar novos sons emitidos por pássaros. É pesquisa pura, que já resultou em um arquivo com 15 mil fitas gravadas e em quatro CDs registrando os cantos de 276 espécies. A trilha sonora mais recente, Aves do Pantanal, tem duração de 1h15 e traz 68 espécies da região. "A divisão das faixas é sutil, mas cada espécie é identificada pelo número do index no CD e na capa", explica Vielliard. Ele aconselha a quem não está habituado a esses sons seguidos, que ouça o disco somente por 15 ou 20 minutos, escutando e reescutando os que lhe forem mais agradáveis. As gravações são de alta qualidade e o canto do pássaro é isolado em primeiro plano, tendo ao fundo os demais sons da natureza. Esse tipo de gravação é uma atividade minuciosa, que exige muita paciência, e o auxílio da bioacústica torna-se fundamental para obter o canto dos pássaros dentro de seu habitat, sem interferências no ecossistema. Os recursos técnicos disponíveis permitem a identificação do animal pelo som que emite mamíferos, insetos ou aves , dispensando a presença do pesquisador no local para fazer o reconhecimento. Outra forma de realizar o estudo seria capturando o animal. "Ele fica assustado e, mesmo depois de solto, permanece perturbado", alerta o ornitólogo, acrescentando que graças à bioacústica esse estresse é totalmente desnecessário. Vielliard confessa um prazer indescritível ao ouvir a sinfonia das aves. A emoção maior, segundo ele, está em descobrir e ir atrás de cada uma para conhecer qual é, como vive, suas características e temperamento. O sabiá-laranjeira, por exemplo, é encontrado em todo o Brasil e não apenas no Pantanal. "Para gravar o canto desse pássaro naquela região, precisei de três dias para que se habituasse à minha presença, até conseguir colocá-lo na mira do microfone. É essa a gravação que eu exibo, não a de um sabiá-laranjeira qualquer". O projeto Aves do Pantanal já é um sucesso porque sua execução coincidiu com o momento de expansão do ecoturismo na região Amazônica. Atender ao interesse dos turistas em descobrir mais sobre culturas locais é outra das propostas do trabalho de Vielliard. "Divulgar a beleza do canto das aves faz parte do meu ideal de ajudar as pessoas a conhecer melhor e a gostar da natureza, preservando seus recursos". Pesquisador "Coruja" Jacques Vielliard foi convidado a trabalhar na Unicamp por Zeferino Vaz, na década 70, quando começava a ganhar força na França o debate em torno do meio ambiente. O fato de o Brasil possuir a maior diversidade de plantas e animais do planeta foi determinante para a vinda do especialista. Existem atualmente entre 9 mil e 10 mil espécies de aves conhecidas no mundo, 1.600 em território brasileiro. A catalogação de novas espécies é complicada e demorada. Para captar o som de um pássaro desconhecido é necessário, antes de tudo, obter uma gravação de boa qualidade. O grande recurso é o playback. Toca-se a gravação para atrair a ave com seu próprio canto, o que exige boa dose de paciência, pois muitas se escondem na vegetação e relutam em se mostrar. Capturada, anotam-se suas características e inicia-se a cansativa pesquisa bibliográfica, a fim de averiguar se não existe nenhum registro científico sobre ela. "Precisamos fazer um inventário. Assim como devemos saber o que existe dentro de nossa casa, é necessário conhecer o que existe no planeta", diz Vielliard. São publicadas informações sobre a espécie em catálogos internacionais para que outros cientistas fiquem por dentro e o estudo avance. Há 20 anos ainda pairava a idéia de que todos as aves da Terra estavam catalogadas e que a única função dos pesquisadores era listar as espécies que iam sendo extintas. Vielliard foi um dos estudiosos que ajudaram a derrubar essa tese. Também existe uma série de pássaros com registros antigos. Eles eram mortos por expedições que vinham ao Brasil e levados a museus da Europa e Estados Unidos. Não havia informações sobre sua procedência: se viviam na mata ou no brejo, no solo ou na copa das árvores, no interior ou na costa. A bioacústica permitiu a redescoberta de muitas espécies nos últimos anos. Jacques Vielliard teve o privilégio de descobrir a menor
coruja do mundo na Amazônia. "Levei dez anos para chegar a essa conclusão. Ela tem
o tamanho de um pardal, vive nas copas e possui hábitos exclusivamente noturnos.
Comparada a outras corujas, ficou comprovado que é mesmo diferente. Além de menor, é
mais abundante: cada grande árvore da mata amazônica esconde um casal". |
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