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Jornal da Unicamp 179 - Página 5
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a 7 de julho de 2002
Agora
semanal
Serviço de primeiro mundo
Com ajuda do SUS, HC oferece casa, comida e remédio a transplantados
Isabel Gardenal
Casa, transporte, cesta básica e remédio com gratuidade por um período mínimo de cem dias. É o auxílio financeiro que o Hospital das Clínicas (HC) tem oferecido fora dos muros da Unicamp a pacientes carentes e de outras cidades brasileiras submetidos a transplante de medula óssea no Hemocentro, com a ajuda do SUS (Sistema Único de Saúde). Item dos principais, a hospedagem é a Casa do Bom Pastor, em Barão Geraldo, um centro de repouso utilizado por várias instituições e montado graças à ação comunitária.
O HC mantém cada paciente no local, por mês, com verba para locação da estrutura no valor de R$ 1 mil. Mais de mil pessoas já passaram por lá, encaminhadas pela Unidade de Transplante de Medula Óssea (TMO) desde 1996, ano que iniciou esse trabalho colaborativo com a Unicamp, em regime de alojamento conjunto e de isolamento.
Quem não conseguia contar com um bom nível de tratamento em seu domicílio, hoje encontra totais chances de se recuperar na instituição, acompanhado de um cuidador, devidamente treinado pela equipe de enfermagem do Hemocentro.
Ultrapassada a fase mais crítica, pós-transplante, mesmo o paciente deixando a Casa do Bom Pastor, ele continuará a receber pelo menos cesta básica e remédios, segundo uma minuciosa avaliação da assistência social hospitalar.
"As nossas curvas de sobrevivência já são comparáveis às dos países do Primeiro Mundo", garante o diretor da Divisão de Hematologia, Cármino Antonio de Souza, hematologista do Hemocentro e ex-secretário de Estado da Saúde de São Paulo no período de 1993 a 1994.
Fatores demográficos Cármino avalia essa afirmação tendo como parâmetro um importante estudo orientado por ele, da médica Kátia de Brito, sobre a seleção de pacientes e doadores para transplante na Unicamp. Neste trabalho, do total de 1.138 candidatos ao transplante até o ano passado, apenas 235 se submeteram ao procedimento. As justificativas foram a não realização dos exames por desistência ou morte, falta de doadores compatíveis ou de condições de saúde para o transplante, aliados a razões demográficas.
De fato, chegou a surpreender o impedimento de se realizar o transplante diante do achado de que 70% dos casos tinham renda inferior a três salários mínimos e 60%, baixa escolaridade.
Ainda que os dados obtidos alimentem a conclusão de que os critérios socioeconômicos e de escolaridade sejam totalmente limitantes ao transplante, pelo menos em outros países, na verdade este fator não foi assim considerado aqui. "Do contrário, não transplantaríamos tanto como temos feito no momento. Em geral, realizamos mais de 50 transplantes por ano", informa Cármino.
Além desses aspectos, o estudo fecha com um grande paradoxo, na opinião do hematologista. "Os pacientes mais carentes foram os mais bem sucedidos no transplante, cujo risco de vida gira em torno de 20% só nos primeiros quatro meses", revela. "As causas ainda são desconhecidas, no entanto vencer a fase aguda com o apoio do HC deve ter contribuído para o resultado final."
Regulamentação de estágio é debatida
Raquel do Carmo Santos
Quando inseridos na grade curricular dos cursos de graduação como obrigatórios, os estágios têm a finalidade de contribuir para a qualificação profissional do estudante. Mesmo os que não são obrigatórios podem contribuir para o conhecimento da realidade do mercado de trabalho na sua área de atuação. Na prática, no entanto, muitas vezes este tipo de atividade acaba sendo um instrumento de abusos e desvios das funções dos alunos por parte das empresas. Preocupada com esta situação e com a finalidade de resgatar a importância do estágio na formação universitária, a Comissão Central de Graduação (CCG), desde março de 2002, criou uma subcomissão para discutir uma proposta de normatização da atividade na Universidade. Como ação prática da discussão, acontece no dia 4 (quinta-feira), no Anfiteatro da Faculdade de Engenharia Química, um workshop com os representantes da CCG e outras cinco pessoas indicadas de cada curso.
