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Jornal da Unicamp 180 - Página 3

10 a 21 de julho de 2002
Agora semanal


Coletor alternativo barateia
custo de energia solar

Maria Alice da Cruz

A falta de energia pode não ser mais um empecilho ao banho de moradores de casas térreas. A arquiteta Jane Tassinari Fantinelli garante que durante o período de abril a junho deste ano precisou acionar o chuveiro elétrico apenas dez vezes, garantindo economia na taxa de consumo de energia. Nesse período, seus banhos eram aquecidos pelo calor do sol, graças a um sistema de aquecimento solar alternativo de água instalado de próprio punho. A operação, para a qual Jane contou com o auxílio de um mestre de técnica hidráulica e mais dois ajudantes, prevê a criação de um sistema alternativo de aquecimento solar apresentado e defendido em seu projeto de mestrado na Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp supervisionado pelo professor José Thomaz Vieira Pereira. A experiência tem como objetivo difundir a técnica de construção de coletores alternativos entre a população de baixa renda.

Jane explica que o coletor é uma malha de PVC coberta com 4 centímetros de concreto, direcionado para duas caixas d’água – uma térmica e outra fria. O isolamento da caixa transformada em reservatório de água quente e do coletor foi feito com jornais velhos e isopor. A conversão tem um custo baixo e fixo, segundo Jane, e, além disso, possibilita o religamento de outros eletrodomésticos ou até mesmo o investimento na iluminação da casa. “O que economiza com o aquecimento solar, o morador pode comprar, por exemplo, mais lâmpadas para melhorar a iluminação da casa”, orienta. Para a instalação do sistema em uma residência de Campinas ela dispôs de R$ 518, sendo R$ 300 para o coletor de concreto, R$ 129 para a caixa térmica e R$ 89 para a ligação hidráulica. O coletor pode chegar a R$ 400, se a laje for coberta com telha transparente.

Mais de mil latas de refrigerantes vazias tiveram papel importante no estudo de Jane. Uma a uma, elas foram transformadas em aletas e fixadas em uma rede de metal, também manualmente montada, colocada sobre a laje. As aletas têm a função de captar a energia recebida do sol, repassá-la para o concreto e depois para o tubo de PVC. Chapas de isopor permitiram o isolamento entre as aletas e a laje. “Colocamos isolante neutrol para impedir que a água escorra e para formar camada seletiva que vai absorver esses raios de sol e retornar essa chapa superquente”, esclarece.

As medições de temperatura foram realizadas várias vezes durante o dia. Entre 1º e 6 de fevereiro de 2002, a água do coletor chegou a 40, 49, 46, 47 e 52 graus centígrados. Os números foram tirados do meio, do topo e do fundo da caixa. A arquiteta chegou a encontrar uma temperatura de 44 graus às 14 horas. Nos 30 dias do mês de março, às 16 horas, o termômetro chegou a marcar 50 graus. “Tenho água quente o tempo todo. Às 8 horas, o termômetro marca 32 graus, às 20h30 chega a 46 e até as 7 horas da manhã continua com temperaturas altas”, ilustra.

Jane defende que no Estado de São Paulo o projeto é exeqüível. Somente nos dias em que o vento esteve muito forte, o telhado começa a esfriar e compromete o aquecimento da água, que não chega a ficar tão fria, mas isso deve ser resolvido com a aquisição de uma telha transparente, que formaria uma estufa. “A energia penetraria na telha transparente e ficaria sendo absorvida pela placa de concreto”, revela.

Todas as informações obtidas no projeto de mestrado devem ser colocadas em prática no doutorado já iniciado na mesma Faculdade de Engenharia Mecânica. Sob o título A difusão de tecnologia solar de baixo custo na moradia de interesse social, o novo projeto tem como intuito o aprimoramento das técnicas apreendidas no mestrado e a aplicação em habitações populares em fase de pré-construção.