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Julho/agosto de 2000 Pharmácia com ph Em dificuldades no mercado, farmácia de
manipulação adota métodos de gestão Paulo Queiroz Marques tinha então 72 anos de idade e enfrentava sérias dificuldades para manter seu negócio, a Pharmácia Drogamérica. Mas nem sua idade, nem o "ph" da placa do estabelecimento foram impedimentos para que mandasse às favas práticas de gerenciamento utilizadas ao longo de 30 anos no ramo e cumprisse as exigências dos novos tempos implantando métodos ousados de gestão. A transformação radical na farmácia, uma das primeiras de manipulação instaladas em São Paulo, teve início há seis anos. Em 15 meses, o faturamento aumentou 90%; em 5 anos, triplicou. É verdade que os custos também subiram, mas hoje eles são conhecidos, monitorados e mantidos sob controle. A diferença entre receita e despesa proporcionou investimentos que tornaram a "pharmácia" uma empresa-modelo no Brasil. Paulo Marques decidiu mudar a dinâmica da administração de sua empresa ao tomar conhecimento do conteúdo de um estudo de Vera Duch Crósta, da terceira turma do mestrado em qualidade da Unicamp. As idéias de Vera, que o senhor farmacêutico teve a humildade de apreender e aplicar, estão lapidadas na dissertação de mestrado "Gerenciamento e qualidade em empresas de pequeno porte: um estudo de caso no segmento de farmácia de manipulação", por ela apresentada recentemente no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp. É o relato de uma iniciativa bem-sucedida de gestão, que serve como exemplo para pequenas empresas. Vera Crósta é farmacêutica e consultora. Deixa claro que, para o sucesso na implantação de seu projeto de qualidade, foi fundamental a confiança mútua que se estabeleceu entre ela, proprietário e funcionários. Como primeiro passo, houve a percepção do empresário de que não era apenas a empresa que teria de passar por uma transformação, mas que ele próprio precisaria rever suas posturas. A partir daí, investigaram-se os custos e realizaram-se as mudanças conforme a capacidade de investimentos. As alterações foram alicerçadas em uma política de controle de custos e na relação intra e interpessoal, contando com a ajuda de Hector Lisondo, engenheiro, psicólogo e mestre em qualidade pela Unicamp. O investimento não beneficiou apenas a parte física. "A nova estrutura se solidificou com a participação das pessoas", conta Vera. A empresa vem proporciando aos funcionários oportunidades de reciclagem, por meio de cursos, palestras e de apoio emocional. "A mudança gera medo, e o medo, resistência. Para mudar, as pessoas precisam perceber o valor dessa mudança", ensina Maria Carolina Ferreira de Souza, professora do Instituto de Economia e orientadora da dissertação de mestrado. Trabalho facilitado A Pharmácia Drogamérica foi uma das primeiras boticas especializadas do Brasil. Os filhos do proprietário não se interessavam pelo negócio e uma filha, embora sócia, mantinha-se afastada da empresa, que acabou em mãos de pessoas não habilitadas, sem controle gerencial. Os funcionários mais antigos criaram feudos, inexistindo qualquer espírito de equipe. "A reformulação exigiu que alguns empregados fossem demitidos", admite Vera Crósta. Em 1994, eram 30 funcionários. Esse número foi reduzido para 24, garantindo-se equilíbrio entre receita e folha de pagamentos e aumentando-se a eficiência técnica e gerencial da empresa. O projeto já previa o acúmulo de funções para otimização das atividades, com uma compensação aos empregados, que recebem um percentual em relação à produção. Esta participação nos lucros gerou mais motivação. Maria Carolina garante que pequenas empresas têm condições de implantar sistemas sofisticados de qualidade total. "É trabalhoso, mas factível". Na empresa, em uma única sala funcionavam dois laboratórios, hoje individualizados e com um laboratório de controle de qualidade. Instalou-se um eficiente sistema de exaustão de ar, novos e modernos equipamentos. Traçou-se um macrofluxo da empresa e planilha de custos (aluguel, telefone, água, luz, receita, custo por fórmula e total de fórmulas manipuladas mês a mês). "Os clientes já não aceitam empresários gananciosos, que querem cem por cento de lucro. Passou a vigorar a racionalidade econômica, em que se ganha menos, mas sempre. Margem de lucro não é só margem de lucro: é fonte de retorno de capital, composto por margem e giro. Às vezes, diminui-se a margem de lucro, mas o giro pode trazer um retorno maior", explica Maria Carolina. Paulo Marques, graças aos resultados, convenceu sua filha a tomar frente dos negócios. "Agora tenho paz de espírito. Minha própria saúde melhorou. Tenho a convicção de que todo pequeno empresário deve superar a ignorância e buscar novas formas de conhecimento". Hoje, a Pharmácia Drogamérica não tem mais dívidas e, no último ano, investiu R$ 50 mil na modernização dos equipamentos. Ali, farmácia ainda se escreve com "ph". Pioneiro e apaixonado pela profissão A partir de 1940, privilegiou-se no Brasil o produto farmacêutico industrializado. As farmácias de manipulação, que antes dominavam o mercado, perderam espaço para as drogarias. Nos anos 60 eram raras as farmácias de manipulação. Na década seguinte, Paulo Queiroz Marques, hoje com 79 anos de idade e 56 de profissão, foi à luta dando palestras a médicos e estudantes de farmácia, pregando a importância não apenas da volta dos medicamentos manipulados ao mercado, mas seu incentivo nos meios acadêmicos. Esse trabalho certamente contribuiu para um boom na produção desses remédios nos anos 80. Ativista de várias entidades do setor, Marques foi um dos fundadores do Conselho Regional de Farmácia (seu registro profissional tem o número 16) e, na década de 80, criou a Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag). Fundou também a Sociedade Brasileira para a Preservação da Memória da Pharmácia, que ganhou apoio do Ministério da Cultura para criar o Museu da Pharmácia, iniciativa, obviamente, do mesmo farmacêutico. "Com a ajuda de minha filha, pude afastar-me da empresa e dedicar mais tempo a esse novo projeto, lançado no ano passado", festeja Marques. Quem tiver documentos, publicações e objetos antigos que ajudem a resgatar a história da farmácia, pode enviá-los à Rua Itacolumy, 601, bairro de Higienópolis, CEP 01239-020, São Paulo, ou pelo e-mail drogamerica@terra.com.br "Quem não conhece a história, não sabe o porquê da vida", é o lema do Museu da Pharmácia. |
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