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Jornal da Unicamp 179 - Página 2
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a 7 de julho de 2002
Agora
semanal
Marisa
Lajolo estréia na ficção
Professora do IEL dá um tempo no ofício de ensaísta para concretizar um velho sonho
Antonio Roberto Fava
Depois de nove versões, chega enfim ao público infanto-juvenil o primeiro livro de ficção Destino em Aberto da professora Marisa Lajolo, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. Habituada a trabalhar com textos alheios, Marisa é autora de uma série de livros de ensaios, entre os quais destacam-se A formação da Leitura no Brasil e O preço da Leitura. No livro Destino em Aberto, Marisa Lajolo conta a história de dois adolescentes um crescido na rua e outro herdeiro de uma grande fortuna. Os protagonistas, pano de fundo para um mergulho nos problemas sociais do País, têm em comum uma paixão: a música. Na entrevista que segue, a autora explica como criou sua obra.
Jornal da Unicamp - Como foi a experiência de escrever seu primeiro livro de ficção?
Marisa Lajolo - Foi ótima. Achei muito divertido escrever ficção. Foi mais divertido escrever Destino em Aberto do que qualquer coisa que escrevi até hoje. E também mais difícil. Parece que o ficcionista parte do zero; já o ensaísta tem muita gente que antes dele já escreveu sobre o assunto, gente a quem, portanto, ele precisa prestar contas. Bibliografia, citações, argumentos e contra-argumentos. Isso acaba dando uma mãozinha na invenção do texto. Na ficção o escritor está mais sozinho. Para o bem ou para o mal, não presta contas a seus pares: só aos seus ímpares, os leitores, ilustres desconhecidos, que são sempre o horizonte e os fantasmas do ficcionista.
Como nasceu a idéia da novela?
Marisa - Acho que eu sempre quis escrever histórias. Mas acabei professora de literatura, isto é, trabalhando com textos alheios. Cadê a coragem para mudar de lado, sair da onipotência da crítica e encarar a folha em branco com uma idéia na cabeça e um teclado na mão? Aí, na virada para dois mil, aquela história de tomar decisões, passar a limpo propósitos, decidi: no novo ano eu ia começar a escrever um livro de literatura em vez de muitos sobre literatura que já tinha escrito.
Como é o seu processo de criação?
Marisa - Eu gosto muito de escrever. Sobretudo de re-escrever. Adoro o esforço para chegar o mais perto possível do que eu pretendo dizer aos leitores. Sou disciplinada, peço e ouço palpites sobre o que escrevo, sempre melhoro meus textos com os palpites dos leitores-de-fé. Mas desta vez o projeto era secreto e não tinha muitos leitores-de-fé.
Sobretudo nos diálogos, "Destino em Aberto" faz uso da linguagem dos meninos de rua. Como chegou a dominar o jargão, fez alguma espécie de laboratório?
Marisa - Moro perto de um McDonald's, onde há sempre crianças pedindo dinheiro. Eu combinava que pagava um lanche para elas e elas me contavam a vida delas. Eu ficava puxando assunto para tentar aprender a forma como elas contavam a história delas. Histórias incríveis, agilidade narrativa, alegria de contar histórias e de palpitar nas dos outros, extrema inventividade. Tentei, nos diálogos, me valer desse aprendizado, e ficar um pouco poliglota. Mas o sotaque é inevitável. A primeira vez que consegui escrever alguma como "os home disse que apagava eu" achei o máximo. Achei que estava ponta, que meus companheiros de hambúrgueres tinham sido mestres eficientes.
Qual a situação do livro infanto-juvenil no país?
Marisa - Aí já é uma pergunta para a ensaísta, que hoje está de férias...
A universidade costuma ser pródiga em ensaístas, mas pobre de ficcionistas. Em sua opinião, por que isso acontece?
Marisa - O gênero pelo qual a universidade se expressa é o ensaio. Alguns poetas - e muitos deles excelentes - põem as manguinhas de fora, mas acho que os ficcionistas são mesmo poucos. Tenho para mim que a ficção - particularmente o romance - é um gênero meio desprestigiado. Levou um tempão para os intelectuais considerarem o romance como literatura com éle maiúsculo. Meio como a telenovela hoje ou a MPB, parece. Daí, talvez, o confronto entre a imagem de sisudez que a universidade tem de si mesma e a (des)valorização do romance. Mas é um palpite, mera opinião e, como dizia mestre Guima, "pão ou pães, é questão de opiniães..."
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