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difícil escolha Isaías
Macedo enumera fontes alternativas e espera que crise gere hábitos
permanentes, bom senso e consciência do desperdício CARLOS
TIDEI Não
existe resposta única e fácil para a atual crise energética
brasileira. Todos os estudos devem considerar várias alternativas de fontes
de energia a médio e longo prazos. No curto prazo (até o final de
2001) a única saída é a redução do consumo,
como a que vem ocorrendo nas últimas semanas. Ela deve gerar hábitos
mais permanentes, onde prevalecerão o bom senso e a consciência do
desperdício. As causas da atual crise são amplamente conhecidas:
houve uma redução no volume de chuvas, de investimentos no setor
hidroelétrico e um atraso na implantação de centrais termelétricas
a gás. A
opinião é do professor Isaías Macedo, assessor da Reitoria
da Unicamp, que possui sólida base acadêmica e experiência
de longos anos de serviços prestados ao desenvolvimento de tecnologia da
Copersucar. Ele enumera as alternativas possíveis hoje no Brasil: 1) ações
de otimização, melhoria e ampliação do aproveitamento
da energia hidráulica disponível; 2) instalação de
termelétricas a gás, como complementação permanente
da matriz energética brasileira; 3) investimentos na geração
de energia da biomassa com tecnologia comercial; e 4) ações complementares
em energia eólica e solar. Segundo
Macedo, o Brasil experimenta hoje movimentação semelhante à
ocorrida durante a crise de petróleo, na década de 70, em busca
de fontes de energia alternativas. Em 74 a Unicamp começou um grande
programa de energia, montado inicialmente com o Instituto de Física e a
Faculdade de Engenharia, abrangendo também a Engenharia de Alimentos e
depois outros departamentos. O programa chegou a ter 70 pes-soas trabalhando na
área de energias alternativas e cresceu muito por força da crise
do petróleo. Hoje está disperso por alguns grupos e estamos tentando
reaglutinar esses pesquisadores. Seria muito importante ter atividades envolvendo
especialistas das várias áreas, mantendo as características
dos grupos existentes. Problemas de geração e uso de energia são
multidisciplinares, afirma Macedo. Os custos da nova energia
hidroelétrica, quando considerados de forma ampla e sem incluir algumas
externalidades, ainda são muito atraentes, mas já se viabiliza alternativas
como as mencionadas. Termelétricas O que aconteceu
com o programa de instalação de termoelétricas a gás,
lembra Isaías Macedo, é semelhante ao registrado com o álcool
na década de 80. O Pro-Álcool foi estabelecido com cotas por produtor
e garantia de compra pelo governo desses volumes, a preço definido com
base em auditoria de custos por órgão independente (no caso, a Fundação
Getúlio Vargas). Quando este compromisso deixou de ser cumprido, os produtores
optaram por não produzir as cotas e exportar açúcar, levando
à escassez do álcool. No caso do gás, o problema ocorreu
antes mesmo da instalação das centrais: a compra de gás e
fornecimento de energia a preços definidos antes da desvalorização
do real inviabilizou (e paralisou) os investimentos. O
investimento de capital em uma central a gás é relativamente mais
baixo e a instalação de termelétricas mais rápida,
em comparação a novas hidroelétricas. O problema atualmente
(uma vez sendo resolvido o impasse entre preços do gás e tarifas
elétricas) seria de fornecimento de equipamentos. Competiremos com o mercado
americano, que deve voltar-se rapidamente na mesma direção. Mas
a partir do momento em que se começa a investir no setor, os fornecedores
aparecem. É um tremendo mercado para as companhias de energia em todo o
mundo, acredita Macedo. Continua
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solar tem mercado garantido Para Ivan Chambouleyron,
tecnologia contribuirá para a integração do território
nacional A
energia fotovoltaica (eletricidade gerada com a luz solar) é viável
para abastecer regiões muito distantes dos centros geradores de energia
convencional e das linhas de transmissão, e tem o futuro garantido por
algumas características: é uma energia limpa, de fonte inesgotável,
e o crescimento industrial pode baratear seu custo. Os equipamentos para gerar
a energia fotovoltaica ainda são caros quando comparados com outros sistemas
de produção, como hidroelétricas e termelétricas,
mas atualmente esta atividade industrial está entre as que mais crescem
no mundo, em torno de 30% ao ano, sendo que o ganho de escala deve reduzir seu
custo nos próximos anos. Não
é hoje solução para a crise de energia. Mas para algumas
aplicações, como telecomunicações, a geração
fotovoltaica é muito utilizada. Esta tecnologia é importante para
o Brasil, porque ao levar energia a regiões distantes do interior do País,
contribuirá para a integração do território nacional,
avalia o professor Ivan Emílio Chambouleyron (foto à direita), pró-reitor
de Pesquisa da Unicamp e especialista em alternativas energéticas. Segundo
ele, uma das melhores aplicações da energia fotovoltaica é
a utilização em sistemas de bombeamento de água para irrigação
em regiões onde não há eletricidade. Permitiria um
grande salto de produtividade agrícola, acredita. No futuro,
poderemos utilizá-la desta forma também em sistemas de hidroelétricas
de rio seco, onde durante o dia a energia do sol seria parcialmente
utilizada para bombear a água que já passou pelas turbinas de volta
para a represa, mantendo-a sempre cheia, exemplifica o professor. Esta sim
seria uma alternativa para o tipo de crise atualmente vivida pelo Brasil. Embora
aparentemente semelhantes, o sistema de produção de energia fotovoltaica
não é o mesmo utilizado em residências para aquecer água.
O aquecedor solar (que também pode proporcionar economia pela desativação
do chuveiro elétrico, responsável por cerca de 6% de toda energia
elétrica consumida no Brasil) simplesmente aproveita o calor do sol para
aquecer a água utilizada em duchas e torneiras. Sofisticação
A produção de células solares, elementos básicos
da energia fotovoltaica, exige uma tecnologia relativamente sofisticada. Atualmente,
a eletricidade de origem solar é utilizada na rede de distribuição
elétrica em alguns países desenvolvidos, como os Estados Unidos,
para complementar a geração convencional em horários de pico.
Em locais muito distantes, a exemplo do interior da Amazônia, nas plataformas
em alto mar, veleiros e, sobretudo, satélites artificiais, é uma
fonte ideal de energia. Outro
exemplo do avanço desta tecnologia é a corrida de veículos
realizada periodicamente no deserto da Austrália, a World Solar Challenge,
com carros movidos exclusivamente com energia fotovoltaica. É uma
tecnologia que está sendo desenvolvida há muitos anos. No início
ela foi financiada por órgãos governamentais, mas atualmente é
uma atividade industrial privada muito lucrativa. Dentro de vinte anos, muitos
países, principalmente da Europa, além dos EUA e Japão, estarão
usando esta fonte como complementação do sistema de distribuição
elétrica, prevê Chambouleyron. (C.T.)
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