A idéia, segundo Maria Aparecida da Silva, relatora da subcomissão e responsável pela organização do evento, é trazer todos os interessados a uma unidade de pensamento. "Iremos conhecer a experiência de outras instituições como a USP e a Unesp para podermos traçar as nossas normas", explica. Além dos profissionais das universidades públicas paulistas, também virão para o encontro especialistas como Fábio de Mello, da Confederação Nacional das Indústrias e Adélia Augusto Domingues, procuradora do Ministério Público do Trabalho. A relatora explica que a procuradora Adélia deve trazer importantes contribuições no que se refere às regulamentações que estão acontecendo na região da Grande São Paulo.
Maria Aparecida relata que existe uma significativa discussão em âmbito estadual sobre a problemática dos estágios. Segundo ela, o Ministério Público do Trabalho vem realizando uma série de audiências públicas, em São Paulo, para tratar do assunto com as instituições de ensino superior. "Infelizmente diversas empresas utilizam o estudante como mão-de-obra barata. Por isso é importante que as IES (Instituições de Ensino Superior) regulamentem a realização de estágios pelos alunos de graduação". Dentro desta mesma filosofia, no dia 12 de agosto, acontece uma reunião entre as representações de todas as universidades públicas paulistas para um debate sobre o tema e, em setembro ou outubro, deve acontecer um encontro estadual sobre estágios, cuja organização está a cargo de três universidades públicas e três particulares.
Na Unicamp - Desde que começaram os trabalhos, a subcomissão de estágios já elaborou algumas diretrizes. Duas deliberações já aprovadas pela CCG estabelecem procedimentos que os estudantes devem observar. Uma delas, a de número 43/2002, dispõe sobre a autorização da coordenação do curso para a realização de estágio pelos alunos de graduação. A de número 44/2002 fala sobre diversos pontos que devem ser discutidos nas unidades, além do encaminhamento de propostas para a subcomissão num prazo máximo de 45 dias contados a partir de 9 de maio. Estes mesmos pontos também serão discutidos durante o workshop. São eles: quais atividades serão válidas como estágio curricular, carga horária semanal de estágio, jornada de trabalho, em que momento do curso deve acontecer o estágio e validade do termo de compromisso, dentre outros.
Maria Aparecida explica que todas as discussões devem ser tratadas de forma geral. "A CCG aprovará um conjunto de regras gerais e cada unidade irá definir regras complementares que considerar mais importantes". Ela esclarece que as normas serão flexíveis para acomodar todos os cursos. "É preciso levar em consideração a realidade de cada curso, sem nunca perder de vista que os estágios devem ser estabelecidos como elemento de interação universidade-sociedade e que as atividades desenvolvidas estejam em consonância com os objetivos do curso."
Outra iniciativa é elaborar um banco de dados para estágio atrelado aos dados acadêmicos do estudante. Desta forma, será possível identificar se as atividades são compatíveis com o curso. Atualmente este trabalho é feito manualmente e com certa dificuldade, relata Maria Aparecida. A criação de uma home page dentro da página da Diretoria Acadêmica (DAC) - contendo legislação, regras e deliberações sobre estágios - também é outra medida que deve ser implementada pela subcomissão. No momento, estas ações aguardam apenas definições técnicas, segundo a professora.
Maria Aparecida lembra que uma das principais etapas é conscientizar o aluno da importância deste tipo de regulamentação. Ela garante que os estudantes estão sendo informados sobre todos os procedimentos. "O mais importante, no entanto, é procurar se esclarecer e tomar cuidado para não se deixar explorar."
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